Edição 332 | 07 Junho 2010

A pílula anticoncepcional sob o olhar da medicina

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Graziela Wolfart e Márcia Junges

O médico Afonso Celso Pinto Nazário defende que não há relação da pílula com o surgimento de doenças, mas sim com o aumento ou diminuição de riscos de certas doenças

Em entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail, o médico ginecologista e professor da Unifesp, Afonso Nazário, esclarece questões práticas sobre o uso da pílula anticoncepcional. Ele lembra que “quando o anticoncepcional oral foi lançado, era utilizado principalmente pela mulher casada com prole constituída, que queria evitar uma nova gravidez”. No entanto, 50 anos depois, “o perfil da usuária mudou bastante; a mulher moderna começa a tomar o anticoncepcional muito jovem, com o objetivo de adiar a gravidez até a sua consolidação profissional. Assim, o objetivo primordial da pílula, isto é, evitar uma gravidez indesejada, foi plenamente alcançado”. E Nazário traz números para exemplificar o que diz: “na década de 70, a taxa de fecundidade da mulher brasileira era de 5,8 filhos e representava 28,8% da população economicamente ativa. Em 2007, a taxa de fecundidade caiu para 1,95 filhos e 43,6% da população economicamente ativa era constituída pelo sexo feminino”. 

Afonso Celso Pinto Nazário possui graduação em Medicina, e mestrado e doutorado em Medicina (Ginecologia) pela Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. Atualmente, é professor na Unifesp, onde também é chefe da disciplina de Mastologia e chefe do Departamento de Ginecologia.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Evitar gestações indesejadas, reduzir o número de divórcios e controlar o crescimento populacional e a pobreza eram os objetivos da pílula quando surgiu. Até hoje, a maior parte desses objetivos não aconteceu. Por quê?

Afonso Celso Pinto Nazário - Quando o anticoncepcional oral foi lançado, era utilizado principalmente pela mulher casada com prole constituída, que queria evitar uma nova gravidez.  O estilo de vida mudou bastante nos últimos 50 anos. A pílula facilitou o ingresso da mulher no mercado de trabalho e trouxe mais liberdade sexual. O perfil da usuária mudou bastante; a mulher moderna começa a tomar o anticoncepcional muito jovem, com o objetivo de adiar a gravidez até a sua consolidação profissional. Assim, o objetivo primordial da pílula, isto é, evitar uma gravidez indesejada, foi plenamente alcançado. De fato, na década de 70, a taxa de fecundidade da mulher brasileira era de 5,8 filhos e representava 28,8% da população economicamente ativa. Em 2007, a taxa de fecundidade caiu para 1,95 filhos e 43,6% da população economicamente ativa era constituída pelo sexo feminino.
 
IHU On-Line - Quais são as principais diferenças entre as pílulas do século XXI e aquelas que surgiram na década de 60?

Afonso Celso Pinto Nazário - A principal diferença é a dosagem hormonal, que hoje é de 5 a 10 vezes menor. Isto permitiu menos efeitos colaterais, aumentado a adesão da mulher ao método. Apesar da diminuição da dose, conseguiu-se a manutenção da sua eficiência, que é bastante alta.
 
IHU On-Line - Há relação entre o surgimento de doenças e o uso da pílula? Se sim, quais seriam elas?

Afonso Celso Pinto Nazário - Não há relação da pílula com o surgimento de doenças, mas sim com o aumento ou diminuição de riscos de certas doenças. A pílula, como qualquer medicamento, tem efeitos colaterais e contraindicações. Assim, não deve ser indicada em mulheres jovens com história pessoal de câncer de mama ou trombose venosa profunda. Por outro lado, seu uso por mais de um ano pode diminuir a incidência de certos cânceres femininos, como o do ovário e o do endométrio.
 
IHU On-Line - Em termos comparativos, qual é a vantagem no uso da pílula sobre os outros métodos anticoncepcionais?

Afonso Celso Pinto Nazário - Alta eficácia, custo relativamente baixo, praticidade e reversibilidade. Entende-se como reversibilidade o fato de que assim que para de tomar a pílula, a fertilidade retorna. Além da proteção contra a gravidez indesejada, a pílula pode melhorar a tensão pré-menstrual, a dismenorreia (cólica menstrual), a anemia causada pela menstruação, a oleosidade da pele e acne, entre outros efeitos benéficos. 

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