Edição 378 | 31 Outubro 2011

Biografia

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Fábio Di Clemente

Merleau-Ponty nasce em 14 de março de 1908, em Rochefort sur Mer, em França. Falece em Paris aos 53 anos, em 3 de maio de 1961, vítima de um ataque cardíaco. Estuda e gradua-se em filosofia na École Normal Supérieure em 1930; instituição onde conhece Jean Paul Sartre. Depois de exercer o cargo de professor nos Liceus de Beauvais (1931-1933) e de Chartres (1934-1935), é nomeado “agrégé-répétiteur” na École Normal Supérieure, onde ensina de 1935 a 1939.

Com a eclosão da guerra, serve o exército francês como oficial de infantaria. Desmobilizado o exército francês por causa da ocupação alemã, volta a ensinar em alguns Liceus em Paris. Durante a Segunda Guerra Mundial, com Sartre, forma um pequeno grupo chamado “Socialismo e liberdade”, para lutar contra a ocupação nazista. Terminada a guerra, passa a lecionar na Universidade de Lyon (1945). Com Sartre, em 1945 funda o importante periódico político-literário “Les Temps Modernes”; iniciativa editorial que causa em seguida entre os dois amigos tensões, silêncios, afastamentos. Em 1948, novamente com Sartre, Merleau-Ponty funda um novo partido político socialista, o RDR (Reunião Democrática Revolucionária), com o intuito de não se identificar nem com o comunismo, nem com o anticomunismo. O partido teve pouco êxito diante do então dominante PCF (Partido Comunista Francês).

De 1949 a 1952, leciona na Sorbonne. Desse ensino resultam cursos de grande abrangência, com ênfase em questões de relevância psicológica, psicanalítica, pedagógica, antropológica e sociológica. Em 1952, obtém a cátedra de filosofia no Collège de France, a maior instituição universitária francesa, onde leciona até o ano de sua morte. A filosofia de Merleau-Ponty alimenta-se, entre outras tantas fontes, do diálogo contínuo com a chamada filosofia clássica francesa e com Edmund Husserl e Martin Heidegger, assim como das pesquisas provenientes de outras áreas, entre as quais cabe destacar a psicologia (em particular, os estudos da psicologia da forma e da psicologia da criança), a psicanálise, a linguística (em particular, a de Fernand de Saussure), as pesquisas da física moderna e em âmbito biológico (em particular, os estudos zoológicos de Jakob von Uexküll, de anatomia do comportamento de George Ellett Coghill, de embriologia do comportamento de Arnold Gesell e Catherine Strunk Amatruda).

Como muitos outros jovens intelectuais franceses do final dos anos 30, interessa-se pela dialética de Hegel e do jovem Marx, cujos escritos conduzem a voltar, após a Primeira Guerra Mundial, à questão do humanismo. Mas, como poucos, empreende o caminho da “paciência do conceito”, para poder pensar o “conceito sem destruí-lo” nas várias áreas, como as das ciências naturais, sociais e humanas, da literatura, das artes plásticas, do cinema. Diante do “discurso confuso” da história, tanto da história das ideias como dos povos, lida com as descobertas científicas, reabilitando o diálogo com as “provocações” da ciência; atravessa as promessas contidas num “humanismo em expansão”, contra um “humanismo de compressão”, superando até mesmo o dualismo excludente interno à alternativa entre violência e não violência, entre valores e fatos, na vertente da violência capitalista e da violência comunista; enfim, persegue um grande projeto antidualista e antirreducionista, voltando até a pintura de Leonardo Da Vinci: pensada na obra do gênio italiano explicitamente sob forma de filosofia, essa pintura se tornou – ao ver do filosofo francês – o anúncio de uma frequentação dos inúmeros lados da Natureza, entendida como “solo” (Boden) da nossa relação antidualista e antirreducionista com os outros seres e entes. A fecundidade contida na  abrangência da interrogação merleau-pontiana pode ser apreciada hoje não apenas nas questões centrais da Filosofia, mas também em relação às ciências e a todos os outros saberes. Se, no passado, foi muito menos conhecido do que o amigo Jean-Paul Sartre, sobretudo desde as últimas três décadas, Merleau-Ponty é unanimemente considerado como uns dos maiores pensadores do século XX pela sua leitura crítica ‘radical’ da condição humana, cujo ‘impensado’ ainda precisa ser pensado.


