Edição 362 | 23 Mai 2011

Susana Margarida Brand

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Patricia Fachin

Provavelmente a maioria dos funcionários da Unisinos já a conhecem. Susana Brand é responsável pelos treinamentos do Sistema de Gestão Ambiental – SGA da universidade e, corriqueiramente, visita os setores da instituição para conscientizar a comunidade acadêmica a zelar pelo meio ambiente e explicar a conduta da universidade em relação ao tema. Entrevistada desta edição da IHU On-Line, Susi salienta que “não é só porque a universidade tem um sistema de gestão ambiental implantado, que pede por exemplo, que os funcionários separem o lixo, mas sim, porque o meio ambiente está exigindo esta conscientização”. Confira.
Susi e o filho Gabriel

Origens – Nasci em Dom Diogo, hoje Município de São José do Sul. Sou filha de pais agricultores; meu pai chama Inácio Brand e minha mãe, Roni Brand. Somos em sete filhos: cinco meninos e duas meninas. A minha infância foi muito feliz e saudável. Quase não tínhamos brinquedos, mas isto não era problema porque em contato com a natureza tínhamos muito espaço para correr e brincar e criar nossos próprios brinquedos, para montar uma casinha no meio do mato. Lembro que minha irmã e eu tínhamos uma única boneca de porcelana que era o nosso xodó, até o dia em que a filha da vizinha, menor que nós a quebrou, nem preciso falar o quanto isto nos magoou. Como todo filho de agricultor, desde cedo tive que assumir algumas responsabilidades, como ajudar na criação dos irmãos mais novos, ajudar a mãe a tirar o leite das vacas às 5h da manhã, além de ajudar nos trabalhos da roça, mas sempre dentro de um lar muito harmonioso e unido.

Estudei, até a 5ª série em Dom Diogo e, mais tarde, iniciei o ginásio em Salvador do Sul. Saía de casa todas as tardes e retornava à noite. No inverno, era terrível em função do frio porque tínhamos de caminhar dois quilômetros da parada do ônibus até em casa, no escuro. Muitas vezes o calçado que usávamos não era o mais adequado para tal situação, mas sobrevivemos.


Música -
Cresci em uma família que gosta de cantar. Meu avô foi regente de coral e, em função disso, sempre se cantou muito na minha família. Atualmente, meu pai, meus irmãos com alguns amigos mantêm um coral de vozes masculinas. Eu, de vez em quando, participo e tento cultivar esse hábito.


Estudos – Como a família era grande às vezes o pai tinha algumas dificuldades em conseguir pagar o transporte, parei de estudar quando terminei o ginásio para dar oportunidade aos outros irmãos que tinham de ingressar no colégio. Fiquei um ano sem frequentar a escola e, aos 16 anos, recebi o convite de morar em Brasília com meu tio/padrinho, Antonio Brand . Ele trabalhava em Dourados–MS, com a causa indígena e havia sido transferido para Brasília para assumir a coordenação nacional do Conselho Indigenista Missionário – CIMI. À época, ele tinha uma filha de dois anos e me convidou para morar com eles com a finalidade de cuidar dela. Aceitei sem medir o que significava o fato de uma menina de 16 anos, que morava no interior da roça e que tinha ido uma vez a Porto Alegre, ir morar numa outra região tão distante e com tanta diversidade cultural. Lembro que fizemos a viagem em um Fiat 147 de cor “amarelo queimado”.

No início, foi extremamente difícil porque eu sentia muitas saudades de casa. Pela distância só podia vir visitar minha família duas vezes por ano. Lá fiz o 2º grau em escola pública. Uma coisa que me marcou muito era quando a professora fazia a chamada, os colegas ficavam em silêncio para ouvir a minha resposta, o meu “presente” em função do sotaque alemão e português carregado, quase morria de vergonha, mas fui me acostumando e por fim tirava de letra a brincadeira.

Após concluir o 2º grau, comecei a faculdade de Administração em uma universidade particular em Brasília, mas na época não me identifiquei com o curso e desisti.
Cuidei da minha prima Luciana durante quatro anos. Depois, comecei a trabalhar na recepção do Conselho Indigenista Missionário e, mais tarde, no setor de pessoal e contabilidade do escritório. Ajudava a organizar os encontros dos índios em Brasília e essa troca com outra cultura foi muito enriquecedora na minha vida.


Retorno - Em 1990, meu tio resolveu voltar para São Leopoldo e eu continuei residindo no Distrito Federal, até perceber que a família estava me fazendo muita falta, e em 1995 resolvi retornar também. Fui morar novamente com meu tio, Antonio Brand agora em SL, na época ele era professor da Unisinos. Já estabelecida na cidade, entreguei um currículo na Unisinos e fui selecionada para trabalhar na universidade em 1996, na antiga Produção Industrial, como auxiliar de serviços gerais da gráfica.

Mais tarde, fui transferida para trabalhar no escritório, onde passei a realizar o trabalho administrativo da gráfica e das oficinas. Fiquei nessa função até 2002, quando a gráfica foi extinta.
Aproveitei a oportunidade de trabalhar na instituição e iniciei a faculdade de Administração - Recursos Humanos, concluindo o curso em 2008. Em 2003, a professora Luciana Gomes  passou a coordenar o projeto de implantação da certificação da ISO 14001 na Unisinos e me convidou para participar desta atividade porque eu já atuava no Verde Câmpus , programa que incentivava a separação do papel na universidade. Desde então atuo no Sistema de Gestão Ambiental – SGA  da universidade. Faço toda parte operacional do sistema e também os treinamentos de conscientização para os funcionários, parceiros instalados dentro do campus e outros grupos da comunidade acadêmica da Universidade. Em agosto, completo 15 anos de trabalho na Unisinos.


