Edição 381 | 21 Novembro 2011

Televisão interativa e internet: desafios para a convergência digital

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Andres Kalikoske e Naiá Giúdice

A televisão interativa é promessa parcialmente cumprida pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital - SBTVD, uma vez que, para atingir níveis satisfatórios de interatividade, o telespectador necessita de condições específicas e dispendiosas, que incluem, no mínimo, banda larga de alta velocidade e conexão entre o seu aparelho televisor e a internet.

O que ocorreu efetivamente, desde a digitalização da televisão, foi uma melhoria na qualidade do áudio e vídeo, além da possibilidade de captação do sinal em mídias digitais móveis. Nesse sentido, toda expectativa em torno do lançamento comercial do SBTVD, em 2007, transformou-se em frustração, especialmente para o consumidor interessado em estabelecer um canal direto com as emissoras, interagindo e participando, ainda que de modo restrito.

O problema atual se agrava porque, mesmo os televisores que contam com o Ginga, middleware responsável pela mediação entre os aplicativos que são enviados pelas emissoras e o sistema operacional do SBTVD, possuem condições de interatividade insignificantes. Em uma telenovela, por exemplo, os recursos se limitam ao resumo de capítulos, perfil dos personagens, imagens de alguns atores e, quando muito, enquetes com respostas pré-estabelecidas. Um segundo obstáculo é que, até o presente momento, a interatividade na TV aberta não está disponível em todos os estados brasileiros. São Paulo e Rio de Janeiro estão mais bem atendidos, mas em mercados também importantes, como o do Rio Grande do Sul, apenas a Globo oferece o serviço, através de sua afiliada RBSTV.

Na prática, os programas que oferecem interatividade contam um indicador, convidando o telespectador a acessar o conteúdo disponibilizado. Trata-se de um logotipo com animação discreta, cuja aparição geralmente ocorre na parte superior direita da tela do televisor. Quando acessado, inicia-se a exibição do aplicativo oferecido pela emissora naquele momento. Ainda é cedo para antecipar qual será o modelo definitivo da televisão interativa, mas pode-se observar que as experimentações atuais apontam para a diversidade de aplicativos, que, apesar da escassez do conteúdo, são funcionais e esteticamente atrativos. Os aplicativos da Globo e da Record, por exemplo, são vinculados aos conteúdos exibidos na TV. Nesse modelo de interatividade, cada programa possui sua aplicação interativa específica. O modelo do SBT, chamado Portal de Interatividade, diferencia-se dos demais, oferecendo uma interface semelhante aos websites. O serviço está disponível durante as 24 horas do dia e proporcionando acesso aos destaques da programação, informações, enquetes e promoções. Ainda, possui uma seção de notícias, atualizada independentemente do que está sendo veiculado na TV.

Desde o acelerado desenvolvimento da internet, o mercado televisivo passou a identificar a necessidade de reestruturar seu tradicional modelo de negócio. O inverso também ocorre, e as mídias digitais têm avançado consideravelmente nesse sentido. O site de compartilhamento YouTube, das Google Inc., por exemplo, passou a incorporar publicidade nos audiovisuais que disponibiliza. Diferentemente de seu passado recente, quando seus anunciantes eram escassos, agora oferece espaços dinâmicos diversos, tanto em sua página inicial como no rodapé dos audiovisuais, quando estão em exibição. Ainda, tem firmado parcerias com gravadoras, clubes de futebol e produtoras de cinema a fim de transmitir apresentações, eventos esportivos e longas-metragens em alta definição. Ainda pouco explorada pela televisão interativa, a cultura participativa que garante o sucesso ao YouTube organiza seus conteúdos em catálogo (possíveis de serem acessados a qualquer instante), promove promoções entre os usuários que fornecem conteúdo, atraindo novos participantes e novas audiências.

Nesse sentido, conclui-se que a personalização seria uma das possibilidades de a tradicional televisão se reinventar, mantendo-se atrativa aos usuários mais exigentes. O YouTube muito tem a ensinar para a indústria televisiva e seus novos negócios. A viabilidade está no melhor desenvolvimento e popularização de tecnologias já existentes, como o Internet Protocol Television - IPTV, onde todo conteúdo é transmitido via rede telefônica, permitindo tráfego de dados, voz e vídeo. O sistema opera apenas em streaming, porém com a garantia de uma imagem de alta qualidade. Trata-se de uma reestruturação capaz de transformar o telespectador em usuário ativo, oferecendo-lhe, via rede, conteúdos em fluxo pré-estabelecido, como atualmente ocorre, mas que também estariam disponíveis para consumo a qualquer momento. A publicidade direcionada ao gosto do consumidor é outra opção para aquecer o comércio local, o que não quer dizer uma supervalorização dos produtos regionais, mas sim oferecer serviços próximos, como acoplado ao anúncio de um chocolate o endereço do comércio mais próximo onde o usuário poderá degustá-lo.

O longo caminho que a TV digital ainda vai percorrer deve delinear não somente os rumos da interatividade, mas também do potencial publicitário desse modelo de negócio. Aplicativos internos disponibilizados nos próprios televisores também já estão disponíveis. Oferecem basicamente conteúdos da internet (especialmente do YouTube), com qualidade de imagem que muito deixa a desejar. Para o telespectador, permanece a frustração e a certeza de que, para o serviço vingar, a televisão interativa ainda precisa oferecer muito mais.

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