Edição 331 | 31 Mai 2010

São Sepé Tiaraju: exemplo heróico guarani

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Patricia Fachin

Segundo Antonio Cechin, não se pode falar de Sepé Tiaraju sem falar constantemente do povo guarani das Missões

“Sepé é Santo porque ele nasce num povo organizado e santo. Foi o próprio Jesus Cristo quem disse: ‘Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama’”. É com esta frase que Irmão marista, Antônio Cechin, define o herói dos guarani e um dos fundadores da Missão de São Miguel, Sepé Tiaraju. Na entrevista a seguir, concedida, por e-mail, à IHU On-Line, Cechin conta a trajetória do líder guarani e sua participação na guerra guaranítica contra os exércitos da Espanha e Portugal. “No dia em que tombou mártir na Sanga da Bica, hoje cidade de São Gabriel, começaram a invocá-lo como santo protetor junto de Deus e herói maior do povo guarani ao longo de toda a sua história”. Segundo Cechin, a figura de Sepé, além de ser constante inspiração para a luta indígena no Brasil, “funciona como sinuelo que puxa a frente da arrancada do continente para ser também AMERÍNDIA e não simplesmente América Latina”.

Antonio Cechin formou-se em Letras Clássicas e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, onde também foi professor. Fez sua pós-graduação no Centro de Economia e Humanismo, em Paris. Iniciou na Instituição Católica de Paris a especialização em catequese, quando foi chamado para o Vaticano, na Sagrada Congregação dos Ritos, no início da década de 1960. Depois, retornou ao Brasil e iniciou a luta junto aos movimentos sociais. Cechin participará de uma mesa redonda no XII Simpósio Internacional IHU – A Experiência Missioneira: território, cultura e identidade, onde abordará o tema Sepé Tiaraju. Mito Gaúcho? A programação completa está disponível no sítio do IHU.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual é a origem de Sepé Tiaraju?

Antônio Cechin - Os pesquisadores anseiam pela descoberta da certidão de batismo do índio
guarani Sepé Tiaraju. Como cristão já de terceira ou quarta geração, vivendo em época de cristandade, como, aliás, soía acontecer em todos os países católicos de então, o único documento válido para criar cidadania era o atestado de Batismo. Saberíamos hoje com total fidelidade, o nome dos pais, o ano e o local de nascimento, até mesmo que idade tinha quando sofreu o martírio.

O escritor Alcy Cheuíche , ao lado de outros, em biografias romanceadas do nosso herói-santo, fazem-no nascer na cidade missioneira de São Luís Gonzaga. Aos oito anos de idade, o menino Sepé teria ficado órfão de pai e mãe, vítimas da peste escarlatina. Já agonizantes, os progenitores teriam confiado o garoto ao Padre Miguel, jesuíta que, pouco tempo depois, teria “enxameado” com um bom número de índios, da Missão de São Luís Gonzaga para fundar a Missão de São Miguel Arcanjo, levando consigo Sepé, que havia adotado como filho. Além de outros títulos, Sepé seria também um dos fundadores da Missão de São Miguel – considerada, por muitos autores, a capital das Missões -, construída para celebrar os duzentos anos de fundação da Companhia de Jesus por Santo Inácio. Daí que a Igreja de São Miguel tenha resultado no monumento mais caprichado das 30 cidades missioneiras.

De tanto citar a Missão de São Luís Gonzaga como provável cidade natal de Sepé, o povo desta cidade missioneira começou a estufar o peito. Nasceu o orgulho de serem concidadãos do grande herói-santo, erigido em modelo para todos os prefeitos do Brasil. Há um par de anos, os briosos sãoluizenses, concretizaram suas homenagens a São Sepé Tiaraju num monumento de dois metros de altura, erguido na entrada da cidade. Trata-se, a nosso ver, da mais linda representação em estátua, que conhecemos: Sepé está a pé e não a cavalo como costuma aparecer sempre quando pintado ou esculpido. Quando a cavalo, o animal diminui o cavaleiro em importância visual, além de também estar mais próximo do chamado “gaúcho a pé” que é o pobre, contra o “gaúcho a cavalo” que é o típico latifundiário ou representante da classe
hegemônica.

IHU On-Line - O que Sepé Tiaraju representou e ainda representa para o povo guarani? Qual é a importância dele para a luta indígena no Brasil?

Antônio Cechin - Cumpre lembrar sempre que Sepé nasce no povo organizado. Não se pode falar dele sem falar constantemente do povo guarani das Missões. Para os contemporâneos, além de prefeito ou corregedor da cidade missioneira de São Miguel, eleito em votação secreta com participação de todos os moradores, no último dia do ano de 1749, Sepé que não era cacique, foi também o comandante-em-chefe da guerra guaranítica contra os exércitos de Espanha e Portugal. No dia em que tombou mártir na Sanga da Bica, hoje cidade de São Gabriel, começaram a invocá-lo como santo protetor junto de Deus e herói maior do povo guarani ao longo de toda a sua história.

O historiador Aurélio Porto , em seu livro História das Missões Orientais do Uruguai (2ª ed. Porto Alegre: Selbach, 1954, 2 vol.), diz textualmente: “Os assassinos atiraram o corpo de Sepé no mato que margina o rio. À noite, voltaram os índios que o acompanhavam para dar sepultura ao cadáver. Cavaram junto ao rio uma sepultura e o enterraram com a dor correspondente ao amor que lhe devotavam, celebrando suas exéquias com os hinos e cânticos que acostuma a Igreja, embora sem assistência de sacerdote” (Diário do Pe. Enis, pág. 258). Simões Lopes Neto  termina seu poema sobre Sepé dizendo: “E o lunar de sua testa / tomou no céu posição”. A partir daquele dia, o próprio rio foi chamado pelos índios de “Rio São Sepé”, designação que posteriormente se estendeu também para a cidade de São Sepé, que o rio acabou por atravessar quando uma povoação se estabeleceu em suas margens e, depois, virou cidade.

O povo guarani apoiado por todos os demais índios do Brasil e pelos movimentos populares acabam de introduzir o nome de Sepé Tiaraju no panteão da pátria. Ao lado de outros 16 heróis, Sepé Tiaraju é o 17° nome entre os mais ilustres brasileiros. Está no Senado Federal um projeto de lei esperando aprovação, com vistas a transformar o dia 7 de fevereiro, data do martírio, em “Dia nacional de Luta dos povos indígenas”. Eis aí, de corpo inteiro o Sepé herói guarani, missioneiro, rio-grandense e, agora, herói brasileiro também. Com isso merecedor de monumento em praça pública. Para os cristãos – índios, negros, movimentos populares etc. – Tiaraju, mais que um simples “Facho de Luz”, que o nome sugere, é um santo protetor, com direito também a um altar nas igrejas.

IHU On-Line - Qual foi o envolvimento de Sepé Tiaraju com o império espanhol, português e também com o Vaticano?

Antônio Cechin - Dentro do jogo aleatório da loteria geográfica a que o Tratado de Tordesilhas  deu origem no ano de 1494, os impérios europeus, de consciência tranquila pela aprovação que obtiveram do soberano universal, logo abaixo de Deus, que o papa significava, foram ocupando as terras do recém “descoberto” mundo novo, chamado América. Coube à Espanha invadir as terras que eram habitadas pelo povo indígena guarani do Paraguai e adjacências. A chamada conquista da América pelos impérios europeus causou o maior choque cultural da história, envolvido numa terrível chacina. Basta dizer que, no momento da “descoberta” do Brasil havia em nosso país em torno de cinco milhões de índios. Hoje restam em torno de pouco mais de trezentos mil.

Os “terra-tenientes” espanhóis, bem como os portugueses donos de sesmarias, uma vez instalados no continente americano, tornavam-se imediatamente escravocratas. Os índios submetidos a trabalhos forçados ou morriam após sete anos de atividades no máximo, ou ficavam de todo imprestáveis para qualquer trabalho.

Os padres jesuítas fizeram, com suas Missões, o contraponto à conquista dos imperialistas pelas armas. Com a cruz simbolizando a Boa Nova do Evangelho, conseguiram através da organização dos índios, primeiro em pequenas comunidades e depois em cidades, torná-los cidadãos livres dentro das reduções. Para tanto obtiveram até decreto do rei da Espanha que proibia a qualquer espanhol a penetração em território missioneiro.

Os portugueses bandeirantes ou paulistas foram os mais terríveis inimigos do povo guarani das Missões. Nada menos do que uns 115 mil índios foram roubados das cidades jesuíticas pela força, levados a ferro para São Paulo.

