Edição 350 | 08 Novembro 2010

IHU Repórter

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Graziela Wolfart e Patricia Fachin

“Sou uma pessoa muito persistente. Quando tenho um sonho eu vou atrás. Todo mundo pode me dizer que não vou conseguir. Não sei se é isso o que me move, mas vou em busca para alcançar meus objetivos. Quando acredito em algo vou à luta”. Esta é a professora Maria Helena Selbach Enriconi, que não apenas leciona Matemática, mas vive essa área de conhecimento de forma intensa em sua trajetória pessoal e profissional. Confira a entrevista e saiba mais sobre esta colega da comunidade acadêmica da Unisinos:

Origens - Nasci em São Sebastião do Caí, cidade localizada a 30 quilômetros de São Leopoldo. Minha família tinha uma livraria, que era dos meus avós. Tenho um irmão, que trabalha lá até hoje. E digo sempre para meus alunos: aprendi matemática trabalhando, contando. Trabalhei desde os oito anos de idade com meus avós, contando papel, vendendo borracha, lápis, lápis de cor, caneta. Como não dávamos nota quando o valor era inferior a um determinado preço, anotávamos no próprio talão. E no final somávamos os valores de cabeça.

Formação – No curso superior, inicialmente optei em fazer Física e mais tarde Matemática. Na época da escola, meus professores de Matemática me passavam uma ideia de que só eles sabiam o porquê das regras e fórmulas e a nós alunos cabia apenas decorá-las. A grande questão que me fez decidir fazer o curso de Matemática foi porque eu insisti com uma professora já no antigo ginásio, por que 20 = 1. Todo mundo sabia que era um, mas eu queria saber o porquê. Na época eu pensei: “eles sabem e não querem contar”. Então me matriculei no curso de licenciatura, na Unisinos. Nunca ninguém me contou a razão dessa igualdade, tive que descobrir sozinha. E vi que era tão simples que desconfiei que eles também não sabiam. Por isso sempre trabalhei construindo os conceitos matemáticos para os alunos aprenderem de forma significativa.

Matemática – Sou professora de Matemática aqui na Unisinos há 33 anos. A Matemática ainda hoje nas escolas é colocada para os alunos como se fosse mágica, como se as coisas acontecessem por magia e não porque existe uma razão para isso. Por isso que muitos alunos não gostam da Matemática e sempre tenho dificuldade para identificar se eles não sabem porque não gostam, ou não gostam porque não sabem. O problema não é com os alunos, mas está na forma como eles aprenderam. É fundamental que a Matemática ajude as pessoas a resolverem os problemas do cotidiano. Tudo tem uma explicação, fundamentada na construção do conhecimento.

Sala de aula e matemática na Unisinos – Comecei dando aula aqui na Unisinos logo que me formei, para os cursos de Engenharia. Eu tinha 23 anos. Depois de um tempo ingressei no Laboratório de Educação Matemática - LAM que era uma referência nacional, mas infelizmente foi fechado. Lamento muito por isso, porque ainda hoje há pessoas que fazem referência a ele. Nós tínhamos produção, livros publicados e por mais de 20 anos promovíamos o Encontro Regional de Educação Matemática – EREM. Este e outros trabalhos foram o subsídio para que a Unisinos concorresse, em 2003, a uma licitação pública do Ministério da Educação de um projeto para trabalhar com professores de Matemática e Ciências em todo o Brasil. O Núcleo de Formação Continuada de Profissionais da Educação - NUPE/Unisinos, pelo seu trabalho em Matemática, foi reconhecido como um centro de excelência. Esse programa já fez a diferença na vida de muitas pessoas. É um motivo de orgulho para mim participar desta equipe. O NUPE hoje é coordenado pela professora Flávia Mädche . Além desse trabalho, continuo dando aulas na graduação e na especialização.

Família – Nossa família é muito unida. Meu marido é ex-funcionário da Varig e trabalhou nessa empresa por 37 anos; hoje está aposentado. Temos dois filhos, a Aline e o André. Para eles, a Unisinos sempre representou um sonho, porque me viam sair para a universidade desde pequenos. A Aline cursou Serviço Social e o André Engenharia Mecânica aqui na Unisinos. Hoje ela trabalha como assistente social na Diretoria de Ação Social da Unisinos e o André trabalha como engenheiro mecânico na Embraer, em São Paulo, na parte da estrutura de aeronaves.

Livro – Medo e Ousadia, de Paulo Freire e Ira Shor.

Filme – Comer, Rezar e Amar.

Nas horas livres – Gosto de mexer nos meus vasos de flor. Tenho muitas folhagens e samambaias no apartamento. Meu marido planta e eu cuido. Trabalhamos em parceria.

Um sonho - Viver em paz numa sociedade que nos coloca a cada dia inúmeros desafios.

Um sonho profissional – Ver as pessoas gostando de Matemática ao invés de sentir que ela lhes faz mal.

Unisinos – Estar aqui há 33 anos como professora é sinal de que eu gosto da Unisinos, pois foi nessa casa que me realizei como ser humano, pois participei da formação integral de muitos alunos de diversos cursos de graduação.

IHU – Gosto de ler a revista, mas em papel. Tenho dificuldade de me dedicar à leitura de revistas e livros no computador pela questão do tempo.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição