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Graziela Wolfart
Ao descrever o princípio do que seria uma teologia ecofeminista, a teóloga Mary Judith Ress adianta que é algo muito simples: “tanto as mulheres como a Terra passaram a ser fontes da vida, não mais recursos dos quais se pode aproveitar”. Para ela, na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line, “não podemos continuar com o patriarcado, que está destruindo o planeta”. E constata: “estamos, de fato, em uma mudança tremenda dentro do nosso planeta... Vamos ver para onde ela nos levará”.
Mary Judith Ress é fundadora e membro do grupo Con-spirando (www.conspirando.cl). É autora de, entre outros, Del Cielo a la Tierra (México: Editorial de Mujeres, 1994); Lluvia para florecer: entrevistas sobre el ecofeminismo en América Latina (Santiago: Collectivo Con-Spirando, 2003); e Ecofeminism From Latin America (Nova Iorque: Orbis Books, 2006).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são os princípios da teologi¬a ecofeminista?
Mary Judith Ress - Desafiamos a teologia tradicional por ser tão centrada no ser humano. Nosso lema é: "recordamos quem somos – povo de estrela contemplando as estrelas". Viemos da terra e voltaremos a ela. Ponto. A mensagem - ou princípio - de uma teologia ecofeminista é muito simples: tanto as mulheres como a terra passaram a ser fontes da vida, não mais recursos dos quais se pode aproveitar.
IHU On-Line - Como se caracteriza a espiritualidade da teologi¬a ecofeminista?
Mary Judith Ress - A espiritualidade do ecofeminismo está sumamente relacionada com a natureza - seus ciclos, suas luas cheias, suas noites estreladas, toda a comunidade da vida. Então, fazemos ritos que expressam este vínculo que temos com nossa Terra Mãe e com todo o universo.
IHU On-Line – Qual a situação do ecofeminismo na América Latina hoje?
Mary Judith Ress - Vibrante! Está crescendo muito rápido porque já estamos dentro da crise do aquecimento da Terra. O ecofeminismo atrai muitas mulheres da América Latina porque é um movimento cultural, e não tão carregado do aspecto político.
IHU On-Line - Que a senhora pensa sobre a questão do paradigma pós-patriarcal?
Mary Judith Ress - Tema amplo! Penso que simplesmente não podemos continuar com o patriarcado, que está destruindo o planeta. Então, creio que estamos em uma nova forma de nos organizar (não consumir tanto, consumir, consumir). Essas formas ainda estão aí, mesmo que já existam muitos "modelos" de sustentabilidade, de refazer o planeta. Estamos, de fato, em uma mudança tremenda dentro do nosso planeta... Vamos ver para onde ela nos levará.
IHU On-Line - Na América Latina, as mulheres estão deixando para trás o modelo patriarcal e partindo para algo novo?
Mary Judith Ress - Não, não estamos deixando para trás o patriarcado com um só golpe. Esse é um processo longo, de novos encantos e desencantos. Mas há um despertar que nos diz que, se sujarmos a Terra Mãe, estamos sujando a nós mesmos. Este é um processo planetário.
IHU On-Line - Em que sentido sua reflexão teológica emerge da experiência das mulheres pobres das periferias da América Latina?
Mary Judith Ress – Ainda que nunca vamos desprezar os e as pobres, estamos deixando para trás as "classes" – é preciso cruzar fronteiras para fazer de novo um planeta saudável. Então, nossos ritos, retiros e oficinas se realizam no sentido de uma "mescla" de pessoas com diferentes habilidades.
IHU On-Line - De que maneira é possível perceber o corpo da mulher como mediação hermenêutica? As mulheres podem ser designadas como um lugar da revelação de Deus?
Mary Judith Ress – Mas a imagem de um deus pai, masculino, onipotente é resultado do patriarcado! Em Con-spirando, fazemos um curso sobre outras imagens do sagrado. Nos tempos paleolíticos e neolíticos, tínhamos outras imagens do divino – e, muitas vezes, era algo ou alguém associado com a mulher/mãe e Terra/mãe.