Os missionários conseguiram então autorização do rei da Espanha para formar em cada cidade um exército indígena. Aconteceu então a famosa batalha de M’Bororé  em que os índios foram vencedores. Os mamelucos paulistas, a partir dessa vitória indígena, deixaram em paz os índios durante 150 anos. Foi o período áureo das Missões.

A cobiça dos Sete Povos das Missões por parte dos Portugueses, a cuja frente estava o Marquês de Pombal  culminou  com o Tratado de Madrid aonde se mancomunaram os dois impérios de Espanha e Portugal. No dia 13 de janeiro de 1750, estabeleceram a troca dos Sete Povos do Rio Grande sob o domínio espanhol, pela Colônia do Sacramento sob o domínio português. Foi aí que se agigantou a figura do Prefeito ou Corregedor de São Miguel, nosso santo-herói Sepé Tiaraju. Tombou como mártir pela justiça, na chamada guerra guaranítica, ao lado de 1.500 companheiros, ao grito de “Esta terra é nossa! Nós a recebemos de Deus e do Arcanjo São Miguel! Somente eles nos podem deserdar!”

IHU On-Line - Qual foi a participação de Sepé Tiaraju na Guerra Guaranítica?

Antônio Cechin - O corregedor ou prefeito de São Miguel das Missões, Sepé Tiaraju, tomou posse do cargo a que foi eleito no dia 1° de janeiro de 1750. Depois de apenas 13 dias na função – 13 de janeiro de 1750 – Sepé nem podia imaginar que na capital da Espanha estivesse sendo assinado pelos imperialistas o famigerado Tratado de Madrid. Os guarani dos Sete Povos teriam que se bandear para o outro lado do rio Uruguai. O artigo 16 do tratado estabelecia: “Das povoações ou Aldeias que cede Sua Majestade católica na margem oriental do Uruguai, sairão os Missionários com todos os móveis e efeitos, levando consigo os índios para aldear em outras terras de Espanha; e os referidos índios poderão levar também todos os seus bens móveis e semoventes, e as Armas, Pólvora e Munições, que tiverem: em cuja forma se entregarão as Povoações à coroa de Portugal, com todas as suas Casas, Igrejas e Edifícios e a propriedade e posse do terreno.”

O decreto causou um verdadeiro terremoto na República Guarani. Não podemos sequer imaginar o que se teria passado na alma e no coração de Sepé, a partir da responsabilidade que havia assumido como Prefeito da cidade principal dos Sete Povos. Ele fez de tudo, em comunhão com os Padres, para ver se conseguiam convencer os impérios europeus do crime que significava o Tratado. Tudo se mostrou inútil. Sepé não teve outra saída para garantir terra e pátria para seu Povo do que mover uma guerra contra as duas maiores potências militares da Europa de então.

O exército português partiu da Colônia do Sacramento com o fim de tomar as Missões rumo a Santo Ângelo e o exército espanhol saiu de Buenos Aires em direção à Missão de São Borja. Sepé primeiro segurou o avanço dos espanhóis na altura de Uruguaiana, unindo-se aos índios charruas, seus amigos. Depois segurou o exército português na altura da cidade de Rio Pardo. Aqui foi feito prisioneiro quando tentou parlamentar com o comandante português.

Conseguiu fugir e retomar a luta. Portugueses e espanhóis, exércitos separados num primeiro momento, viram que, se Sepé conseguisse o apoio de todos os povos da República que eram em número de 30, a “indiada” se tornaria invencível. Por isso Gomes Freire de Andrade teve que assinar um armistício com Sepé. Como o papel aceita tudo quando se trata de um forte contra um fraco, esse armistício serviu apenas para que os dois exércitos europeus buscassem mais reforços e se unissem para a luta. Na altura de Rio Pardo, os militares de Espanha e Portugal se uniram e começaram a subir em direção aos Sete Povos.

Em São Gabriel, na região chamada Batovi, o exército dos índios lhes faz frente. Sepé, que na Missão havia feito um curso de artes marciais e que se tinha tornado um bom estrategista, logo se deu conta que em guerra tradicional não teria sucesso, por isso, durante todo o tempo em que esteve à frente da luta, organizou uma guerra de pouco intensidade, a chamada guerrilha.

IHU On-Line - Como o senhor descreve Sepé Tiaraju enquanto líder máximo da causa indígena no país e símbolo de resistência?

Antônio Cechin - Diante da extraordinária figura do herói-santo, o índio missioneiro guarani
Sepé Tiaraju, nossas gerações do presente e do futuro, a exemplo das passadas, devem se inclinar reverentes. Por isso faço minhas as palavras do escritor rio-grandense Manoelito de Ornellas  em seu livro de intitulado TIARAJU e com o sub-título O santo e herói das tabas (Editora Alvorada): “Quando os povos não encontram na História a figura de sua glória imortal ou de sua própria grandeza, vão buscá-la nos mundos mágicos da fantasia. Ainda assim, o historiador não tem o direito de eliminá-la. E se o historiador quiser destruí-la, cabe ao artista restituir-lhe o vigor e a beleza da vida. Foi o conselho de Cassiano Ricardo ”.

O Rio Grande do Sul não necessita criar uma figura imaginária. Pode oferecê-la ao Brasil, em carne e osso, na sua realidade histórica. Ela é tão grande, que sua grandeza sobressaiu da história para entrar na lenda, e não saiu da lenda para entrar na história. Sepé Tiaraju, perece às portas dos Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai, à vanguarda dos índios missioneiros, enfrentando os exércitos imperialistas de Espanha e Portugal, em defesa do território da Pátria natural, ainda quase virgem do pé civilizado do europeu, madrugando para a América; pátria telúrica, politicamente indefinida, mas pátria; terra onde nascera, chão nativo, onde plantara seu rancho e acendera seu fogo. Sepé é o primeiro pronunciamento de uma consciência rio-grandense. Morreu lutando contra a Espanha e Portugal, por que a terra que defendia era sua e de seus irmãos, tinha dono, fora de seus pais e seria de seus filhos. Sepé ensina à mocidade do Brasil que esta terra tem dono e convida os jovens brasileiros a preservar autônoma, livre, soberana e cristã, esta pátria que nós recebemos de nossos maiores. Que a figura de Sepé Tiaraju, morrendo no solo gaúcho, pela terra rio-grandense, trazendo ao peito a cruz de seu rosário, seja uma eterna visão seráfica ao espírito livre da mocidade do Brasil”.(Tiaraju – o santo e herói das tabas. Editora Alvorada – 1966 – Porto Alegre).

IHU On-Line - Qual é a contribuição de Sepé para a construção do imaginário indígena?

Antônio Cechin - Quando criamos no Rio Grande do Sul a ANAÍ - Associação Nacional de Apoio ao Índio, há 50 anos atrás, as Comunidades Indígenas se apresentavam tão fragilizadas que, em cartazes distribuídos por todo o Estado, tínhamos como lema “O futuro do índio está na consciência do branco!” Se não mobilizássemos o entorno dos índios constituído de maneira esmagadora pelos brancos, o índio não teria salvação.

Hoje através da exaltação de Sepé quadruplicadamente herói, e ao mesmo tempo santo, os índios do Rio Grande e do Brasil estão se empoderando mais e mais, partindo para suas lutas de libertação. Haja vista para o que aconteceu com a verdadeira guerra que fizeram e, com sucesso, os índios do extremo norte do Brasil em Raposa Serra do Sol . Aqui no extremo sul, por ocasião dos 250 anos do martírio de São Sepé Tiaraju e mil e quinhentos companheiro, no ano de 2006, com o amplo apoio dos Movimentos Populares, os índios conseguiram inscrever seu herói no panteão brasileiro com o número 17 ao lado de Tiradentes, Zumbi dos Palmares , Dom Pedro I e outros.

As Comunidades Eclesiais de Base, como autêntica Igreja da Libertação, fizeram no dia comemorativo dos 250 anos do martírio, uma nova canonização popular de São Sepé, desencadeando a ereção de monumentos em praças públicas como está para acontecer na cidade de Canoas. Se com os negros foi criado o lema “ser negro é bonito”, os índios estão pensando em criar o lema “ser índio é nobre”, já que são da estirpe da nobreza de São Sepé Tiaraju. Sepé funciona como sinuelo que puxa a frente da arrancada do continente para ser
também AMERÍNDIA e não simplesmente América Latina.

IHU On-Line - Qual é a influência do povo guarani na constituição da cultura gaúcha?

