Edição 316 | 23 Novembro 2009

IHU Repórter - Gelson Fiorentin

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Patricia Fachin

Gelson Fiorentin nasceu no noroeste do Rio Grande do Sul e, ainda jovem, em busca de formação universitária, mudou-se para São Leopoldo onde conheceu a Unisinos. Formado pela instituição, há vinte anos ele integra o corpo docente do curso de Biologia da Unisinos e acompanha a história da universidade desde a década de 80. Na entrevista que segue, ele conta alguns aspectos desta trajetória e fala sobre seu trabalho no PASEC. Confira.

Origens – Nasci no município de Constantina no RS. Meus pais eram agricultores e, aos seis anos, comecei a trabalhar na lavoura. Tenho mais dois irmãos mais velhos. Trabalhei no interior com meu pai até os 17 anos e, nesse tempo, também vendi pasteis e picolés. Por alguns meses, também trabalhei com meu irmão em um escritório de contabilidade. Lá, conheci uma funcionária que me incentivou a continuar os estudos e a sair da cidade. 

Vida de estudante - Me aventurei com mais oito colegas para estudar fora da minha cidade onde mudei para Passo Fundo. Lá cursei o pré-vestibular. Na cidade, trabalhei como office-boy e depois atuei na área de cobrança bancária.  Alguns colegas que iriam prestar vestibular para engenharia na Unisinos me convidaram para estudar na universidade. Eu gostava da área de ciências biológicas, mas ainda não tinha convicção sobre que curso escolher. Aceitei o convite e mudei para São Leopoldo com eles. Optei pela Biologia, uma área que sempre gostei, pois, tive contato, desde pequeno, com animais e plantas. Em São Leopoldo, morei num edifício onde hoje é o Hotel Colina. Nós o apelidamos de “cachopão”, porque o prédio não tinha reboco. Do outro lado da rua, existia o arvoredo, onde ficavam hospedadas as moças, também alunas da universidade. Para nós, estudantes, era importante ficar nesse local porque não tínhamos despesas com passagem para se deslocar até a universidade e ainda almoçávamos e jantávamos na Unisinos, no Restaurante Universitário - RU.

Formação acadêmica e trajetória profissional – Quando iniciei os estudos na Unisinos, fui contemplado pelo Crédito Educativo e, então, paguei a matrícula e ganhei uma ajuda de custo para poder estudar. No decorrer do curso, desenvolvi atividades voluntárias sob orientação do padre Josef Hauser,  com planárias. Na época, o curso de Biologia oferecia duas licenciaturas: a Curta e a Plena. Em 1984, me formei na Licenciatura Curta, o que confere o direito de lecionar no ensino fundamental. No ano seguinte, concluí a Licenciatura Plena onde passei a lecionar no Colégio Rio Branco, em São Leopoldo. Em março de 1985, iniciei a pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica - PUC e, um ano mais tarde, recebi uma bolsa do CNPq e me dediquei ao mestrado. Em 1987-88, fui Diretor da Reserva Biológica da Sagrina, em Ronda Alta, RS. Concluí o Mestrado em 1989 e, em seguida, fui chamado para trabalhar na Unisinos, como professor do curso de Biologia. Num período de crise da universidade, fiquei afastado da sala de aula, mas permaneci trabalhando com o padre Hauser com planárias e insetos aquáticos. Em 1991 e 1992, também fui secretário do Meio Ambiente de São Leopoldo. Essa foi uma experiência interessante. Ainda não conclui o doutorado e sou professor da graduação em Biologia, também atuo no curso de Enfermagem, na área de parasitas. Além disso, sou coordenador do PASEC, Programa de Ação Sócio-Educativo na Comunidade. Dentro deste programa, existe o projeto Horta Mãe-da-Terra  na escola Municipal Santa Marta, em São Leopoldo, onde trabalham técnicos e monitores da Biologia, Nutrição e Serviço Social. Trabalhamos no contra-turno escolar e atendemos cerca de 80 crianças e adolescentes. A horta é motivacional para a participação dos jovens. O Serviço Social faz visitas nas residências dos alunos para avaliar situações de vulnerabilidade, o setor de Nutrição trabalha com a Educação  Nutricional, enquanto a Biologia é responsável pelas  questões ambientais tais como a preparação do solo para o plantio, a colheita, a importância da separação do lixo, a formulação de compostagem, a recuperação de nascentes e a captação da água da chuva para irrigação. Recentemente, conseguimos a aprovação de um projeto na secretaria do Meio Ambiente para implantar um aquecedor solar com garrafas pets. É um trabalho bastante interessante tanto para a formação dos nossos acadêmicos como para os estudantes, que estão cercados pela violência doméstica e vários aspectos de vulnerabilidade. Nosso trabalho visa o desenvolvimento de ações interdisciplinares.

Unisinos – Muitos dos alunos que estudaram comigo tinham o sonho de trabalhar na Unisinos. Quando estudávamos, a universidade tinha uma estrutura bem diferente, não existia a Av. Unisinos, apenas uma rua com muito barro vermelho, e brincávamos que quando o campus estivesse pronto, estaríamos lecionando na universidade. Trabalhar aqui é agradável. Valeu todo o esforço.

IHU – Conheço o IHU desde a sua formação. É um importante ponto de referência na universidade.

Família – Sou casado com uma bióloga, Ligia Pons, e tenho três filhos:  Guilherme, de 17 anos que está se preparando para prestar o vestibular em Economia; Débora, 15 que está cursando o primeiro ano do ensino médio; e o Pedro Henrique, nosso caçula, tem 9 anos cursa a quarta série do ensino fundamental. O Gui sabe tocar guitarra, e a Débora e o Pedro estão aprendendo a tocar bateria: tenho uma banda em casa. Minha esposa é professora de Histologia na ULBRA. Residimos em Canoas.

Lazer – Gosto muito de ficar em casa, mas minha esposa é mais nômade. Então, temos um equilíbrio. Aproveito o tempo livre para organizar o pátio, mexer na terra, plantar e brincar com meus filhos. Também gosto de viajar, na medida do possível, e fazer caminhadas relaxantes. Sou gremista, e quando posso, assisto aos jogos. Consigo reunir a família no período das férias, porque no decorrer do ano, sempre nos envolvemos muito com o trabalho.

Sonho – Profissionalmente, quero terminar o doutorado. Às vezes, nos desiludimos. Sonho em manter a qualidade de vida, a cultura e a educação  em minha família. Também, gostaria de ver todas as comunidades vivendo com mais dignidade, num ambiente saudável e com condições de vida mais adequadas. Além disso, gostaria de ver a “comunidade” política reduzida em 70%.

Religião – Sou católico e tenho a minha fé, mas creio que a grande religião é saber viver, respirar o ar, curtir o sol e dar condições para que todos possam viver com dignidade.

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