Edição 328 | 10 Mai 2010

Parques tecnológicos e científicos. Um destaque no Rio Grande do Sul

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Patricia Fachin

Na avaliação da economista Maria Alice Lahorgue conhecimento e empresas de base tecnológica são pontos-chave para a solidificação de qualquer plano de desenvolvimento imaginável

O projeto de criar incubadoras nas universidades gaúchas deu origem aos parques tecnológicos e científicos instalados na região metropolitana do Rio Grande do Sul. Para entender a expansão desse projeto em todo o estado e, especialmente no Vale do Rio dos Sinos, a IHU On-Line conversou com a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Maria Alice Lahorgue. Na entrevista que segue, concedida, por telefone, ela diz que esses parques estão instalados em cidades universitárias e explica que “existe um movimento no mundo inteiro de relocalização de estruturas de pesquisa e desenvolvimento. Essas estruturas acabam buscando lugares que tenham características como um certo ar cosmopolita e universidades de qualidade”.

Na opinião da pesquisadora, uma das oportunidades para o Brasil “é a atração de centros de pesquisa e desenvolvimento estrangeiro”, pois, além de buscarem mão-de-obra qualificada, eles podem agregar valor nos produtos nacionais, embora a tradição agrícola no país ainda seja representativa. 

Para Maria Alice, “o Rio Grande do Sul está bem aquinhoado. A região metropolitana é um local muito privilegiado porque tem grandes universidades, um parque industrial e de serviços de alta tecnologia bastante importante”. Sobre as polêmicas em torno de empresas estrangeiras instaladas em território nacional, ela afirma que não é possível negar a importância do investimento direto estrangeiro, mas é preciso considerar também que “a base do desenvolvimento contemporâneo são esses elementos encontrados no próprio território local”. E reitera: “Às vezes, isso passa despercebido por alguns gestores, mas, sem essa base local, não irá acontecer nada. Sem essa base local, não temos capacidade de absorver o que essas empresas têm capacidade de trazer.” 

Maria Alice Lahorgue possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em Analyse et Aménagement de l'espace - Université de Paris I e doutorado em Sciences Économiques - Université de Paris I. Atualmente, é professora de economia regional nos programas de Pós-Graduação em Economia e em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Também é secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência RS e diretora-geral do Instituto Christiano Becker.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Que aspectos estão favorecendo o surgimento de parques e polos tecnológicos no Rio Grande do Sul?

Maria Alice Lahorgue - Existem vários fatos que estão impulsionando a instalação de parques tecnológicos no estado. Essa história começa especificamente na região metropolitana, ainda nos anos 90. Em 1994, uma série de lideranças da região, entre elas o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (Helgio Henrique Casses Trindade), o reitor da Pontifícia Universidade Católica – PUCRS (Norberto Francisco Rauch), o reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos (Aloysio Bohnen), e o então prefeito de Porto Alegre (Tarso Genro), naquela época iniciaram um movimento no sentido de fortalecer a economia metropolitana com agregação de valor, aproveitando as oportunidades abertas pela economia do conhecimento. Essa iniciativa fez com que esse grupo criasse um projeto que se chamou Porto Alegre Tecnópole, o qual abrangeu toda a região metropolitana. A partir desse movimento, foram estabelecidas algumas ações prioritárias que seguiram dois sentidos. O primeiro estava relacionado à criação de empresas de base tecnológica, aproveitando a capacidade instalada em termos de ciência e tecnologia na região; o outro vetor desse projeto visava a buscar que setores mais tradicionais também introduzissem inovações e fossem capacitados para a gestão da inovação. Assim, no primeiro momento, antes de se pensar na construção de parques tecnológicos, começaram a ser criadas as incubadoras de empresas. Esse movimento foi se espalhando pela região metropolitana por estar dentro da estratégia do Porto Alegre Tecnópole, mas também por uma política do governo federal, que começou a beneficiar esse tipo de empreendimento.