Autor: Prof. Dr. Fabio Di Clemente (UFMT)




Principais escritos de Merleau-Ponty (primeiras edições)

La structure du comportement, Paris, Presses Universitaires de France, 1942.

Phénoménologie de la perception, Paris, Éditions Gallimard, 1945.

Humanisme et terreur. Essais sur le problème communiste, Paris, Éditions Gallimard, 1947.

Les aventures de la dialectique, Paris, Éditions Gallimard, 1955.

Éloge de la philosophie. Et autres essais, Paris, Éditions Gallimard, 1960.

Signes, Paris, Éditions Gallimard, 1960.

L’œil et l’esprit, Paris, Éditions Gallimard, 1964.

Sens et non-sens, Paris, Éditions Nagel, 1966.

Résumés de cours. Collège de France, 1952-1960, Paris, Éditions Gallimard, 1968.

Le visible et l’invisible, texte établi par Claude Lefort, Paris, Éditions Gallimard, 1979.

Merleau-Ponty à la Sorbonne. Résumé de cours 1949-1952, Paris, Éditions Cynara, 1988.

La prose du monde, texte établi par Claude Lefort, Paris, Éditions Gallimard, 1992.

La nature. Notes de cours du Collège de France, textes établis et annotés par Dominique Séglard, Paris, Éditions du Seuil, 1995.

Notes de cours. 1959-1961, texte établi par Stéphanie Ménasé, Paris, Éditions Gallimard, 1996.

Parcours, 1935-1951, édition établie par Jacques Prunair, Lagrasse, Éditions Verdier, 1997.

Notes de cours sur l'origine de la géométrie chez Husserl. Suivi de Recherches sur la phénoménologie de Merleau-Ponty, Paris, Presses Universitaires de France, 1998.

Parcours deux, 1951-1961, édition établie par Jacques Prunair, Lagrasse, Éditions Verdier, 2000.

Causeries. 1948, textes établis et annotés par Stéphanie Ménasé, Paris, Éditions du Seuil, 2002.

Deux inédits sur la musique, dans Merleau-Ponty. Non-philosophie et philosophie. Chiasmi International. Publication trilingue autour de la pensée de Merleau-Ponty, 2002, nouvelle série, numéro 3, Éditions J. Vrin (France), Éditions Mimesis (Italie), University of Memphis (États-Unis) et Clinamen Press Ltd. (Royaume Unis).

Le monde sensible et le monde de l’expression. Cours au Collège de France, 1953 (B.N.F., vol. X, MF 9848). Extrait de la quatorzième leçon. Edité par Emmanuel de Saint Aubert et Stefan Kristensen. Introduction par Stefan Kristensen. Dans: Merleau-Ponty. Philosophie et mouvement des images. Chiasmi International. Publication trilingue autour de la pensée de Merleau-Ponty, 2010, nouvelle série, numéro 12, Éditions J. Vrin (France), Éditions Mimesis (Italie), University of Memphis (États-Unis) et Clinamen Press Ltd. (Royaume Unis).



Obras em português:

Humanismo e Terror. Rio de Janeiro:  Tempo Brasileiro, 1968.

Textos selecionados. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Coleção Os Pensadores).

Elogio da Filosofia. Lisboa. Guimarães Editores. 1986.

O primado da percepção e suas consequências filosóficas. Campinas: Papirus Editora, 1989.

Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

A prosa do mundo. São Paulo: Cosac Cosac&Naify, 2002.

O olho e o espírito. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (3ª  ed.).

A Estrutura do Comportamento. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (2ª  ed.)

Psicologia e pedagogia da criança. Cursos da Sorbonne (1949-1952). São Paulo: Martins Fontes, 2006.

A Natureza. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

As Aventuras da dialética. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2006.

O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2007 (4ª  ed.)



Colaboração: Fabio Di Clemente (UFMT) 

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