Edição 386 | 19 Março 2012

IHU Repórter

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Thamiris Magalhães

“A vida é um eco. Se você não gosta do que está ouvindo, cuide para ver o que você está emitindo”. Com esta frase, o professor do curso de Administração da Unisinos Antonio Brasil Medeiros Silva inicia a entrevista que concedeu pessoalmente à IHU On-Line. Há 35 anos trabalhando na instituição, o docente afirma que foi nela que viveu a fase madura de sua vida. Natural de Santiago-RS, admite ter um coração mole e ser, muitas vezes, facilmente influenciado pelo emocional. “Sou um sentimental por natureza. Tenho um apego muito grande às pessoas, à família; uma ligação muito forte com os seres humanos”. Conheça um pouco mais da sua história.

 

Autodefinição – Sempre fui muito esforçado e dedicado às coisas que faço. Então, eu diria que sou um homem persistente. O meu maior defeito, talvez, seja ter um coração mole. Às vezes eu sou uma pessoa facilmente influenciável pelo coração. Sou um sentimental por natureza. Tenho um apego muito grande às pessoas, à família; uma ligação muito forte com os seres humanos.

Frase – “A vida é um eco. Se você não gosta do que está ouvindo, cuide para ver o que você está emitindo”. Ou seja, tudo o que você emite, retorna em formato de eco. E, às vezes, de forma ampliada. E a vida eu acho que é isso mesmo: tu recebes de volta aquilo que tu mandaste.

Origem – Nasci no dia 29 de janeiro de 1944. Sou natural de Santiago-RS. Vim para Porto Alegre com nove anos de idade. Tenho dois irmãos. Uma irmã, a Marta Ione, quatro anos mais velha do que eu; e um irmão, nove anos mais novo. Meu pai, Brasil Silva, figura de uma sabedoria incrível, teve uma passagem por esse mundo, a meu ver, curta. Faleceu aos 65 anos de idade. Ele era um homem de uma envergadura moral invejável. E minha mãe, Jaci, também natural de Santiago, era uma pessoa fantástica. Viveu muitos anos na fazenda dos meus avós, onde aprendeu a ler e escrever em casa, já que naquele tempo era assim. Ela faleceu em 2007, tendo nascido em 1923. Ou seja, foi longe... Creio que meu pai também poderia ter ido. 

Família - Sou casado há 41 anos, com Sandra Elisabete Silva. Temos quatro filhos. O mais velho, Brasil Silva Neto (tem o nome do meu pai), é médico urologista e também professor na UFRGS, na disciplina de urologia. O meu segundo filho, Tiago Brasil, é formado em Administração pela Unisinos, e trabalha na Liquigás. O terceiro filho é o Guilherme Brasil, fez jornalismo também aqui e trabalha no Kazuka. E a minha caçula, Luciana, é formada em Biologia Marinha e está fazendo o mestrado na UFRGS. Tenho dois netos. Uma netinha, de um ano e meio e um neto, com dois anos. Eles começaram a chegar e espero que venham mais! 

Formação – Sou bacharel em Administração de Empresas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e bacharel em Administração Pública, também pela mesma universidade. Em 1975, comecei o mestrado em Administração na UFRGS. Fiz quase todos os créditos, mas a minha atividade profissional fora do ambiente acadêmico me exigia muito. Foi quando comecei a viajar bastante, fui abandonando o mestrado e acabei não fazendo a dissertação. E isso é interessante, porque a Unisinos me chamou para trabalhar aqui, em 1977, justamente porque eu era mestrando. Depois acabei saindo de licença da Unisinos e, quando retornei, perguntaram-me do mestrado e me cobraram o certificado. Disse que não tinha, que havia feito os créditos e não a dissertação. Pediram para eu ver o que era possível ser feito e que valor tinha o meu curso. E descobri, como já tinha passado muito tempo, que o valor era zero. Então, fui fazer de novo o mestrado. Fiz, em 1998, no convênio da Unisinos com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio. 

Trabalho - Eu era executivo do Banco do Estado do Rio Grande do Sul - Banrisul. Trabalhei em diversas áreas. A minha primeira atividade relacionada com a profissão de administrador foi a de analista de organização e métodos. Na época era uma profissão nova. Depois, ainda dentro da área de organização e métodos, era técnico responsável pela estrutura organizacional do banco. Posteriormente, até pelo meu vínculo com a universidade, acabei na área de treinamento e desenvolvimento de Recursos Humanos. Foi nessa área que tive a grande experiência, que hoje é uma das coisas que mais me credencia para a disciplina que eu leciono na Unisinos, que é negociação. Fui negociador do banco junto ao Sindicato dos Bancários durante uns quatro anos, representando a instituição patronal, antes do sindicato dos bancos. Então, eu tinha uma responsabilidade muito grande, porque o que acontecesse nessa minha negociação de certa forma balizaria o que iria acontecer mais adiante. Essa minha experiência foi muito forte. E até hoje eu ainda consigo passar para meus alunos muita coisa que vi, presenciei, vivenciei e aprendi nesse período. Terminada essa fase em RH, atuei na área de produtividade mercadológica de agências, acompanhando o modelo que foi instituído anteriormente, por uma consultoria externa em que eu participei. Posteriormente, meu último trabalho foi a montagem do cartão de crédito bandeira Visa, que até hoje está no ar. Em dois anos, minha equipe e eu montamos a estrutura do cartão. Quando ele funcionou, resolvi então que minha carreira como executivo estava concluída. Logo, pedi para me aposentar em 1994. E passei a me dedicar mais à universidade.