Família – Sempre gostei de morar sozinha e vivia muito bem com esta situação. Porém, quando fiz 40 anos, me dei conta de que estava chegando no limite de idade para ser mãe, o que sempre fora o meu sonho. Conheci o Ricardo, hoje meu esposo, na gráfica da Unisinos, ele era funcionário de lá e em 28 de abril de 2007 nasceu meu filho, Gabriel, que é a luz da minha vida. Eu ainda não tinha concluído a faculdade, mas no ano seguinte me formei. Hoje minha família é meu esposo Ricardo, Gabriel e eu. Além dos dois irmãos doabriel, a Bruna e o Vinicius, filhos do primeiro casamento do meu marido. Eles são crianças adoráveis e os três convivem muito e se amam realmente como irmãos. Se o Gabriel fosse filho único do Ricardo, eu teria mais um filho porque penso que uma criança precisa ter irmãos. Venho de uma família grande e vejo como é importante um auxiliar o outro.


Filho – Sou uma pessoa bastante calma e tranqüila, dificilmente acordo mal-humorada; estou sempre disposta, rindo e cantando e vejo que meu filho é igual. Penso que a família é a base para o ensinamento de uma criança, e ela precisa aprender com seus familiares os conceitos de ética, responsabilidade e fé. Não adianta mandar o filho para escola e querer que os professores se responsabilizem pela sua educação.


Lazer – Gabriel é uma criança ativa, gosta de futebol e música. Ele adora me ouvir cantar e se observa cantando. Quando a família se reúne para cantar, ele se posiciona entre meu pai e meu irmão, como se já fizesse parte daquele coral. Ricardo e eu gostamos de dançar e frequentamos bailes até hoje. Saímos para passear com o Gabriel, vamos à pracinha, a shoppings, e claro vamos muito à casa dos meus pais, pois fazemos muita questão que ele conviva o maior tempo possível com os avós, primos e tudo o que uma vida em um sitio pode trazer como experiência positiva na formação de uma criança. Quero que ele tenha a infância feliz e saudável que eu tive.


Família e valores – Quero passar para o meu filho os valores que recebi do meu pai e da minha mãe: honestidade, ética, responsabilidade e sinceridade. Na casa dos meus pais cultivamos até hoje o hábito de rezar antes das refeições ou de cantar. Quando a família se reúne, sempre cantamos o cântigo “Ao Senhor agradecemos” e o Gabriel já entoa esse canto como um adulto. Esses são valores que prezo e tento passar para o meu filho.


Universidade – Aprendi muito nesta universidade. Ingressei na Unisinos em uma época de abundância, onde se fabricava muitos móveis, material gráfico, e se realizavam grandes obras. Depois, a instituição passou por um período de crise e recesso. Eu trabalhava com aproximadamente 500 funcionários e, de um dia para o outro, muitos foram demitidos. Na época, acho que a Unisinos não tinha muita escolha e teve de adotar uma estratégia mais drástica para evitar um mal maior para a universidade como um todo.

Também acompanhei a reestruturação e o crescimento da Unisinos, pós crise. Todos os  funcionários se empenharam em reerguer a universidade porque, ela tem uma importância econômica muito grande para o município. Sempre vesti a camiseta da instituição. Em todos os trabalhos que fiz e faço tento seguir o lema da universidade: “Em tudo amar e servir”, para continuarmos crescendo.


Gestão ambiental – Fico emocionada quando falo do Sistema de Gestão Ambiental - SGA porque esse é um processo que foi e está sendo construído diáriamente na universidade, e eu realmente me sinto parte disto. Imagino que nem a professora Luciana Gomes, coordenadora do SGA, tinha idéia do trabalho que teríamos para implantar e manter a certificação ambiental, pelo tamanho que é o campus e pela diversidade do seu meio ambiente. Mas acredito que esse trabalho está trazendo um retorno visível para a Unisinos.

Quando faço os treinamentos do SGA, vejo que a conscientização ambiental acontece devagar, às vezes as pessoas demoram a inculturar essa temática. Mas, com o passar do tempo, com a criação do hábito diário, elas percebem a importância e a necessidade que pequenas práticas ambientais como separar um lixo, fazer o descarte correto de um produto químico ou simplesmente, desligar um botão de luz trazem ao meio ambiente. E estas práticas não devem ser feitas apenas porque a universidade tem uma ISO 14001 implantada, mas sim porque o meio ambiente está exigindo isto de todos nós. Hoje não temos como fugir dessa preocupação ambiental.


Sonhos – Sinto necessidade de me aperfeiçoar e quero fazer uma especialização nesta área em que estou atuando hoje.  Pessoalmente, espero que Deus me dê saúde para ver meu filho crescer e se tornar um homem.


IHU – Sempre acompanho a programação do IHU. Gosto de ver quais são os eventos programados, que acontecem na sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU e vejo que o Instituto oferece palestras sobre temas diversos, focando sempre os valores humanos e sociais. O IHU também implantou, junto com o SGA, a campanha 10/10 para redução de 10% do consumo de carbono no planeta. Essas são ações pró-ativas que fazem diferença na universidade. Sempre que posso procuro ler as entrevistas da revista IHU On-Line pela diversidade de temas abordadas nas edições.

 

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