FECHAR
Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).
Patricia Fachin
A busca por recursos naturais e terras agrícolas tem causado o decrescimento das florestas tropicais no mundo. A Mata Atlântica brasileira, por exemplo, conserva menos de 15% da floresta nativa e, segundo o especialista no assunto, Renato Marques, as políticas de preservação às áreas conservadas ainda são “tímidas”, considerando a importância da mata para a população que vive em seu entorno. “Ela representa, entre outras coisas, importante fonte de água potável para muitas populações ao longo da costa brasileira”. De acordo com Marques, a Mata Atlântica “vem sendo frequentemente invadida por ‘empreendimentos urbanos’ ou pelas populações desfavorecidas que buscam onde morar, mas que invadem áreas de risco”. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, ele enfatiza que as políticas públicas, além de preservar as florestas, devem conscientizar a população a conservar a biodiversidade das matas. “Um amplo trabalho de educação ambiental deve sem implementado, sobretudo, junto aos ‘pequenos cidadãos’ para que eles reconheçam a importância da proteção das florestas existentes e a restauração daquelas degradadas”.
Renato Marques é doutor em Ecologia Florestal pela École Nationale Du Génie Rural e atualmente leciona na Universidade Federal do Paraná – UFPR, onde é vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são as características da Mata Atlântica e o que a difere de florestas tropicais como a Amazônica?
Renato Marques - O bioma Mata Atlântica engloba uma ampla gama de florestas com características bem distintas como, por exemplo, entre outras, a Floresta de Araucária, a Floresta Estacional e a própria Floresta Atlântica; esta última mais restrita à região costeira desde o Nordeste até o Sul do Brasil. As características mais marcantes na Floresta Atlântica são a alta diversidade biológica e o elevado endemismo, ou seja, a ocorrência de muitas espécies e de determinadas espécies que são encontradas somente neste ecossistema.
As diferenças com a Floresta Amazônica são muitas, começando pelas diferenças climáticas, diferenças geológicas, pedológicas (tipos de solo) e também de espécies existentes em ambos ecossistemas.
IHU On-Line - Como vê a manutenção das florestas tropicais?
Renato Marques - De maneira geral há um decréscimo das florestas tropicais no mundo. O maior fator que interfere em seu crescimento é a pressão humana, de diferentes naturezas; a busca por recursos naturais diversos (madeira, carvão, minérios etc), a busca de terras agricultáveis e para pecuária e fortemente a pressão urbana.
IHU On-Line - Qual é o estado nutricional das plantas da Mata Atlântica?
Renato Marques - Esta resposta não é simples, mas podemos dizer que as florestas bem preservadas apresentam plantas em adequado estado nutricional, em razão de sua adaptação aos ambientes onde elas vivem hoje.
IHU On-Line - Há mais de dez anos o senhor desenvolve pesquisas na Floresta Atlântica do Paraná. O que tem percebido no decorrer desse tempo?
Renato Marques - Nosso objeto de pesquisa é a ecologia florestal, mais precisamente entender como a floresta consegue crescer em solos que geralmente apresentam baixa oferta de nutrientes. O que temos visto é que as plantas, em seu processo evolutivo, se adaptaram a estes solos e que a ciclagem de nutrientes e a sucessão florestal são os fatores responsáveis pela sustentabilidade florestal.
IHU On-Line - Quais os efeitos da ação do homem sobre a Mata Atlântica nos últimos anos?
Renato Marques - O homem tem contribuído bastante para a destruição da Mata Atlântica, de diferentes maneiras. Mas felizmente existem também exemplos de ação humana no sentido de restaurar áreas degradadas. Estas iniciativas, por outro lado, são ainda em pequena quantidade e mais por parte do terceiro setor do que por parte dos governos.