Antônio Cechin - O Povo de Deus, na Bíblia, num de seus poemas que são os salmos, canta:
“Jerusalém foi construída sobre o monte santo... De Jerusalém (Sião), será dito: Todo homem aí nasceu!... E cantarão: Em ti se encontram todas as minhas fontes!”

O Povo de Deus hoje, do Rio Grande do Sul, que são todas as pessoas de fé, deve também dizer e cantar: “Nas Missões dos Sete Povos, não só nasceu São Sepé Tiaraju, mas também todos nós nascemos!” Aí estão nossas raízes da melhor cidadania com a possibilidade de um projeto de nação eminentemente solidária. A Constituição Brasileira afirma com todas as letras que o nosso Brasil é uma nação multi-étnica. O povo-raiz, para grande orgulho nosso é o povo guarani, o povo missioneiro. Nossos Caminhos vão sendo iluminados por Tiaraju, o “Facho de luz”.

É uma lástima que o “gauchismo” que anda por aí substituindo Sepé e as Messões Jesuíticas, nosso glorioso nascimento, pela revolução farroupilha que foi uma guerra entre os grandes fazendeiros em que o povo nada teve a ver, esteja tomando o lugar nobre de nossas origens. Aos poucos, com a força dos movimentos populares, estamos colocando as coisas no seu devido lugar. Se Deus quiser, faremos a reconciliação de nosso Rio Grande consigo mesmo que é a reconciliação com a cultura guarani de nossos primórdios, guarani e missioneira.

IHU On-Line - Por que Sepé Tiaraju recebeu o título de santo popular? A que o senhor atribui o reconhecimento dele não só pelo povo guarani, mas também pelos gaúchos?

Antônio Cechin - Sepé é Santo porque ele nasce num povo organizado e santo. Foi o próprio
Jesus Cristo quem disse: ‘Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama”. Muito bem catequizados pelos padres, os índios, no dia mesmo do martírio de Sepé Tiaraju e seus mil e quinhentos companheiros, os canonizaram no instante mesmo em que haviam derramado seu sangue por amor a todos os habitantes dos Sete Povos, ansiosos por Terra, Paz, Justiça. Trata-se de mártires dos direitos humanos como os chamaríamos hoje.

Como índios, iniciadores da Igreja em nossa terra, nada mais fizeram do que imitar os primeiros cristãos de Roma. Quando os imperadores pagãos martirizavam algum cristão, seus irmãos, em geral, à noite, iam resgatar os corpos dos assassinados pela causa da fé e da justiça, enterravam-nos com todas as honras e imediatamente, em cima das relíquias preciosas, celebravam a Missa e todos os demais sacramentos. Dom Hélder Câmara  nosso bispo-profeta, por ocasião do Concílio Vaticano II , promoveu o “pacto das Catacumbas” em Roma. Quis, com esse gesto, reconciliar a Igreja de hoje, com a Igreja dos começos do cristianismo que foi uma Igreja de escravos, de gente pobre e de mártires. Em nosso Rio Grande ainda nos falta essa reconciliação entre nossa Igreja-ano-2010 com a Igreja Missioneira. O que falta também é que o tal gauchismo a cavalo, dos grandes, particularmente dos latifundiários se reconcilie com a civilização eminentemente solidária vivida pelo povo guarani de ontem e de hoje.

Leia mais...

Confira outras entrevistas concedidas por Antonio Cechin à IHU On-Line.

• A Páscoa cristã e a Pessach judaica: origens, relação e atualidade. Entrevista com Guershon Kwasniewski, Cleide Schneider e Antônio Cechin, publicada em 1-4-2010, nas Notícias do Dia;
• “A partir do Natal do Menino Jesus, a Esperança não morre nunca mais, porque seremos imortais”, publicada em 5-1-2009, nas Notícias do Dia;
• Encruzilhada Natalino, 30 anos. O nascimento de um acampamento, publicada nas Notícias do Dia, em 5-8-2008;
• A tragédia da silvicultura em terra Guarani. Entrevista especial com José Bassegio e Irmão Antonio Cechin, publicada nas Notícias do Dia, em 13-5-2008;
• 'Querência amada ofende a sensibilidade religiosa dos cristãos sul-riograndenses e brasileiros', publicada em 2-11-2007, nas Notícias do Dia;
• 'Os pobres me evangelizaram', publicada em 10-6-2007, nas Notícias do Dia;
• A utopia da terra sem males, publicada em 23-2-2007, nas Notícias do Dia.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição