Edição 313 | 03 Novembro 2009

IHU Repórter - Mirian Dazzi

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Patricia Fachin

Ela completou 60 anos na última terça-feira, 27-10-2009, e esbanja serenidade, sabedoria e jovialidade. A fala tranquila e o jeito acolhedor mostram que Mirian Dolores Baldo Dazzi é uma professora apaixonada pela profissão que escolheu e receptiva a novos desafios. Há mais de 20 anos na Unisinos, mas trabalhando com os jesuítas desde 1971 no colégio Anchieta, ela divide as 40 horas de trabalho em quatro atividades principais, entre elas, é responsável pela formação docente de novos professores, os acompanhando no processo de ensino e da capacitação docente dos diversos cursos da Unisinos. Também coordena o novo curso de Gestão Cultural, o curso de especialização de Educação Especial e leciona na graduação de Educação, no curso de Pedagogia. Nos momentos de folga, gosta de aproveitar intensamente a vida em família, aperfeiçoada por encontros gastronômicos nos finais de semana. Confira mais essa história de vida.

Origens – Sou descendente de italianos e venho de uma região próxima a Guaporé, numa cidade muito pequena que se chama Vespasiano Corrêa. Havia basicamente duas famílias na cidade: a da minha mãe (Zandavalli e Roman) e do meu pai (Zillio e Baldo). Como ambas tinham o mesmo negócio: erva mate – até hoje existe a erva mate Baldo, a qual é exportada. A relação entre elas não era nada tranquila.
Tenho mais três irmãos: uma mulher e dois homens. Eu vim morar em Porto Alegre com um ano de idade e estou na cidade até hoje.

Casamento – Casei com o Diter há 37 anos. O conheci quando fui para a estação de águas termais com meus pais, em Irai. Tivemos duas filhas: a Paula, que terá bebê em janeiro e nos dará a primeira neta; ela é médica dermatologista. E a Betina, que é advogada e irá casar no próximo mês de dezembro.

Formação – Estudei em escolas públicas. Fiz magistério e sou bióloga de formação básica. Antes de me formar, já atuava como professora no Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Trabalhei muito tempo na instituição e, nesse período, tive relações muito importantes com jesuítas que considero referências na minha vida e na minha formação. Entre eles, o padre Paulo Englert,  que realizou meu casamento - tive o privilégio de ter o coral Anchieta cantando na cerimônia do meu casamento. Comecei a trabalhar em agosto de 1969. Fui professora na rede pública estadual e municipal de Porto Alegre. Numa trabalhando com o curso de magistério, na outra, com crianças e adolescentes na área da biologia. Creio que devido a existir um acompanhamento pedagógico muito sério e consistente no  Colégio Anchieta, fui me interessando pela área de educação começando, por orientação das supervisoras do Anchieta, Cecília Cardoso Alves, Margot Ottis e Cecília Osowski, e do padre João Roque este foi meu diretor após a direção do padre Paulo a quem chamávamos carinhosamente de Paulão devido a sua altura, a me dirigir para essa temática. Fiz uma especialização em Supervisão Escolar e outra em Metodologia de Ensino. Nesse período, nasceram minhas filhas. Continuei trabalhando e surgiu a oportunidade de fazer um concurso para trabalhar na Unisinos.

Trajetória na Unisinos – Ingressei na Unisinos como professora de Metodologia do Ensino de Ciências, no curso de Pedagogia, e permaneci trabalhando no curso a maior parte da minha vida. Sempre me envolvi muito com as práticas de ensino e me vinculei a um serviço que a universidade tinha na época e que se chamava SIAPEA para atender crianças e adolescentes em condição de não aprendizado. Esse trabalho se originou de um convite feito por suas coordenadoras na época, a Professora Maura Corcini Lopes e Eli Fabris. Mais tarde, coordenei esse serviço, que hoje se chama EDUCAS e funciona na antiga sede, vinculado à Ação Social.

Depois, trabalhei com disciplinas compartilhadas, com programa de aprendizado sobre cultura, diferença e educação. Nesse período, recebi um convite da universidade, através do padre José Ivo Follmann, para formular um curso de museologia. Então, as professoras Paula Caleffi, Eloíza Capovilla da Luz Ramos e eu fizemos uma proposta, a qual não foi aprovada. Mas essa ideia sempre ficou latente.

Tive a oportunidade de viajar muitas vezes, apresentando trabalhos da universidade e, durante um período, participei, na Universidade Ibero-Americana, no México, de um curso sobre Museologia oferecido pelo Conselho Britânico de Cultura. Isso foi um privilégio. Nesse meio tempo, também comecei a me envolver com as questões da Educação Especial e ainda coordeno, junto com a professora Maria Claudia Dal Igna, um curso de especialização chamado Educação especial: o desafio da escola inclusiva. Como já disse o curso de bacharelado em museologia não se concretizou, mas algum tempo depois fui convidada pela professora Paula Caleffi (diretaora da Unidade de Graduação na época) para fazer junto com outras colegas (Shirlei Gedoz, Eloísa Capovilla da Luz Ramos e Silvia Foschiera) uma nova proposta, a qual originou o Curso que coordeno hoje: o curso Superior de Tecnologia em  Gestão Cultural.

Aprendizado e novos desafios na universidade - Meu tempo na Unisinos foi um período de muitas oportunidades e desafios. Nos últimos três anos, fui convidada a compor a equipe de formação docente, vinculada ao setor de Desenvolvimento de Pessoal e a diretoria de Recursos Humanos. Também tive a oportunidade de me aproximar de outras pessoas e, principalmente, de conhecer quase toda a universidade, pois nesse período também integrei a Câmara de Graduação e o Conselho Universitário (Consun). Na formação docente, participo do processo de seleção dos professores, do acompanhamento dos professores ingressantes e, depois, permaneço em contato com eles fazendo formação docente junto com a  algumas colegas como a Professora Janira Silva, com a professora Fernanda Wanderer e a professora Ana Paula Ross. Essa é uma oportunidade única de poder ter esse contato direto com os professores da universidade. Está sendo um motivo de muita satisfação e alegria ver como os professores novos se referem a Unisinos como uma universidade que tem a preocupação de acompanhá-los e de estar junto a eles pensando o planejamento e melhores estratégias para desenvolver determinadas competências. Então, além de receber um retorno na área do conhecimento, pois conversamos com eles sobre os  conceitos que serão trabalhados em sala de aula, o retorno na área das relações afetivas é muito importante. Nós chamamos essa nossa ação de acolhimento e dela participam vários colegas de outros serviços. Enfim, é um programa de aprendizagem bastante interessante. Também temos a oportunidade de trabalhar com as coordenações dos cursos e contribuir com a capacitação do corpo docente.

Curso de Gestão Cultural - O curso de gestão cultural, que ocupa parte das minhas 40 horas na universidade, é realmente a flor do meu coração. É a possibilidade de dar uma contribuição para uma área nova na Unisinos. É uma área que está em pleno desenvolvimento e com muita visibilidade. Acredito que este tempo que estou na universidade, passei a conhecer os jesuítas, a instituição, foi possível perceber o quanto nós temos de riquezas e bens culturais, e como eles podem ser colocados à disposição do público. Então, a formação do gestor cultural passa a ser um desafio; é uma inovação. Não tínhamos, na Unisinos, formação de gestores na área da cultura, e hoje é um curso que está iniciando; estamos no quarto semestre de oferta. Os desafios vão sendo apresentados e junto aos colegas que compõem as equipes em que trabalho nós os aceitamos.

Mestrado - Fiz mestrado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Quando terminei o mestrado – já fui mestranda tardia -, tive o desafio do doutorado. Não segui meus estudos por dois motivos: tinha um vínculo muito forte com a docência; e porque sempre trabalhei de 40 a 60 horas e já tinha mais de 40 anos. Conversei com minha família e tomei a decisão com muita segurança. O Doutorado deixou de ser uma prioridade. Achei, junto com minha família, que precisávamos de um tempo maior para nossa relação familiar.  Por ser professora de Prática de Ensino, tenho a possibilidade de ter contato com aproximadamente 30 alunas em cada semestre e através dos seus relatos relacionados à educação especial me mobilizam a estudar e a discutir com as colegas que integram o PPG de Educação. Claro que sinto falta das novas oportunidades que ele me traria, mas não deixei de estudar e pesquisar. Em 1994, me aposentei pelo Estado e, no ano passado, pelo município. Agora, tenho quatro atividades: a coordenação do curso de Gestão Cultural, a coordenação da equipe da Formação Docente, a coordenação, junto com a Maria Cláudia, do curso de Especialização de Educação Especial e a sala de aula.

Até o ano passado, trabalhava em alguns programas de aprendizagem compartilhados, dos quais precisei abri mão com muito pesar, porque a equipe era excelente. Desenvolvemos um trabalho nos últimos seis anos tentando viver a transdisciplinariedade, o ensino e a avaliação por competência e comprometidas com as questões da cultura tais como gênero, sexualidade, raça/etnia e classe social por exemplo e suas implicações com o currículo.

Unisinos – A Unisinos é a instituição que eu escolhi para  trabalhar e que continua acreditando no meu trabalho, é a minha segunda casa. Tive a oportunidade de ver e, ainda quero ter a oportunidade de acompanhar, o seu constante esse crescimento. O que me chama atenção na universidade é a seriedade e o compromisso com os quais desenvolvemos o trabalho de educação. Nós somos, sim, uma empresa, mas antes de mais nada somos uma  instituição de ensino. Esse marcador está presente em todas as ações da universidade, e na garantia de que ela tem excelentes professores, mas também no compromisso que estes têm de contribuírem com que essa excelência se estenda aos seus alunos e a sua produção científica. É uma universidade que aceita desafios, e isso se revela, por exemplo, na decisão de implantar novos  cursos alguns pioneiros no mercado. Isso me encanta. É a universidade aceitando caminhar por outros caminhos mas sabendo aonde quer chegar. A Unisinos ainda terá muito a contribuir, marcadamente, na área da Cultura, não só em função do curso de Gestão Cultural, mas por esse movimento da retomada de ações na área da cultura. A orquestra será revitalizada, há o memorial jesuíta e a possibilidade de ter, na universidade, essas referências. Ainda fico na expectativa de retomarmos o sonho de um curso de museologia.
Acervo e professores competentes nós temos. Tenho muito orgulho e satisfação de ser professora da universidade. Esse orgulho foi construído junto com o orgulho da Unisinos de dizer “nós somos Unisinos”, como o padre Marcelo Fernandes de Aquino nos diz.

IHU – Tenho orgulho em poder acompanhar os desafios que o IHU nos aponta. A forma como o IHU se organiza é impressionante. Sei que o próximo simpósio irá tratar de biopoder. Eu fiz meus estudos na esteira dos estudos pós-modernos, na perspectiva dos Estudos Culturais e vejo que temos ressonância desses entendimentos em espaços tão importantes da universidade. O IHU é outra parte da casa Unisinos, um espaço que oferece oportunidade para os professores fazerem a sua formação. Vejo o IHU como o movimento que faz a oxigenação na universidade.

Lazer - Gosto muito de ver filmes em casa. Recentemente assisti O menino do pijama listrado. Gostei muito porque trata de temas que trabalho em sala de aula. Vivo intensamente a vida em família nos finais de semana. Estamos permanentemente com nossas filhas e genros. Também gosto de caminhar. Temos um cachorro que quase podemos dizer que também “faz parte da família”, um bulldog inglês, o Buda, então, meu marido e eu saímos muito, caminhamos com ele. Gosto de cozinhar. Nos finais de semana faço doces, bolos. Isso é característico da cultura italiana: juntar família, comida e afeto. Sempre que visitava minha mãe – agora ela já é falecida –, saía da casa dela com uma rosquinha de nata, com uma massa caseira, um bolo de maçã. Isso minhas filhas também encontram lá em casa. Nós nos reunimos e fazemos uma gastronomia familiar.

Somos  quatro irmãos e tenho muitos sobrinhos,  costumamos nos encontrar com bastante frequência. Gosto muito de viajar e de ir a Punta Del Leste, assistir um show, participar de atividades sociais com amigos. Temos  muitos amigos – as amizades minhas e do meu esposo são amizades de família, porque a grande maioria dessas amizades ou são do nosso tempo de adolescência ou foram construídas a partir das nossas filhas, ou seja, pais dos amigos das nossas filhas.

Também tenho facilidade de criar aproximação com as pessoas e pelos professores do curso de Gestão Cultural sou vista como alguém que gosta muito de comida. Então, quando nos reunimos, preparo algo para eles, quer seja um chá especial ou mesmo alguns chocolates. Enfim, festejamos e trabalhamos ao mesmo tempo.

Religião – Sou católica e vejo com muita simpatia essas ações que a própria universidade faz em relação à inter-religiosidade. Acredito em Deus acima de todas as coisas.

Sonho – Sonho realmente que o mundo tenha mais justiça social. Respeito às diferenças e espero que sejamos menos preconceituosos e que essa justiça seja uma construção coletiva. O meu grande sonho é ser feliz e ajudar as pessoas a serem felizes.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição