Edição 337 | 09 Agosto 2010

Idinei Zen

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Patricia Fachin

Natural de Santa Catarina, Idinei Zen, padre jesuíta, descobriu sua vocação ainda jovem, quando ingressou no Seminário. Ordenado sacerdote em 1998, ele tem se dedicado ao trabalho social e, atualmente, é diretor do Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social de São Leopoldo - RS e secretário executivo do Instituto Anchietano de Pesquisas. Na entrevista a seguir, ele conta as experiências vividas nas comunidades e enfatiza que “a dimensão de poder viver junto com esse povo e observar a maneira deles viverem e expressarem a sua fé enriquece a nossa própria fé e fortalece a vocação e a disposição de trabalhar para que eles também tenham um futuro melhor”. Confira.

Origens – Nasci na linha Pinheiro Baixo, no município de Ouro, em Santa Catarina. Quando tinha oito meses de idade, meus pais se transferiram para a cidade de Descanso, no extremo oeste de Santa Catarina. Vivi com eles e meus dois irmãos até os 12 anos, quando sai da comunidade para continuar os estudos. Morei pouco tempo em casa, portanto, a convivência com os familiares passou a ser, dos 12 anos em diante, no período de férias. Fiz o segundo grau no Colégio Santo Inácio de Salvador do Sul, depois, estive em Cascavel, onde realizei o noviciado. Em João Pessoa fiz o juniorado, cursei Filosofia e Teologia em Belo Horizonte. Durante a etapa do Magistério fiz Licenciatura de filosofia e o mestrado em História, na Unisinos.

Trajetória – Em 1981, quando entrei no Seminário, já tinha decidido ser padre. Em seguida, já fui admitido na Companhia de Jesus. Ordenei-me padre em 1998 e fui destinado para a Paróquia de Santa Luzia, na cidade de Porto Velho, capital de Rondônia, onde morei durante oito meses. Quando voltei para Santa Catarina, trabalhei três anos e meio na paróquia São Domingos, no município de São Domingos. Depois, fui destinado à paróquia Beato José de Anchieta da Vila Duque, em São Leopoldo, onde trabalhei cinco anos. Mais tarde, fui à Espanha fazer a terceira provação, última etapa da formação jesuítica. Ao retornar, fui nomeado reitor interino do Santuário Sagrado Coração de Jesus e, em 2008, passei a ser professor na Unisinos, atividade que exerci até o ano passado. Hoje, sou secretário executivo do Instituto Anchietano de Pesquisas e diretor do Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social de São Leopoldo - RS.

Trabalho social – Quando morei em Porto Velho, tinha como missão organizar as comunidades e aplicar o modelo jesuíta de evangelizar e anunciar o Reino. A missão de Cristo era construir o Reino, então, a missão do jesuíta, como companheiro de Jesus, é fazer com que todas as pessoas possam participar desse reino. Lá, meu trabalho social foi iniciado com a atividade de alfabetização de adultos.
A atividade que mais me marcou na área social durante a minha formação foi no período em que morei em Belo Horizonte quando cursava teologia. Nesta ocasião, fui destinado a trabalhar com cursos alternativos de pré-vestibular para pessoas carentes. Ajudava grupos de jovens que não tinham possibilidade de cursar um curso pré-vestibular. Esse projeto foi iniciado por um americano, que estudava Teologia. Gostaria de ter continuado lá, mas a Companhia precisou de mim em outra atividade. Há pouco tempo estive em Belo Horizonte dando aula e pude conversar com duas pessoas que foram importantes na continuidade dessa atividade.
Lembro que os professores eram voluntários e recebiam vale-transporte e os alunos pagavam uma taxa mínima de R$ 5,00, R$ 10,00. Minha alegria era ver os professores se envolvendo com essa iniciativa. Hoje, muitos desses alunos são médicos, engenheiros, biólogos... Se não fosse esse trabalho, talvez eles tivessem mais dificuldade de ingressar na universidade. Até hoje fico feliz e realizado por ter participado dessa experiência. O bonito era conversar com eles e saber das conquistas e dificuldades. Foi um trabalho gratificante porque conseguíamos colher bons resultados.

CJ-CIAS – Hoje, estamos organizando, como província jesuíta do Brasil Meridional, alguns centros para construir cidadania, cada um com sua especificidade, uma rede entre eles. Esses centros vão tentar ser um espaço de oportunidades para as pessoas. Vamos oportunizar que os jovens aprendam uma profissão ou a tocar um instrumento. Outras atividades estão ligadas a área da saúde e a terceira idade.
O trabalho social que vamos desenvolver no Centro Jesuíta de Cidadania de Ação Social – CJ-CIAS envolve professores e alunos da universidade, além de outras pessoas da comunidade. Creio que esse será um trabalho social interessante para todos os envolvidos. A atividade da Companhia de Jesus no Sul do país é muito marcante nessa direção da ação social. Desde que os jesuítas chegaram no país, ajudaram as pessoas a se desenvolverem como comunidade, Igreja.
Atualmente temos o projeto ArteCriando, que está ligado à Associação Sociedade Antonio Vieira - ASAV, mas não está ligado a universidade.

Experiências – Digo que as experiências de Porto Velho e da Vila Duque foram as mais fortes na minha trajetória como pároco, por serem paróquias de periferia e, viverem ali, trabalhadores. A dimensão de poder viver junto com esse povo e observar a maneira deles viverem e expressarem a sua fé enriquece a nossa própria fé e fortalece a vocação e a disposição de trabalhar para que eles também tenham um futuro melhor.   

Lazer – Gosto de futebol e jogo, sempre que posso, toda sexta-feira, no Bairro da Kennedy. Aproveito as horas livre para ler e dedico um tempo para fazer palavras cruzadas. Na minha cabeceira tem sempre um quebra-cabeças e, antes de dormir, sempre faço uma. Nos finais de semana saio, se recebo algum convite, mas também gosto de ficar em casa. Quando posso, visito alguns parentes que moram em Antonio Prado.
Em alguns domingos rezo missa crioula. Os integrantes dos CTGs me convidam e passo o dia com eles. Quando cheguei a São Leopoldo, José Ivo Follmann disse que o pessoal do CTG iria me convidar para celebrar uma missa crioula. Eu disse que não celebraria porque não sou gaúcho e não sabia como fazer essa celebração. O pessoal insistiu e aceitei. Eles me ensinaram e, desde 2003, celebro, pilchado, a missa com eles.

Leituras – Gosto de livros de história e de literatura brasileira. Não tenho preferência por um autor, mas leio Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa.
O que me deixa apaixonado é estudar a Antiga Província Jesuítica do Paraguai. Minha dissertação de mestrado foi sobre uma atividade desenvolvida pelos jesuítas da antiga província do Paraguai. Não estudei as reduções porque já existem inúmeros trabalhos e pesquisadores sobre o tema. Com essa pesquisa, quis mostrar que os jesuítas da antiga província do Paraguai não desenvolveram só as reduções, mas também universidade, colégios, paróquias, missões populares.

Sonhos – Meu maior sonho é fazer com que o centro jesuíta de São Leopoldo possa crescer mais, possibilitando que as pessoas façam parte dessa atividade social e desse mundo melhor que todos queremos. Desejo ver o centro ser um grande instrumento para que as pessoas possam estar incluídas na sociedade e possam desempenhar seus valores e aptidões, seja na música, na arte ou qualquer outra atividade que vamos desempenhar.

Unisinos – O papel da universidade é justamente ser esse espaço de transformação e de ajudar a pessoa a se desenvolver na sua integralidade, não só na dimensão intelectual, mas também na dimensão religiosa, política, social e humana. Se a universidade conseguir desenvolver isso, ela dará uma contribuição enorme para a sociedade.

IHU – Acompanho o IHU desde que o conheci. Leio as revistas que estão mais relacionadas ao meu trabalho. Lembro da edição sobre os Guarani e Jesus Histórico. Também acompanho, diariamente, o site, que publica notícias sobre os principais temas em discussão na atualidade. O Brasil reconhece o trabalho do IHU. Quando viajo e comento que trabalho na Unisinos, o pessoal menciona o IHU. Indico o site do IHU para conhecidos e aproveitava artigos para as aulas. Percebo que o Instituto tem uma linha editorial clara, e uma postura que deve ser defendida porque não está ajudando somente a universidade, mas a comunidade, que fica informada sobre os principais debates presentes no país. Vejo no IHU um canal fantástico de informação e de realidade.

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