Edição 380 | 14 Novembro 2011

IHU Repórter

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Thamiris Magalhães

“Ainda que vivamos mais de 100 anos, nunca devemos deixar de aprender”. Para Guilherme Luís Roehe Vaccaro, essa frase tornou-se inesquecível e pode ser dita como sendo aquela que o define. Trabalhando há seis anos na Unisinos, o docente frisa que o seu maior sonho é daqui a alguns anos poder olhar para trás e perceber como o Brasil melhorou. “Essa é uma das coisas que me motiva a levantar todo o dia de manhã”. Feliz, Vaccaro afirma que sua sorte foi ter casado com a sua melhor amiga, que foi sua colega de faculdade. Confira a entrevista com o professor, concedida pessoalmente à IHU On-Line.

Origem – Sou natural de Porto Alegre. Passei um período, quando criança, em Veranópolis, uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul, terra natal de minha mãe. Ela mora aqui e meu pai, que era de Marau, morou durante muitos anos em Porto Alegre, mas já é falecido. Tenho um irmão, Fernando, quatro anos mais velho que eu, que mora em Porto Alegre e é médico urologista. Hoje, moro com minha esposa, Debora Azevedo, e duas gatas. Não temos filhos.

Autodefinição – Sou uma pessoa honesta, séria, trabalhadora, obstinada, às vezes, obstinada demais em querer ver as coisas acontecerem. Então, eu me enxergo como alguém que procura estar o tempo inteiro disponível para auxiliar outros a realizar algo. Constantemente, questiono-me entre aquilo que deveria ser o ideal e o que é o real. Mas, me vejo como uma pessoa, sobretudo, feliz.

Destino – Minha esposa e eu já somos casados há seis anos; nos conhecemos há quase 22. Fomos colegas de graduação e, quando nos formamos, cada um seguiu a sua vida, com rotas completamente diferentes. Há quase sete anos atrás, nós nos reencontramos, começamos a namorar e casamos. É uma história interessante porque nós realmente nos conhecemos há 21 anos e meio. Tenho a sorte de ter casado com a minha melhor amiga.

Formação – Sou bacharel em matemática aplicada, fiz minha graduação no período de 1990 a 1993 e, e depois disso, fiz um ano do curso de Estatística. Notava que fazia falta algo que me aproximasse mais do mundo real e fiz o mestrado em Engenharia de Produção, que durou de 1995 a 1997. Toda a minha formação foi realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. De 1998 até 2001 fiz o doutorado em Ciência da Computação e trabalho com a área de modelagem de problemas. Ademais, trabalho como consultor de empresas desde 1998.

Docência – Em 1994, comecei a dar aula na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS onde fiquei até final de 2004. No início de 2005, comecei a lecionar na Unisinos, onde sou muito feliz. Leciono para os cursos de Engenharia de Produção, no mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas e no Mestrado Profissional em Gestão e Negócios. Além disso, leciono em alguns cursos de extensão, especialização e MBA.

Projetos – Estou gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Sou responsável pelo acompanhamento de vários dos projetos que estão sendo realizados aqui na Unisinos. Então, indiretamente acabo tendo uma relação com os coordenadores de vários trabalhos. Também coordeno um projeto estratégico na Unisinos, que é vinculado ao Laboratório de Ensaios de Confiabilidade e, além disso, tenho outras tarefas como pesquisador. Hoje, tenho um projeto, junto ao Hospital Mãe de Deus, em que estudo a inovação em ambientes hospitalares. Trata-se de um trabalho que tem duração de cinco anos. Ao final, devemos entregar dez estudos diferentes para beneficiar não só o hospital, mas a sociedade. Estamos no nosso quarto estudo. Além desses, tenho outro projeto que estuda a questão de biocombustíveis, que analisa como as cadeias de produção de etanol e biodiesel no estado são e como podem ser mais competitivas.

Coreia do Sul – Passei cinco meses na Coreia do Sul junto de outros colegas da Unisinos, em um movimento importante feito pela universidade. Nós fomos em março deste ano e voltamos em agosto. Esse foi meu estágio pós-doutoral. Uma experiência de vida. Em primeiro lugar, porque eu nunca imaginei viajar para um lugar tão distante, literalmente do outro lado do mundo. É uma experiência muito rica. Depois, porque se trata, além de tudo, de um país que tem uma cultura muito diversa da nossa, que não chega a ser parecida com a japonesa e nem com a chinesa. É diferente. A oportunidade que a Unisinos me deu de vivenciar e passar seis meses no país foi ímpar. Sem contar, é claro, toda a parte técnica e de formação profissional que, sem dúvida, também foi muito importante. Tive a oportunidade de ir para uma das melhores universidades daquele país, a mais antiga, a Sungkyunkwan University (Skku), que foi fundada em 1398. Uma instituição que é mais antiga que o próprio Brasil enquanto país. Além disso, essa academia é realmente muito interessante. Primeiro, pelo seu histórico, por ter mais de 600 anos, e por ser uma instituição que tem hoje uma parceria muito forte com uma grande empresa, que é a Samsung. Então, ela tem um modelo de gestão e inovação muito inspirador.

Lazer – Gosto de ouvir música, caminhar, ler bastante. Infelizmente, não tenho tido tanto tempo quanto gostaria de ter. Para mim, uma das melhores coisas que se tem a fazer é tomar um chimarrão, sentado num parque, com um livro embaixo do braço. Essa é uma das coisas que gosto muito de fazer. Adoro viajar também. Para mim, essa experiência de ter ido para outro país foi melhor ainda, porque uniu uma coisa que eu gosto muito de fazer à minha atividade profissional. Nos fins de semana, quando possível, minha esposa e eu fazemos uma viagem para algum lugar próximo ou certamente estamos em algum lugar caminhando e tomando um chimarrão.

Autor e livros – Têm vários. Por exemplo, quando se trata de história de ficção, gosto muito da Jane Austen, uma autora inglesa que tem histórias muito interessantes. Aprecio muito uma autora inglesa recente chamada Kate Mosse, que também escreve livros de ficção. Gosto de ler muitos livros sobre curiosidades históricas ou estatísticas. Um livro que li há pouco tempo foi O andar do bêbado, que é de um autor chamado Leonard Mlodinow, que mostra como uma série de coisas da estatística está presente em nosso cotidiano.

Filme – Gosto bastante de filmes mais antigos. Então, para mim, o melhor filme de todos os tempos ainda é My Fair Lady, que é um longa bastante antigo. Aprecio muito todos os filmes com a Audrey Hepburn. Gostei também do A noviça rebelde e Moça com brinco de pérola.

Política no Brasil – É um problema sério. O Brasil como país ainda é muito jovem. As pessoas precisam aprender a ter o senso de coletivo. Faço um paralelo com a vivência que tivemos na Coréia, onde muito se perguntava se uma determinada ação que o governo iria fazer ou não seria boa para o todo. E as pessoas, em função daquilo que é bom para o coletivo, fazem ou não fazem. No Brasil, a nossa política ainda é bastante permeada pelos interesses individuais, pessoais. Nosso país precisa rapidamente ter um plano de governo que dure mais do que um mandato; que dure 20 ou 30 anos. Creio que o Brasil precisa muito fortemente rever os seus valores éticos e morais, principalmente no que tange à política. Hoje, o principal problema é a corrupção. E, a parte mais triste disso, é que nada do que estou dizendo é, de fato, novidade. Lembro-me de quando era pequeno e via o meu pai falando exatamente sobre as mesmas coisas, há 30 anos ou mais. É triste vermos que uma geração passou e, ainda assim, discutimos os mesmos problemas sem uma visão muito clara de um avanço. No entanto, a implementação de uma nova visão é muito complexa. Não se faz com 29 partidos políticos. Então, entendo que a reforma política é um elemento extremamente importante para o país e que precisa acontecer em curtíssimo prazo.

Religião – Católico praticante, convencido de minha fé. Talvez, infelizmente, não seja tão praticante como gostaria de ser.

Sonho – Seria daqui a 40 anos poder olhar para trás e perceber como o Brasil mudou e melhorou. Essa é uma das coisas que me motiva a levantar todo o dia de manhã. Acredito que isso seja o suficiente para um sonho.

Unisinos – Representa, hoje, a minha casa. Minha esposa trabalha aqui; eu já estou aqui há seis anos. Gosto muito deste ambiente. Praticamente todos os meus amigos estão aqui. Ela representa o lugar onde eu prefiro passar a maior parte do meu tempo. É o ambiente onde eu me sinto bem, onde encontro os meus desafios para melhorar e onde tenho chance de poder também contribuir com os outros. É hoje o lugar que me faz, talvez, mais feliz, durante seis dias da semana. E é onde eu encontro muitas oportunidades. Se eu precisasse definir a Unisinos de algum jeito, creio que seria dessa forma: um lugar que oferece oportunidades.


IHU – Acredito que o Instituto cumpre um papel importantíssimo. Percebo que o IHU cumpre um papel muito importante, porque tem uma representatividade, um protagonismo, seus canais de comunicação que são revistas ou o próprio site, que as pessoas leem e podem acessar. E o Brasil é muito carente disso. Se nós quisermos realmente desenvolver um país melhor, as pessoas precisam ter mais consciência dessa formação e visão integral do ser humano. Eu vejo o Instituto como um ator muito importante nesse sentido.

Frase – Tem uma frase que eu gosto muito e nunca esqueci. Ouvi quando era muito pequeno, estava terminando minha primeira série do primeiro grau e foi a minha então professora que disse: “Ainda que vivamos mais de 100 anos, nunca devemos deixar de aprender”. Então, se vale alguma coisa, creio que seja isso. Devemos continuar sempre aprendendo e buscando ser melhor.

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