Academia - Em 1977, comecei a lecionar. Em agosto de 2012 completo 35 anos de vínculo com a Unisinos. Quando entrei aqui existia outro modelo de constituição do quadro de professores. A grande maioria deles era profissional que lecionava. Hoje, temos o contrário: professores profissionais. Existem professores que nunca trabalharam em uma empresa como gestores ou coisa assim. Eles são acadêmicos. Ademais, já lecionei em cursos de especialização na PUCRS; no Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN) e na Faculdade Porto-Alegrense (Fapa), também na pós-graduação. E uma das coisas que me deixa muito contente é o fato de eu já ter sido inúmeras vezes professor homenageado e paraninfo de turma. Isso é muito importante para mim e reflete o retorno positivo do trabalho que faço.

Cargo - Fui chefe de departamento na Unisinos. Eu era bem novo na instituição quando fui chefe do Departamento de Administração. Foi quando iniciei uma mudança importante na constituição do quadro de professores. Cada vez que eu precisava de um professor novo, buscava no grupo de mestrandos da UFRGS. Recentemente fui membro do Consun e da Câmara de Graduação, como representante dos professores. Hoje, além da docência, sou diretor administrativo de uma cooperativa de crédito, que se chama Banricoop, que tem praticamente seis mil associados. E esse meu trabalho é muito gratificante, uma vez que trago muitas experiências de lá para conversar com os meus alunos.

Disciplina - A disciplina que leciono na instituição, que é Negociação, é obrigatória para o curso de Administração e optativa para os demais cursos da área 5, sendo também optativa para as engenharias. Leciono ainda para a pós-graduação e para os MBAs sempre que possível. Às vezes, as coincidências de horário não permitem. 

Lazer – Já tive diferentes hobbies. Embora eu não seja muito competente, adoro carpintaria. Como eu moro atualmente em apartamento, esse meu hobby desapareceu. Ainda adoro pescar na beira do mar. 

Livro - Estou lendo um livro maravilhoso. O autor se chama Michael J. Sandel. É um professor norte-americano, da Universidade de Harvard. E o assunto dele é ética. O título do livro é: Justiça – o que é fazer a coisa certa. Então, ele discute a ética pregada pelos filósofos. O autor não tem respostas, mas muitas perguntas. O tema central são as questões éticas da sociedade. Além desse, existem outros vários livros que li e gostei muito. Na minha juventude, por exemplo, li muita ficção científica. Gostei muito dos livros do Noah Gordon, principalmente O Último Judeu e O Físico. Dois livros interessantíssimos. Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, também é um livro marcante.

Filme – Gosto muito do filme O Quarto Poder, de Costa Gravas. Outro que me marcou foi o Muito além do Jardim, de Hal Ashby.

Religião – Sou oficialmente católico, batizado na Igreja Católica. Eventualmente vou à missa, cumpro com os rituais próprios da religião, mas não sou um grande frequentador. Acredito muito em Deus, até converso com Ele de vez em quando. Mas não sou muito religioso. 

Sonho - Meu sonho é ter uma velhice tranquila, curtindo os meus netinhos, sem maiores ambições. Creio que o que eu conquistei em termos materiais é o suficiente.

Viagens - Já viajei para a Europa várias vezes. Conheço boa parte do mundo, mas também não tenho sonhos mirabolantes de ir para este ou aquele lugar. Tinha vontade de conhecer Jerusalém, por todo o significado que tem, mas a minha mulher não compartilha dessa vontade. E viajar sozinho não tem graça. Talvez eu ainda viaje para o Chile ou Peru, já que conheço muito pouco do nosso continente. Da América do Sul conheço apenas Buenos Aires. 

Unisinos - Tem uma grande representatividade para mim. Eu dediquei a minha juventude praticamente toda a uma instituição, que foi o Banco. Mas na minha fase madura, que eu considero após os 30 anos, passei uma boa parcela dentro desta instituição. Tenho um respeito muito grande pela Unisinos, por tudo o que ela representa. Posso dizer que tenho um laço afetivo importante com ela.

 

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