Edição 347 | 18 Outubro 2010

Revolução Mexicana, independência e futuros da América Latina

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Graziela Wolfart

Para Claudia Wasserman, o nacionalismo é a principal influência do México para todos os países da América Latina

“A Revolução Mexicana foi o primeiro episódio popular do século XX na América Latina”. A afirmação é da historiadora Claudia Wasserman. Na próxima quinta-feira, dia 21 de outubro, a professora Claudia Wasserman, do PPG em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, estará na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU, das 17h30min às 19h falando sobre o tema “Revolução Mexicana, independência e futuros da America Latina”. E nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ela adianta aspectos do assunto. Na sua visão, a Revolução Mexicana constituiu-se em exemplo para outros movimentos populares na América Latina, bem como foi uma espécie de alerta para as classes dominantes. “Cem anos depois, a Revolução Mexicana continua sendo motivo de reflexão, primeiro porque a burguesia mexicana apoderou-se do mito revolucionário e fez dele o motivo de sua legitimação no poder. Segundo porque o movimento chiapaneco, eclodido em 1994, demonstrou que os temas da revolução continuam presentes nas lutas populares mexicanas”. Para a professora, “a presença constante, sistemática e contundente da esquerda em todos os países da América Latina, é a garantia de que a luta pela diminuição da desigualdade social e pela democratização política não vão diminuir”. Em suma, ela antevê a contínua disputa entre estes dois projetos, “o liberal burguês e o democrático popular”.

Claudia Wasserman é graduada em História pela UFRGS, com especialização em História pela mesma instituição. É mestre em História pela UFRGS com a dissertação A Revolução Mexicana (1910-1940): um caso de hegemonia burguesa na América Latina. Doutorou-se em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com a tese A questão nacional na América Latina no começo do século XX: Brasil, Argentina e México. Escreveu as obras História Contemporânea da América Latina (1900-1930) (Porto Alegre: EDUFRGS, 1992); História da América Latina: do descobrimento a 1900 (Porto Alegre: EDUFRGS, 1996); Palavra de Presidente (Porto Alegre: EDUFRGS, 2002); e Ditaduras Militares na América Latina (Porto Alegre: EDUFRGS, 2004).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual a importância da Revolução Mexicana para a construção da identidade latino-americana? Passados 100 anos do episódio, que herança fica ainda hoje?

Claudia Wasserman - A Revolução Mexicana foi o primeiro episódio popular do século XX na América Latina. Ocorreu contra o domínio oligárquico, a ditadura de Porfírio Díaz, e constituiu-se em exemplo para outros movimentos populares no subcontinente, bem como foi uma espécie de alerta para as classes dominantes. Cem anos depois, a Revolução Mexicana continua sendo motivo de reflexão, primeiro porque a burguesia mexicana apoderou-se do mito revolucionário e fez dele o motivo de sua legitimação no poder. Segundo porque o movimento chiapaneco, eclodido em 1994, demonstrou que os temas da revolução continuam presentes nas lutas populares mexicanas.

IHU On-Line - A partir da reflexão sobre os 100 anos da Revolução Mexicana, que rumos podemos vislumbrar para o futuro da América Latina?

Claudia Wasserman - Os países latino-americanos sempre tiveram muita dificuldade de estabilização dos regimes democráticos. Isso ocorre, principalmente, devido à existência de uma classe dominante predatória, que não admite dividir o poder e que não se conforma com a necessidade de diminuir as desigualdades sociais, desenvolvendo políticas de distribuição de renda. Ao mesmo tempo, a presença constante, sistemática e contundente da esquerda em todos os países da América Latina, é a garantia de que a luta pela diminuição da desigualdade social e pela democratização política não vão diminuir. Em suma, antevejo a contínua disputa entre estes dois projetos, o liberal burguês e o democrático popular.
 
IHU On-Line - Em que sentido a Revolução Mexicana pode ser considerada um caso de hegemonia burguesa na América Latina?

Claudia Wasserman - A burguesia apoderou-se da revolução, dirigiu-a e soube incorporar demandas populares a ponto de construir um consenso em torno de sua liderança. Mesmo assim, em muitos momentos, essa hegemonia foi questionada (1968, 1994) e foram utilizados mecanismos de forte violência contra os movimentos sociais.

IHU On-Line - Que relações podem ser feitas entre a Revolução Mexicana e a Revolução Cubana?

Claudia Wasserman - Tanto a Revolução Cubana quanto a Revolução Mexicana iniciaram como um protesto pluriclassista, com forte componente popular, contra oligarquias primário-exportadoras, representadas por governantes autoritários (Díaz e Batista) e que tinham forte componente nacionalista (pobres Cuba e México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos, já dizia um ditado popular - Cuba tinha dependência de Emenda Platt e México havia perdido parte do território para os Estados Unidos).

IHU On-Line - Qual a principal influência da Revolução Mexicana para o Brasil?

Claudia Wasserman - O nacionalismo é a principal influência do México para todos os países da América Latina.

Leia mais...

>> Claudia Wasserman já concedeu outra entrevista à IHU On-Line:

• Um neonacionalismo popular na América Latina. Entrevista publicada na revista IHU On-Line número 213, de 26-03-2007.

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