Edição 324 | 12 Abril 2010

Uma espécie ameaçada e adaptável

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Graziela Wolfart e Patrícia Fachin

Segundo Ricardo Carrere, a biodiversidade mundial tende a ser cada vez mais padronizada e menos diversa

Na opinião de Ricardo Carrere, editor do Boletim Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, “a civilização moderna, baseada em uma economia de consumo, converteu-se na maior ameaça para a biodiversidade, tanto vegetal e animal como para a própria diversidade humana”. Entretanto, em entrevista à IHU On-Line, por e-mail, ele frisou que a “a espécie humana sabe se adaptar a muitos ambientes diferentes e interagir positivamente com os mesmos”.

Carrere mencionou ainda que diversos fatores contribuem para o desaparecimento das espécies. Entre eles, ele cita a “imposição de um modelo social, econômico e político desenvolvido durante os últimos séculos”, fatores físicos e culturais, que acontecem “pela destruição de culturas ancestrais em todo o mundo”. Com isso, assegura, “o mundo tende a uma cultura cada vez mais padronizada e, portanto, menos diversa.”

Carrere é técnico florestal da Escuela de Silvicultura de Madonado, Uruguai, e coordenador Internacional do Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales, organização internacional que busca assegurar a proteção dos bosques e os direitos dos povos que os habitam.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Para o senhor, qual o significado completo de biodiversidade?

Ricardo Carrere - Biodiversidade abrange não somente os três elementos incluídos na definição oficial (genes, espécies e habitats), mas também a diversidade geográfica e cultural.

IHU On-Line - Qual a importância da iniciativa da ONU em declarar 2010 como o ano internacional da biodiversidade?

Ricardo Carrere - Como aspecto positivo: serve como oportunidade para dar mais visibilidade ao tema e para tornar possível a tomada de algumas decisões para protegê-la. Como aspecto negativo: serve como cortina de fumaça para evitar que se saiba que a maioria das medidas que os governos adotam (e até organismos das Nações Unidas) atentam contra a biodiversidade do planeta.

IHU On-Line - Como o senhor qualifica a presença dos seres humanos na biodiversidade do planeta Terra?

Ricardo Carrere - A civilização moderna, baseada em uma economia de consumo, se converteu na maior ameaça para a biodiversidade, tanto vegetal e animal como para a própria diversidade humana.

IHU On-Line - Quais os riscos de desconsiderar a espécie humana quando se fala em biodiversidade? O que podemos estar perdendo sem nos darmos conta? 

Ricardo Carrere - A espécie humana sabe se adaptar a muitos ambientes diferentes e interagir positivamente com os mesmos. A ausência de humanos nesses ambientes pode ter similares impactos negativos como os que resultam no desaparecimento de qualquer outra espécie animal ou vegetal.

IHU On-Line - Qual a atual situação da biodiversidade cultural humana no planeta?

Ricardo Carrere - Muitas culturas têm desaparecido como resultado da imposição de um modelo social, econômico e político desenvolvido durante os últimos séculos. Outras culturas estão desaparecendo fisicamente (por exemplo, os povos indígenas em isolamento voluntário) ou culturalmente (pela destruição de culturas ancestrais em todo o mundo). O mundo tende a uma cultura cada vez mais padronizada e, portanto, menos diversa.

IHU On-Line - Pensando na biodiversidade, como podemos relacionar o destino dos povos originários com as florestas tropicais?

Ricardo Carrere - Os povos que habitam as florestas tropicais dependem inteiramente dos mesmos para assegurar sua sobrevivência dentro de suas culturas tradicionais. A destruição de suas florestas por parte de atores externos (represas hidroelétricas, criação de gado, soja, madeireiras comerciais, plantações de pinos, eucaliptos, palma azeiteira etc.) coloca esses povos à beira da extinção.

IHU On-Line - De modo geral, como a cultura humana se molda a partir da biodiversidade de uma região?

Ricardo Carrere – O ser humano é uma espécie onívora, capaz de se adaptar a ofertas ambientais muito diversas. É também capaz de modificar seu entorno para adaptá-lo às suas necessidades. Desses processos, surgem culturas diferentes, adaptadas à biodiversidade e a outras características (por exemplo, climáticas), de cada região.

IHU On-Line - Quais têm sido as principais metas do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais?

Ricardo Carrere - Proteger as florestas tropicais e os direitos dos povos que ali habitam.

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