Edição 361 | 16 Mai 2011

Y e Z: duas gerações em busca da novidade

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Patrícia Fachin

A relação que os jovens estabelecem com a internet tem transformado costumes que anos atrás eram corriqueiros, como visitas pessoais. Hoje, a prioridade é o contato virtual e tudo que eles precisam saber sobre os amigos está disponível em sítios de relacionamento, constata o consultor Daniel Portillo Serrano

O comportamento das gerações Y e Z e a relação que os jovens mantêm com a internet têm causado “estranhamento” entre as gerações anteriores, que nem sempre compreendem a necessidade de eles estarem conectados constantemente à internet. A justificativa, segundo o professor e consultor Daniel Portillo Serrano, está muito mais relacionada à novidade do que com a própria necessidade.
Embora a geração Y tenha nascido junto com as tecnologias, é entre os Zs, aqueles que nasceram depois dos anos 1990 e 2000, que o acesso à rede tem se intensificado. Em entrevista à IHU On-Line por e-mail, Serrano menciona que a “geração Z é a encarnação do que a Y gostaria de ter sido”. Enquanto os jovens dos anos 1980 tinham de usar modems para acessar a internet, “a geração Z trata as conexões à Internet como se fossem o fornecimento de eletricidade ou água. Assim como sabem que, ao abrir uma torneira, a água sai e ao ligar um equipamento em uma tomada, ele funciona, a internet é algo abundante e disponível”, compara.
Daniel Portillo Serrano é graduado em Comunicação Social com especialização em Publicidade e Propaganda pela Universidade Anhembi Morumbi, pós-graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Ibero-Americano e mestrando em Administração de Empresas pela Universidade Paulista – Unip. Atualmente leciona Marketing e Estudos de Comportamento do Consumidor na Faculdade Eniac Educação Básica e Superior, e Comportamento do Consumidor e Tendências de Consumo nos cursos de pós-graduação das Faculdades Integradas de Bauru - FIB. Confira a entrevista.

IHU On-Line - Por que a geração Y está sempre conectada à internet? Como compreender essa necessidade de estar sempre online?

Daniel Portillo Serrano - A juventude atual nasceu cercada de computadores. Não foi, no entanto, o dispositivo que chamou a atenção dessa geração, mas, sim, a possibilidade de utilizá-lo para se conectar e manter-se online. Permanecer conectado dá aos componentes da geração Y a sensação de que nenhum fato, nenhuma notícia, nenhum acontecimento vai passar despercebido. A geração Y nasce sob a égide do imediatismo, da informação instantânea.

Diferente dos seus pais, que esperavam até uma semana para saber dos principais fatos do mundo nas revistas semanais, a nova geração vê as notícias de ontem como uma “informação velha”. O fato tem que ser percebido no momento em que ocorre; a única forma disso ocorrer é manter-se online.

IHU On-Line - Que relações a geração Y mantêm com a internet e os dispositivos tecnológicos?

Daniel Portillo Serrano - A internet está para geração Y como as bibliotecas ou bancas de jornal estão para as gerações anteriores. A geração Y não sente a necessidade de aprender e se aprofundar em nada. Não há a necessidade de decorar. Quando precisar de uma informação, o jovem saberá onde encontrá-la. Um jovem conectado não demora mais do que poucos segundos para acessar qualquer texto de que necessite. Assim, mais do que guardar livros, onde a busca da informação é imprecisa, o jovem mantém à mão sítios de busca, onde instantaneamente pode acessar a informação necessária em milhões de veículos, muitas vezes, sem custo nenhum. Aos poucos, a internet vai substituindo, para esta geração, os livros e material didático.

Os dispositivos tecnológicos são uma necessidade imprescindível para esta geração. Se pudéssemos fazer uma releitura da hierarquia das necessidades humanas voltada a esta geração, os gadgets apareceriam como itens de necessidade básica, precedendo as necessidades sociais.

IHU On-Line - Como vê a atuação e participação dos jovens das gerações Y e Z em sítios de relacionamentos? Qual o sentido dessas redes sociais para eles como espaço de constituição do sujeito?

Daniel Portillo Serrano - Se até algum tempo atrás acreditava-se que a internet substituiria as cartas via correio, a certeza, atualmente, é que está substituindo não apenas as mensagens que enviamos aos amigos, mas também as próprias visitas físicas. A visita à casa de um parente ou de um amigo já não é tão necessária para a geração Y, como o era para a geração X. O relacionamento não precisa ocorrer presencialmente, e na preferência desta nova geração, é melhor que não ocorra. Visitas são feitas virtualmente através de mensageiros instantâneos e sítios de relacionamento com a marca da nova geração: o imediatismo. Visito o Facebook de um amigo e lá me sinto em sua casa. Afinal, tudo que há de valor, tudo que o jovem precisa saber e tudo que pode gerar um relacionamento está no sítio, e não mais em sua casa. Não precisa mais chamar seus amigos para mostrar as fotos de sua última viagem. Publica em seu sítio e seus amigos acessam quando bem entenderem. Se precisa comunicar algo, não tem a necessidade de telefonar: publica a mensagem em seu sítio. E, desta forma, tem a certeza que em alguns segundos, toda a rede de relacionamento estará a par dessa informação. Os pais da geração Y, mantinham em média 15 a 20 amigos, incluindo três ou quatro de contato mais próximo. Hoje, através do Orkut, Twitter ou Facebook , um jovem mantém relacionamentos simultâneos (e instantâneos) com mais de uma centena de pessoas.

IHU On-Line - O senhor comenta que os jovens desta geração compartilham tudo que é seu: dados, fotos, hábitos. Como compreender essa característica? O que eles buscam a partir desse comportamento e o que essa atitude demonstra sobre eles e a maneira como compreendem a vida?

Daniel Portillo Serrano - Os adolescentes, independentemente de qual época viveram, sempre tiveram uma necessidade de se expor aos demais, seja contando suas aventuras aos colegas ou tentando aparecer em um mundo de “iguais”. Isso sempre foi notado através das roupas que usam, das músicas que ouvem ou dos lugares que frequentam. A grande dificuldade, no entanto, sempre foi mostrar essa imagem de forma abrangente. Gerações anteriores não tinham tempo nem locais apropriados para escancarar sua vida para que os demais elementos do grupo pudessem consultar. Os sítios de relacionamento trouxeram a possibilidade de se expor e divulgar todas aquelas informações que o jovem queriam mostrar ao seu grupo.

IHU On-Line - Como caracteriza o comportamento consumidor da geração Y?

Daniel Portillo Serrano – Ela não é fiel a marcas. Tentar fidelizar esse jovem é desperdício de dinheiro. Mais do que marcas ou rótulos, a geração Y busca inovação. Um novo gadget fará parte de sua lista de desejos antes mesmo de ser lançado. Passará horas em uma fila para adquirir em primeira mão um produto que será lançado à meia-noite em uma badalada loja de eletrônicos. No dia seguinte ostentará a compra em seu escritório ou faculdade, como um troféu. Contará, por horas a fio, a odisseia que passou na fila. Mas se sentirá inserido em um mundo que só ele e os integrantes de sua geração entendem: aquele onde a novidade é mais importante do que a própria necessidade. O jovem da geração Y é multitarefa. Consegue falar com amigos ao telefone, enviar mensagens, visitar os sítios de relacionamento e ouvir uma música. Tudo simultaneamente.

IHU On-Line – A geração Z também nasceu em uma sociedade tecnológica. Nesse sentido, o que a diferencia dos antecessores Ys?

Daniel Portillo Serrano - A geração Z é aquela nascida na última década do século XX e primeira década do século XXI. Semelhante à geração Y, a geração Z não é fiel a marcas, vive em função de inovações tecnológicas e prefere o mundo virtual ao real. A diferença entre ambas as gerações, no entanto, é que se a geração Y precisava se conectar à internet, para entrar no seu mundo, a geração Z já nasceu conectada. Não há mais a necessidade de um computador. A internet está presente em todos os seus equipamentos: telefone, notebooks, televisores de última geração e dispositivos portáteis. Conversa com os amigos por SMS (já que o e-mail está fora de moda). Ao invés de usar o celular no ouvido o utilizam à frente dos olhos. São multitarefa e não são fieis a trabalhos ou empregos que não estejam de acordo com suas crenças.

IHU On-Line - O senhor diz que a geração Z se parece mais com a Y do que os próprios Y. Em que aspectos e por quê?

Daniel Portillo Serrano - A geração Z é a encarnação do que a geração Y gostaria de ter sido. Vários adolescentes da geração Y tinham que usar modems, ou acesso discado para “entrar na internet”. Sempre à frente de um computador Y. A geração Z trata as conexões à internet como se fossem o fornecimento de eletricidade ou água. Assim como sabem que ao abrir uma torneira a água sai e ao ligar um equipamento em uma tomada, ele funciona, a internet é algo abundante e disponível. Poucos conheceram uma conexão discada. Na verdade poucos sabem o que significa discar.

IHU On-Line - O que se pode esperar da geração Z em relação à tecnologia e ao comportamento voltado para as redes?

Daniel Portillo Serrano - A geração Z será a grande consumidora de tecnologia dos próximos anos. Poucos fabricantes estão atentos a isso. Enquanto todos festejam a geração Y como os consumidores do futuro, é a geração Z que acaba consumindo os gadgets mais badalados e inovadores. A geração Y já está entrando no mercado de trabalho produzindo o que eles não tiveram de gerações anteriores. Grande parte procura empresas de tecnologia para fabricar sonhos inimagináveis anos atrás. Os grandes consumidores dessa fornada será a geração Z.

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