Edição 339 | 16 Agosto 2010

Perfil - Fernando Franco

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Graziela Wolfart

Leia aspectos da trajetória do jesuíta espanhol Fernando Franco.

O padre jesuíta Fernando Franco nasceu na Espanha e foi até agora o responsável pelo Secretariado de Justiça Social da Companhia de Jesus no mundo. Ele esteve na Unisinos no início deste mês, participando do encontro dos coordenadores do Apostolado Social da Companhia de Jesus na América Latina e dos diretores dos Centros de Pesquisa e Ação Social da Companhia de Jesus na América Latina. Na ocasião, ele conversou com a redação da IHU On-Line, e contou um pouco de sua trajetória.

Confira.

A parte mais importante da sua história de vida, segundo o jesuíta Fernando Franco, foram os 37 anos em que viveu na Índia. Ele entrou na Companhia de Jesus na Espanha, na parte norte, e ainda muito jovem foi para a Índia. Ali teve contato com algumas das religiões indianas mais importantes, como o Jainismo . Depois, fez seu doutorado em Economia na Universidade de Mumbai e trabalhou em um centro social independente de uma universidade jesuíta. “Estes anos na Índia me marcaram profundamente. E somente depois disso, quando eu já era diretor de pesquisas de um instituto, em Nova Delhi, fui para Roma, para assumir o cargo do Apostolado Social”, em que está até hoje.

Fernando Franco destaca a experiência de viver em um mundo religioso muito diferente, com mudanças socioeconômicas muito fortes, pois ele acompanhou a Índia de 30 anos atrás e viu ela se tornar o país emergente que é hoje. Mas enfatiza o fato de ter trabalhado com duas comunidades muito exploradas na Índia. Os povos indígenas, que somam 80 milhões de pessoas, e as comunidades dos sem casta, os “dalit”, que são 145 milhões de pessoas em toda a Índia. “Nós trabalhamos com essas duas comunidades e isso me marcou muito”, relata.

A decisão de ir para a Índia
Franco lembra que havia lido muito sobre a filosofia religiosa indiana. E a província jesuíta onde ele trabalhava quando entrou na Companhia de Jesus, na Espanha, tinha uma espécie de contrato com uma província na Índia, para onde mandava missioneiros. “E eu me ofereci”, explica.

Trabalho do apostolado social em Roma
“Pela primeira vez, tudo o que a Companhia de Jesus faz no mundo, nos cinco continentes, tornou-se conhecido publicamente”, conta Fernando Franco. Neste trabalho, ele passa o tempo todo viajando. Esta foi sua terceira visita à Unisinos. “Creio que não temos dimensão do trabalho de ação social que se faz em tantos lugares, tão diferentes, mas com o mesmo espírito, e em situações muito difíceis. Por exemplo, a situação que hoje se vive no Sudão, na África, no Congo, sobretudo pela questão das mineradoras transnacionais, que estão devastando o país, na Índia, no norte, onde há comunidades indígenas católicas muito importantes. Estão desabrigando milhões de pessoas para extrair minérios da natureza. No sul das Filipinas o conflito entre católicos e muçulmanos conta com uma mediação da Igreja e dos jesuítas, mas está sendo muito difícil. Poder estar presente em situações de conflito muito difíceis no mundo todo é uma experiência extraordinária, porque se está em contato com pessoas, leigos, jesuítas, gente comprometida com lutas muito difíceis, onde não se vê muita esperança, mas se luta”.

O jesuíta esclarece sua atual função e explica que o superior de todos os jesuítas, Pe. Adolfo Nicolás , tem quatro secretariados ou escritórios, encarregados de setores apostólicos, como educação, universidades, espiritualidade e trabalho social. “Eu estou encarregado de informar a ele de tudo o que acontece sobre esta questão social e de animar o trabalho em cada região. Por exemplo, agora estou nesta reunião aqui, e vejo o que acontece na América Latina. Depois vou a Roma, me reúno com ele e lhe informarei sobre como vejo as coisas, dando aspectos positivos, negativos, e aqui também animo em tudo o que posso”.
Dia 14 de agosto ele já viajou para a Indonésia, para uma reunião de toda a Ásia do Pacífico com a missão de discutir o problema da imigração. Lá estarão reunidos aproximadamente 45 jesuítas. “É um cargo muito bonito porque me põe em contato com o que se faz no mundo todo. Há diferenças fortes, mas com coisas muito comuns. Neste momento, o ponto mais forte é o problema das imigrações. O fenômeno migratório se converteu em algo importantíssimo, assim como o fenômeno do deslocamento. Constroem-se grandes obras, represas, exploração de carvão e as comunidades do mundo todo passam pela mesma situação”. Para Fernando Franco, o que mais lhe tem chamado a atenção atualmente é a crise do emprego e do trabalho.
Quando não está viajando, sua casa é em Roma atualmente. “Há momentos em que viajo 14 dias e cada noite durmo em uma cama diferente. Mas no meu escritório em Roma trabalham quatro pessoas, com as quais estou em contato diretamente todos os dias”.

E o jesuíta encerra a entrevista observando que “não há problema hoje que seja local. E para isso precisamos nos comunicar, o que não é fácil, porque as línguas e as culturas são diferentes. Mas é preciso tentar”.    

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição