Edição 344 | 21 Setembro 2010

Wilson Engelmann

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Patricia Fachin

Antes de sonhar em ser professor, Wilson Engelmann foi aluno da Unisinos. Com um jeito de ser reservado e compenetrado nas atividades que desenvolve, logo nos primeiros semestres do curso de Direito, ele tomou a decisão de se dedicar à carreira acadêmica. Professor do curso de graduação e do PPG em Direito, Wilson faz parte do quadro de docentes da universidade há 20 anos. Ex-coordenador do curso, hoje ele coordena uma pesquisa sobre direitos humanos e nanotecnologias. Confira a trajetória de Wilson Engelmann na entrevista a seguir.

Origens – Nasci no município de Dois Irmãos, em 1964. Meus pais são agricultores e, ainda hoje, mesmo aposentados, continuam trabalhando. Meu pai sempre disse que o trabalho agrícola era pesado e gostaria que seus filhos tivessem outra profissão. Eu cursei Direito na Unisinos e meu irmão formou-se em Administração – Comércio Exterior.
Na infância, ajudava meus pais na agricultura, mas dos 13 aos 15 anos trabalhei em uma fábrica de calçados. Depois, trabalhei em um escritório de contabilidade por mais dez anos. Durante esse período, conclui o Ensino Médio e ingressei na universidade. Trabalhava oito horas por dia e estudava à noite, de segunda a sexta-feira.

Direito – Sempre fui bastante tímido, por isso escolhi um curso de graduação mais dinâmico, desafiador e que exigisse a necessidade de expressão.
Durante o curso, tive vontade de seguir a carreira acadêmica. O professor Antonio Carlos, da Universidade Federal de Santa Catarina, foi meu paradigma porque era uma pessoa reservada; o modo como ele tratava os estudantes e a maneira como ensinava o conteúdo, foram aspectos marcantes na minha formação docente. Essa experiência serviu de inspiração para eu ser professor.
Dois anos depois de concluir a faculdade, retornei à universidade para conversar com padre Bruno Hammes  sobre o meu sonho de ser professor. Na época, ele era chefe de departamento e aceitou a minha proposta. Na década de 1990, ingressei na Unisinos como professor de uma disciplina. Foi uma experiência diferente: senti medo de ser responsável por 40 alunos, mas foi um semestre desafiador. Dois anos depois, fiz concurso para ser professor. Nesses 20 anos, cursei uma especialização, o mestrado e o doutorado. Mesmo atuando como professor, advogo porque acho importante ter conhecimento da realidade para ensinar a teoria.

Família – Estou casado há vinte anos. A família é um porto seguro. Tenho um filho de 11 anos, meu companheiro. Ele nasceu prematuro e exigiu bastantes cuidados. Esse foi um período difícil, mas superamos. Para ajudar o desenvolvimento do filho, disseram que era importante ter um cachorro. Adotamos, então, o primeiro filhote. Um tempo depois, minha esposa adotou um Pincher. Em outra ocasião, ela encontrou mais três cachorrinhos e os trouxe para casa.

Lazer – Gosto de fazer atividade física. Duas vezes por semana faço hidroginástica. Gosto de assistir a filmes, mas sobra pouco tempo para outros afazeres. Ainda realizo muitas atividades de trabalho em casa. Não vejo isso como uma coisa ruim porque gosto de pesquisar, ler e transformar ideias.

Unisinos – A universidade se transformou nesses 20 anos. Quando eu era aluno, os professores faltavam e os alunos ficavam sem aula. Ninguém dava satisfação e nós não tínhamos a quem reclamar. O comprometimento que a Unisinos exigiu dos professores representou um crescimento, “um controle positivo”, porque hoje, quando um professor falta, ele se preocupa em enviar uma atividade para os estudantes. Esse trânsito entre a coordenação, os alunos e a universidade não existia no passado. Percebo que a universidade vem se profissionalizando nesse objetivo de formar pessoas e qualificar a mão-de-obra. Isso é altamente positivo.

Docência - Fui coordenador do curso de Direito durante oito anos, me tornei professor no PPG e, em 2009, tive de assumir a carga horária no PPG e me dedicar à pesquisa. Foi um momento impactante, mas de alegria porque convivi diretamente com alunos e colegas de graduação. Hoje leciono duas disciplinas na graduação e também trabalho atividades de metodologia da pesquisa nos cursos de especialização do Direito.
Sou o que sou profissionalmente graças à Unisinos. Recebi apoio da universidade para cursar a especialização, o mestrado e o doutorado. Tenho uma gratidão pela Unisinos e pelas oportunidades que ela me proporcionou. Hoje trabalho com um projeto de pesquisa sobre nanotecnologias, o qual surgiu a partir do Simpósio Internacional Uma Sociedade Pós-Humana? Possibilidades e Limites das nanotecnologias, organizados pelo IHU. No final do ano passado, meu bolsista, André, e eu fomos convidados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a participar de um fórum sobre nanotecnologias. O governo, preocupado com as nanotecnologias, chamou profissionais de vários setores. André e eu somos os únicos participantes da área de Direito. É uma oportunidade impar para conhecer pessoas que estão estudando essas questões e contribuir com um tema que não se esgota agora porque é uma política que irá permanecer e será importante para o país.

Religião – Sou evangélico e não vou muito à igreja. Acredito e, isso basta, que existe uma força acima de nós, a qual conduz as coisas. Temos de acreditar em algo que transcenda o mundo material e para isso não é necessário ir todos os dias à igreja. Acho que a questão da religião está desacreditada por estar amarrada a alguns dogmas que, talvez, sejam importantes, mas que o jovem não entende e, às vezes, a Igreja não quer se fazer entender. Tem um movimento que precisa ser feito para aproximar as pessoas de crerem em alguma coisa.

Sonho – Ainda quero viajar, conhecer outros lugares. Em função da universidade, acompanho alunos em intercâmbios no exterior. Já fui a Lisboa, Chile, Argentina, Uruguai. Conheci professores e a estrutura de outras universidades. A partir dessas experiências é possível comparar as instituições. A Unisinos é diferente dessas universidades, por mais antigas e seculares que sejam, e pode ser considerada de vanguarda em relação à biblioteca, ao atendimento, à infraestrutura do câmpus.

IHU – O IHU é um espaço muito importante para discutir ideias novas e ousadas. É um local para despertar para novidades. Os temas dos simpósios permitem uma leitura transdisciplinar de assuntos de ponta que devem ser discutidos. Se há dois anos não tivesse sido realizado o simpósio das nanotecnologias, talvez o Direito não tivesse acordado para essa realidade. O IHU recebe o conhecimento que é produzido, mas também devolve para a comunidade acadêmica, alimentando-a com novos saberes. É um caminho de duas vias, que permite uma comunicação entre os conhecimentos. O IHU é um interlocutor potente.

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