Essas incubadoras passaram a participar ativamente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores - Anprotec e de missões promovidas pela instituição e pelo Porto Alegre Tecnópole, que consistiam em visitar experiências externas sobre incubadoras e parques, especialmente. Nessa trajetória, a pioneira em termos de parques tecnológicos foi a PUCRS. Irmão Norberto Francisco Rauch havia participado desde o início do Porto Alegre Tecnópole e visitou diversos parques em todo o mundo. O segundo impulso veio por meio do empresariado, que constituiu o polo de informática de São Leopoldo, instalado na Unisinos. Esse impulso, de um lado acadêmico, e, de outro lado, empresarial, fez com que outras instituições e universidades se dessem conta da oportunidade potencializada por esses projetos. Então, a partir dos anos 2000, começa a surgir uma série de movimentos para que, além das incubadoras, se tivesse também, nas universidades, parques tecnológicos.

Um dos impulsos para a formação de parques tecnológicos no Brasil está relacionado com o próprio processo de incubação anterior. As empresas incubadas não só têm um ambiente protegido, como convivem num espaço de pesquisa, estão próximas de uma universidade, têm o apoio da estrutura de ciência e tecnologia dessa instituição. Elas convivem num meio muito rico em termos de novas ideias, que podem se transformar em novos produtos ou serviços para o mercado. Quando elas desincubam, ou seja, graduam-se, acabam, de certa forma, cortando esse laço com a universidade, o qual é muito importante para que uma pequena ou média empresa continue inovando. Esse distanciamento que acaba acontecendo depois do processo de incubação foi percebido, por exemplo, pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet - ASSESPRO , que, analisando a evolução das empresas associadas, deu-se conta de que elas precisavam voltar ao ambiente acadêmico, de pesquisa, para continuar inovando. Então, um dos grandes impulsos que o processo de formação de parques tecnológicos teve foi essa necessidade de ter as empresas graduadas muito perto da academia. O outro ponto-chave é o fato de que existe um movimento no mundo inteiro de relocalização de estruturas de pesquisa e desenvolvimento. Essas estruturas acabam buscando lugares que tenham características como um certo ar cosmopolita, universidades de qualidade. Por isso, não é de estranhar que essas estruturas estrangeiras estejam se instalando nas regiões metropolitanas.

IHU On-Line - Em que outras regiões do estado estão surgindo parques científicos e tecnológicos? Eles estão instalados apenas em cidades universitárias?

Maria Alice Lahorgue - Um parque tecnológico, por definição, necessita de uma estrutura de ciência e tecnologia próxima porque se imagina que um parque desses vá abrigar empresas de base tecnológica cujo principal produto é a inovação. Ninguém faz inovação longe de um centro de pesquisa e desenvolvimento e sem ter uma “bacia”, como chamamos, de pessoal altamente qualificado. Esses dois elementos são encontrados onde existe uma universidade grande. Por isso, quando analisamos a geografia desses parques, vamos encontrá-los onde tem uma infraestrutura montada. As empresas de base tecnológica precisam estar perto de onde os problemas que elas irão encontrar no seu desenvolvimento possam ser resolvidos. No estado, os polos se encontram também em Caxias, e Pelotas, que lançou, no mês passado, o seu parque tecnológico.

IHU On-Line - Quais os potenciais dos parques tecnológicos e científicos? Como podem contribuir para a economia estadual e regional?

Maria Alice Lahorgue – O governo do Rio Grande do Sul começa a reconhecer a importância da inovação dos parques tecnológicos para o desenvolvimento do estado. O fato de existir um edital com R$ 10 milhões para apoiar os parques tecnológicos do estado mostra isso. Na realidade, penso que o parque é um instrumento de desenvolvimento e consolidação de empresas de base tecnológica, e elas são importantes. Essas instituições têm potencial não só para desenvolver produtos de maior valor agregado, mas também têm condições para redinamizar setores mais tradicionais. Hoje, elas ainda são pequenas no sentido de empregabilidade, mas, por meio desse setor pequeno, é que podem surgir grandes oportunidades dos setores tradicionais.

O Rio Grande do Sul é, tradicionalmente, um transformador de produtos primários. Temos uma agricultura forte e uma cadeia agroindustrial que representa muito de toda a indústria gaúcha e, inclusive, de boa parte dos nossos serviços. Essas empresas de base tecnológica, ao aportar produtos novos de alto valor agregado no mercado, têm a capacidade de redinamizar os setores mais tradicionais com novos processos, onde a eletrônica é fundamental, como as pesquisas em biotecnologia, por exemplo, e assim por diante. Conhecimento e empresas de base tecnológica são chave de qualquer plano de desenvolvimento que podemos imaginar.

IHU On-Line - Os parques tecnológicos são compostos por empresas genuinamente gaúchas, mas também por empresas internacionais. As tecnologias desenvolvidas pelas empresas estrangeiras são utilizadas também no Brasil, ou elas apenas utilizam a mão-de-obra nacional, recebem incentivos, mas investem no exterior?

Maria Alice Lahorgue – A questão dos impactos sobre o desenvolvimento tecnológico dos países e o impacto do investimento direto estrangeiro sobre o desenvolvimento tecnológico dos países é uma discussão enorme no mundo todo. Existem aqueles que são indiferentes, os que consideram isso um horror, e até uma maravilha; todos estão munidos de diversos números possíveis e imagináveis. Então, é uma discussão que ainda está sendo feita.

O fato é que uma das oportunidades para o Brasil, e eu chamaria a atenção para a região metropolitana de Porto Alegre, é a atração de centros de pesquisa e desenvolvimento estrangeiros. Esses centros estão se localizando em alguns pontos do mundo e buscam mão-de-obra qualificada, uma localização cuja logística seja conveniente porque normalmente eles precisam ter comunicação fácil com outros centros.

Evidentemente, qualquer multinacional deixada ao seu livre arbítrio vai buscar manter qualquer desenvolvimento dentro dos seus limites. As empresas também precisam ter algum tipo de reciprocidade, que, ainda hoje, está muito relacionada com a política interna de cada parque. Então, alguns parques exigem mais dessas empresas e outros menos. Não temos uma política mais segura dos investimentos que ficam no Brasil e dos que vão para o exterior. Esses polos e parques representam uma grande oportunidade para as empresas que têm menor capacidade de manter grandes centros de pesquisa. Esse é um mundo que está em movimento, as questões não estão ainda perfeitamente cristalizadas.

O que se sabe é que pensar única e exclusivamente na atração de investimento externo para desenvolver qualquer território não é suficiente. Precisamos trabalhar com aquilo que endogenamente se tem. Nesse sentido, o Rio Grande do Sul está muito bem aquinhoado. A região metropolitana é um local muito privilegiado porque tem grandes universidades, um parque industrial e de serviços de alta tecnologia bastante importante. O que existe no estado de alta tecnologia está localizado na região. Então, essas questões polêmicas precisam ser trabalhadas sem negar a importância do investimento direto estrangeiro, mas sabendo que a base do desenvolvimento contemporâneo são esses elementos encontrados no próprio território local. Às vezes, isso passa despercebido por alguns gestores, mas, sem essa base local, não irá acontecer nada. Sem essa base local, não temos capacidade de absorver o que essas empresas têm capacidade de trazer.

IHU On-Line - Pensando em uma perspectiva nacional, qual o potencial desses parques para inserir o Brasil no mercado tecnológico? O país terá condições de agregar valor em seus produtos?

Maria Alice Lahorgue – O que vale para o Rio Grande do Sul, vale para o Brasil. Os parques não são todos iguais. Conheço a situação do estado do Pará, e os parques lá têm funções diferentes das do Tecnosinos (Unisinos) e do Valetec (Feevale). Ele funciona como uma plataforma de desenvolvimento, de fomento ao empreendedorismo, à criação de capital social de acordo com a região. Então, o entendimento que a Anprotec tem buscado disseminar entre os associados é de que os parques e as incubadoras devam funcionar muito ligados à realidade local e regional. Essa realidade, muitas vezes, pede funções que vão além da simples localização e manutenção de elos com a academia, ou seja, vão realmente no sentido de apoiar a organização daquele território para a inovação.

Em relação à agregação de valor nos produtos nacionais, vejo que o Brasil tem um longo caminho a percorrer. Temos uma base de exportação que tem um lado fortemente agrícola. O Rio Grande do Sul é um exportador primário, industrial com baixo valor agregado. Mudar esse status quo, para um país que tem as dimensões do Brasil, e que tem, na agricultura, uma das suas grandes forças, não é exatamente uma tarefa fácil ou factível porque essa exportação de baixo valor agregado vai permanecer por muito tempo. Um dos papéis do Brasil no mundo é fornecer alimento. Por outro lado, existe, no país, no âmbito federal e de alguns estados, uma busca de fortalecer essas pequenas empresas de base tecnológicas, que poderão ser a semente de um grande parque industrial e de serviço de alta tecnologia que possa mudar uma parte importante da nossa pauta de exportação. Entretanto, sabemos que, na maior parte das empresas tradicionais, aquelas que detêm maior número de empregos e maior participação nas exportações, essa inovação ainda é obtida via equipamento. Basta analisar os dados da Pintec  para perceber que a grande via de inovação das empresas nacionais - das poucas que inovam - é ainda a compra de equipamento.

Futuro

O país está no caminho certo, sem dúvida alguma. Várias ações foram tomadas nos últimos tempos. O Prime – Primeira Empresa Inovadora, programa da Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, por exemplo, visa a consolidar a empresa nascente dando condições para que o desenvolvimento do seu produto seja feito ao mesmo tempo em que trabalha a gestão da empresa. Temos também uma ação do CNPq que objetiva capacitar o pequeno empresário para a gestão da inovação. Existe um arcabouço voltado para a consolidação desse processo de inovação, mas, ao mesmo tempo, temos uma estrutura industrial e de serviços que tem suas tradições e que não vê ainda, talvez, nessa inovação além máquina, benefícios tangíveis. Então, essa realidade parece algo longínquo.

IHU On-Line – Então o Brasil não irá sair tão cedo da era industrial e ingressar numa nova perspectiva tecnológica?

Maria Alice Lahorgue – Temos muito caminho a percorrer, ainda mais com a indústria perdendo importância em termos de produto total. Tem muita coisa a ser feita nessa indústria tradicional, que é uma grande empregadora. Mesmo na área de serviços, é preciso avançar no sentido de sistemas informáticos, design.

Ainda vai demorar muito para o Brasil se transformar num país totalmente high-tech, até porque alguns locais podem se transformar nesse paraíso, mas a realidade brasileira pede ações um pouco antes do high-tech, embora nossas necessidades sejam muitas.

Os dados de todos esses processos de extensão tecnológica chegam à mesma conclusão: a pequena empresa primeiramente tem problemas seriíssimos de gestão, às vezes, o próprio layout dela é inadequado. No Porto Alegre Tecnópole, teve um programa de extensão tecnológica chamado Tecnópole a domicílio. Com esse projeto, foi possível perceber que 80% de todos os problemas primeiros que as empresas traziam eram de gestão. Não eram problemas que ciência e tecnologia pudessem resolver. Então, temos um país complexo, onde uma parte está muito avançada, até porque o país tem avançado muito em ciência e tecnologia. Por outro lado, temos um país médio, com empresas que investem em máquinas novas e sobrevivem no mercado, e um país que ainda precisa de necessidades básicas, onde ciência e tecnologia podem auxiliar.

IHU On-Line – O Rio Grande do Sul avançou muito em ciência e tecnologia nas duas últimas décadas?

Maria Alice Lahorgue – O que houve no estado foi a conscientização de uma outra vertente de desenvolvimento possível. Nós temos universidades de excelência, e elas fazem pesquisas que estão alinhadas com o que está sendo feito internacionalmente e também alinhadas com as questões regionais. Isso é de uma enorme riqueza. Só que essa riqueza, até os anos 90, sobrevivia independente. O que foi visto na década de 90 é que a sociedade poderia se beneficiar desse manancial de conhecimento existente nas nossas universidades. Então, desse ponto de vista de conscientização de atores importantes, se avançou muito. Se analisarmos os dados de São Leopoldo nos últimos dez anos é possível encontrar segmentos de indústria e serviço que não existiam. Está acontecendo uma reestruturação interna, mas ela é lenta. O governo do Estado, de maneira geral, ainda está custando a entender a importância que ciência, tecnologia e inovação têm para o desenvolvimento do estado. Eu disse que R$ 10 milhões de reais destinados aos parques é uma boa notícia, mas ainda falta cumprir com a totalidade do repasse constitucional para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - Fapergs, que não aconteceu nunca, mas que outros estados do país vêm fazendo com propriedade. Minas Gerais e São Paulo são dois exemplos que vêm aplicando a totalidade do repasse constitucional para a sua fundação de apoio à pesquisa. A situação da Fapergs este ano melhorou, mas está muito aquém do que seria possível. Estamos pensando num orçamento executável em torno de R$ 25 milhões, enquanto Minas Gerais está executando R$ 280 milhões. Ainda temos muito a fazer, falta reconhecimento da importância estratégica de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento, no âmbito do governo do Estado.

IHU On-Line - Os parques de uma mesma região metropolitana seguem ou devem seguir a mesma perspectiva?

Maria Alice Lahorgue – Os parques de uma região metropolitana estão liberados dessa face de plataforma local porque o desenvolvimento em relação à inovação já acontece na região. Portanto, eles não precisam fazer isso diretamente, como é o caso de um parque tecnológico em Santarém ou Marabá, no Pará. Entretanto, eles têm um papel muito importante nas redes de organização que buscam pensar a região, o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação na região, até porque eles têm o feedback de mercado e de uma organização que vê mercado, mas vê academia também. O polo é uma organização híbrida nesse sentido: ele tem um pouco de academia e um pouco de mercado, e precisa equilibrar esses dois lados para não se voltar apenas para o mercado e não conseguir concretizar o potencial de ciência e tecnologia existente em sua instituição, ou se voltar apenas para a academia e esquecer a empresa. Mesmo que eles estejam liberados de ser uma plataforma de desenvolvimento pelas características da região, eles têm um papel importante – que não pode ser abdicado – de trazer empresas de todo porte.

IHU On-Line – Esses parques interagem de alguma maneira com empresas tradicionais já situadas na região, pensando em tecnologia para elas, por exemplo?

Maria Alice Lahorgue – Isso é mais raro, mas, dependendo do tipo de produto, as empresas podem direcionar soluções de problemas de empresas tradicionais. O parque, quando funciona como plataforma de desenvolvimento, com certeza pode manter uma relação mais próxima. Se é um dinamizador do sistema Fibratec, ou se é um dinamizador da disseminação da cultura inovadora, de empreendedorismo na região, é fundamental para dinamizar os setores tradicionais. Agora, alguns vão fazer isso especialmente naquelas situações em que a região não responde muito claramente às questões de inovação e de empreendedorismo. Em outras, como a região metropolitana de Porto Alegre, talvez não seja tão direta essa relação de apoio à dinamização de setores mais tradicionais.

IHU On-Line - Que transformações econômicas, sociais e culturais estão ocorrendo no Brasil e no estado a partir desses parques tecnológicos?

Maria Alice Lahorgue – O raio de ação de uma incubadora tende a ser pequeno, é um movimento que se restringe às instituições que abrigam essas empresas. O parque, por outro lado, é um grande empreendimento. Não existe parque com menos de 10 mil metros quadrados de área construída, e todos têm um espaço visível muito maior. Isso significa que eles têm um impacto sobre a população. Esse impacto se dá de várias formas. O próprio planejamento das cidades precisa rever questões de mobilidade urbana porque, de repente, o número de pessoas que se dirigem para um mesmo local aumenta. Além disso, esses novos indivíduos podem ter outro tipo de necessidade. Vejo que existe um impacto muito mais direto sobre a vida da cidade, e ele se dá também no imaginário da cidade. Ter um empreendimento desses, que gera empregos e se transforma em exemplo a ser seguido, mexe com o imaginário de qualquer cidadão. Então, o impacto de um parque tecnológico pode ser extremamente positivo porque ele serve de efeito demonstrativo para outras ações de inovação. Ao mesmo tempo, tem o outro lado da moeda. A questão de sustentabilidade dos parques e de manutenção para que funcionem corretamente demanda uma gestão muito cuidadosa porque ele pode se transformar num elefante branco, e isso não é um bom negócio para a cidade. Então, um parque tecnológico deixa de ser uma decisão meramente institucional. Podem ser tomadas decisões internas, mas há impactos que vão muito além da instituição gestora.

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