Edição 301 | 20 Julho 2009

“O sistema financeiro de mercado é como o sismógrafo desta crise”

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Graziela Wolfart | Tradução Benno Dischinger

Para o economista francês Yann Moulier Boutang, o capitalismo cognitivo se apresenta como o único futuro possível do capitalismo, mas também como a possibilidade de uma bifurcação maior, na qual a acumulação do capital intelectual põe em crise a pretensão do capital de submeter o desenvolvimento da riqueza.

“A profunda crise financeira, além das questões de moral (...), nasce da aproximação brutal deste dois continentes corrediços: um se afunda no magma, o outro emerge, e o deslizamento corrediço das placas tectônicas gera sismos, tsunamis”, afirma o economista francês Yann Moulier Boutang, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. E, continua ele, “o sistema financeiro de mercado é como o sismógrafo desta crise”. Na visão de Boutang, “a crise é mundial num tríplice nível: social, ecológico e cognitivo”, destacando que “a apologética do capitalismo, dócil servidor da ética, do desenvolvimento duradouro, pode deixar-nos céticos. Durante trinta anos o sistema financeiro e seu lucro desenfreado foram os reis. Uma economia ecologicamente responsável realmente se instalou?”, pergunta ele.

Boutang participou ativamente do movimento de 1968. Em 1973, encontrou Antonio Negri, de quem permanece parceiro intelectual. Em 1974, criou a revista Camaradas, que sucede a Materiais e desenvolve os temas da autonomia operária, conceito adotado então na Itália por militantes procedentes do operariado (Autonomia Operária). Camaradas é um dos primeiros grupos do movimento autônomo na França. Após a autodissolução da revista Camaradas, Boutang participa, de 1979 a 1981, do Centro Internacional para Novos Espaços de Liberdade (CINEL), uma iniciativa de Félix Guattari. Atualmente é redator chefe da revista Multitudes.

De sua vasta produção intelectual, destacamos: Des entreprises pas comme les autres: Benetton en Italie, le Sentier à Paris (Paris: Publisud, 1993) (escrito com Maurizio Lazzarato e Antonio Negri); De l’esclavage au salariat. Économie historique du salariat bridé (Paris: PUF, 1998); Le droit dans la mondialisation: une perspective critique (Paris: PUF, 2002) e Le capitalisme cognitif. La nouvelle grande transformation (Editions Amsterdam, 2007).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O capitalismo está mesmo em crise? O que caracteriza esta crise? Ela representa também a crise da teoria neoliberal?

Yann Moulier Boutang – O capitalismo, com efeito, está em crise. Uma formidável crise de transição; a certidão de óbito da economia fordista foi assinada pela falência da General Motors. A crise financeira assinala, como de hábito, esta mutação acelerada. A capitalização na Bolsa da GM caiu de 10 bilhões de dólares em 2007 para zero dólar em março de 2009, enquanto a da Google atravessa a crise a 100 bilhões de dólares. A economia material, a mais material, está em crise total. Seu modelo social é obsoleto e repousa sobre uma deslocalização violenta. Ecologicamente ela está na ponta do rolo compressor, pois o mundo industrial anda no muro absoluto com sua generalização na China, na Índia, no Brasil, na Nigéria, na África do Sul, no México. Energia carbo-fóssil, mas também matéria-prima; poluição dos solos com uma destruição da biomassa, dos mananciais aquíferos, poluição alimentar com uma alimentação totalmente agroquímica há 30 anos, que começa a produzir os seus efeitos.

Mas a crise não nasce simplesmente deste esgotamento (“miséria do presente”, como teria dito André Gorz), mas do formidável surgimento de outro modo produtivo, o conjunto das externalidades, então, não somente a lista das externalidades negativas que aumenta, mas também a produtividade, a mudança de ordem (Pascal dizia: “a imaginação se cansa de conceber, como a natureza de fornecer” ou, em termos modernos, “a realidade ultrapassa a ficção“) que advém com a descoberta do novo continente das externalidades positivas que se tornaram visíveis pela rede numérica e a inteligência coletiva. A profunda crise financeira, além das questões de moral (sem interesse palpitante, pois a Igreja fez o inventário, há dois mil anos, dos sete pecados capitais), nasce da aproximação brutal deste dois continentes corrediços: um se afunda no magma, o outro emerge, e o deslizamento corrediço das placas tectônicas gera sismos, tsunamis.

O sistema financeiro de mercado é como o sismógrafo desta crise. A economia ortodoxa também sempre cega às externalidades malgrado os esforços da comissão Joseph Stiglitz/Amartya Sem implantada pelo Presidente Sarkozy, continua a falar de endividamento insustentável (a questão entre os keynesianos clássicos e os neoclássicos monetaristas que não conduzem senão aos retardamentos de reabsorção do endividamento, longo para os primeiros, muito curto para os segundos), quando a questão já não é mais aquela.

Uma crise de denominador

Temos uma crise não de endividamento, mas de denominador, isto é, daquilo a que se relacionam os 29.000 bilhões de dólares de dívidas dos Estados antes da crise e dos 20.000 bilhões de dólares suplementares que serão necessários a Obama e aos dirigentes do G20 para pôr em ordem um ciclo de investimentos verdes para reconstruir completamente o sistema industrial e, então, um gigantesco investimento na pesquisa e na inovação (isso constituirá o triunfo do capitalismo cognitivo volens nolens, [querendo ou não]).

Quando se relacionam essas somas que constituem mais ou menos uma média de 100% do PIB mundial à contrapartida da riqueza mercantil clássica, estaríamos em pleno delírio. A economia mundial deveria ter falido globalmente e nós já deveríamos estar numa situação pior do que a crise de 1929-1939, com seu corolário generalizado de guerras.

Ora, não é nada disso. Por quê? Porque o denominador já não é mais a economia clássica (a esfera da produção do mel no meu paradigma das abelhas e da polinização), mas a polinização. Ora, a ratio (a proporção) entre o valor do output produtivo (o mel) e o outcome (a polinização) é de 1 a 350, ou de 1 a 1000 no mínimo. O sistema financeiro de mercado se constituiu essencialmente para fazer face às flutuações erráticas das taxas de câmbio flutuantes das moedas internacionais após 1971, bem como a das taxas de interesse que só é muito parcialmente fixada à escala nacional. Viu-se assim crescer de maneira gigantesca o volume das transações no mercado de troca e no de produtos derivados.

Para 150 bilhões por dia de PIB e de comércio internacional se tem 1500 bilhões de transação no mercado de trocas e quase 4000 bilhões de produtos derivados.

Como interpretar esse crescimento vertiginoso? Muito simplesmente por três razões:

a) a mais descritiva é que os agentes econômicos empreenderam cobrir-se sistematicamente contra as flutuações das taxas de câmbio e das taxas de interesse. Esta razão, por mais correta que seja, não esgota, longe disso, a questão. O que há, com efeito, por detrás desses dois, a cobertura contra o risco de câmbio e o recurso sistemático aos produtos derivados ou futuros? Chega-se, assim, à segunda razão da crise.

b) É a incerteza sobre o futuro da moeda mundial e a recolocação em causa latente de Bretton Woods e seu regime de taxas de câmbio fixas em relação a um dólar, este apoiado sobre o ouro e depois liberado do ouro em 1971, que abriram um espaço ao mercado dos câmbios. O mercado financeiro mundial foi sistematicamente des-seccionado (isso é a des-regulação), de maneira a facilitar os movimentos dos capitais, ao mesmo tempo para se investir, como para se desembaraçar. Toda a desregulamentação teve por objetivo permitir ao investidor procurar as taxas de interesse mais elevadas possível. Resultaram flutuações do dólar, a moeda internacional que, combinadas à das taxas de interesses submeteram os aparelhos produtivos, bem como as economias nacionais a tensões contínuas sem comum medida com aquelas às quais elas tinham sido confrontadas anteriormente. As conseqüências desta transformação induziram a financiarização de toda a economia, incluindo seus compartimentos ordinariamente menos expostos (a redistribuição das rendas, os sistemas institucionais de pensão, de investimentos públicos). Esta instabilidade estrutural dos ajustamentos é, como o sustentam os seus defensores ortodoxos, o resgate de uma alocação ótima dos capitais e um fator de equilíbrio em longo prazo?

Esta instabilidade estrutural dos ajustamentos é, como o sustentam os seus defensores ortodoxos, o resgate de uma alocação ótima dos capitais e um fator de equilíbrio em longo prazo?

Não, e que isso fique bem entendido. Mas, um retorno à situação do fordismo não é realmente concebível. Na realidade, além dos problemas técnicos despertados pela instabilidade das taxas de câmbio e das taxas de juros, há duas questões de fundo que se instalaram de maneira lenta, mas segura.

Altos rendimentos e riscos elevados

A primeira é a divergência durável das taxas de juros, ou seja, do custo do dinheiro. Uma mesma soma de dinheiro vai significar entre 1,75% ao ano (é a taxa de juro praticada sobre os libretos A de caixas da Espanha na França, e vai baixar a 1,25%) e aproximadamente 0,5%-1% (é a taxa praticada pelos bancos centrais americano, inglês, japonês e europeu). E, de outro lado, 35 a 40% para os capitais colocados pelos Hedges Funds (fundos especulativos). Entre estes dois extremos, existe um escalonamento: um rendimento de 6 a 8 % para as empresas (sem a inflação e as taxas básicas de juros); os famosos 15% exigidos pelas empresas financeiras, ou seja, governadas segundo os princípios do “price earning ratio” e da “boa governança” para os acionistas; os 20% dos bancos, e acima o rendimento dos capitais situados nos produtos financeiros transitando pelas salas de mercados, os private equity, os fundos soberanos. Intercalam-se, nesta escala, taxas de rendimento dos investimentos imobiliários (de 6% a 50% segundo a natureza mais ou menos especulativa), os 10 a 20% dos empréstimos bancários a descoberto ou do crédito “de giro”. Um economista ortodoxo dirá que tudo isto é absolutamente lógico, rigoroso e bem situado, já que os altíssimos rendimentos estão associados a riscos muito elevados. De fato, em economias de forte crescimento, com ampliação contínua dos mercados (com a entrada da Índia, da China, do Brasil no mercado mundial), com entradas sem cessar renovadas no acesso à propriedade, como fora o caso nos famosos subprimes (ver as análises muito convincentes de Paul Jorion), a mutualização dos riscos, a diluição das responsabilidades, a capacidade imediata de engajamento como de descomprometimento em prazo muito curto, elevaram totalmente os fatores dissuasivos ligados ao risco. Os muito ricos não conseguiram resistir ao atrativo de multiplicar seus ganhos muito rapidamente; e quanto aos pobres, os contratantes de empréstimos hipotecários sem garantia de depósito prévio, estes assimilaram a célebre lição de Keynes: se você deve 10.000 euros ao banco, é você que tem um problema com seu banco, mas se você deve 100 milhões de euros ao seu banco, é ele que tem um problema com você. As salas de mercado, ou seja, as finanças privadas também aplicaram este ensinamento vis-à-vis do emprestador em último recurso que são os bancos centrais, e o banco central americano faz o mesmo ante os outros bancos centrais. Aquele que por sua falência faz correr todo o mundo será necessariamente salvo. E então, quando o Northern Rocks Bank e a Bear Sears, em 2007, depois a Lehman Brother e o Royal Bank of Scotland, na segunda vaga foram a pique, o sistema financeiro ameaçado de desmoronamento total evitou a repetição de 1929. Com duas reservas: a financiarização da economia e em particular da indústria é muito mais profunda do que nos anos 1930; de outra parte, a situação de endividamento dos Estados nada mais tem a ver com a Grande Crise.

Hoje os Estados podem efetuar tanto menos uma “purga” radical, uma vez que eles deviam financiar a cada ano, na entrada da crise, uma dívida de 29.000 bilhões de dólares e que eles foram constrangidos a acrescentar a esta dívida uns vinte trilhões de dólares. Para um PIB mundial de 55 trilhões chegamos a 100% de endividamento. O sistema financeiro atual (com seus Hedges funds, seus paraísos fiscais, seus private equity) desempenha o papel dos granjeiros gerais na véspera da Revolução francesa. A solução mista que consistiria em adotar uma maneira brutal com a poupança privada e pública mundial flutuante implicaria em fazer andar o quadro com cédulas de dólares de maneira muito mais forte do que atualmente. Mas o dólar ainda representa 70% das reservas retidas pelos outros países (contra 25% para o euro e alguns % para a libra esterlina e o yen, e o Japão e a China detêm trilhões de dólares de bônus do Tesouro americano, sem contar as obrigações Fanny Mae e Freddy Mac, um organismo quase público que garante os empréstimos hipotecários americanos). Uma emissão de dólares abertamente demasiado inflacionária conduziria a uma desvalorização brutal de seus créditos. A economia mundial chegou a evitar o desmoronamento imediato de tipo Grande Depressão dos anos 1930-1935, mas a indústria será tocada de maneira estrutural bem mais fortemente do que pelo modo como faz face à crise ecológica. Mas, daqui em diante ela é pressionada pelo risco de falência dos grandes Estados, de crise fiscal dos Estados e de crise monetária da hegemonia do dólar. Ora, para manter margens internas de manobra, necessárias para reformar a segurança social americana, os Estados Unidos precisarão recorrer ao privilégio de senhoria que lhes dá o estatuto do dólar, de ser moeda internacional de reserva. A China e a Rússia não se enganaram. E, se a União Européia quiser evitar uma estagflação à japonesa, ela deverá, cedo ou tarde,  recolocar em questão o privilégio do dólar. Mas então será preciso assumir para o Euro um papel internacional e então adotar o déficit federal (atualmente interdito) e emitir empréstimos em bônus do tesouro europeu.

Venhamos agora à segunda causa estrutural de desequilíbrio que persiste durante a crise e que se formara lentamente nesses últimos trinta anos. Os rendimentos financeiros muito elevados do sistema financeiro privado traduzem duas coisas aparentemente contraditórias. Conforme a análise clássica (incluindo Keynes), a exigência de 20% ao ano traduz uma necessidade de capital da economia global em longo prazo, mas a concentração em operações de curto prazo (produtos derivados, risco de troca) expressa o sentimento de forte risco global que pesa sobre o sistema mundial. O risco significa, na realidade, que os agentes econômicos e políticos (jamais se viu que os dois fossem duradouramente dissociados) não chegam a pôr-se de acordo sobre os preços de longo prazo. Neste caso, as flutuações “erráticas” das taxas de câmbio e das taxas de juro não são simplesmente o fato da suspensão da convertibilidade do dólar em ouro, em 1971. Elas traduzem uma ascensão da incerteza política e social num sistema que deixou de ser estabilizado pela guerra fria. O impasse ecológico, que faz aparecer a impossibilidade absoluta, em longo prazo, de possuir o mesmo modo de desenvolvimento, acrescenta uma camada ou um anel de incerteza. 
 
IHU On-Line - Quais são os principais limites da economia que aparecem com esta crise?

Yann Moulier Boutang – Este longo preâmbulo vai me permitir responder de maneira mais concisa à questão. Responde-se geralmente que a procura de lucro em curto prazo é o principal limite. É uma resposta insuficiente e superficial, pois o prazer do lucro data de Matusalém e o capitalismo mostrou por diversas vezes, no decurso de sua movimentada história, que ele sabia, para salvar sua cabeça, desembaraçar-se de sua franja especulativa e parasitária. O exemplo mais flagrante do século XX é sua resposta ao desafio levantado pelo comunismo ou “socialismo real”: o capitalismo soube fazer-lhe sua NEP, seu New Deal e seu futuro planificador, regulador. Naturalmente ele não o fez totalmente sozinho. Foram os conflitos sociais que impeliram poderosamente à implantação do Estado Providência, do salário fordista. E então, quais são os limites históricos atuais do capitalismo? Atenção! O termo “limite” não significa contradição total, conduzindo a uma explosão final. Ele designa antes uma fase muito delicada na qual uma bifurcação histórica, uma mutação pode aparecer.

A crise é mundial num tríplice nível: social, ecológico e cognitivo. O nível ecológico é o mais visível. Ele começa a inscrever-se no horizonte imediato dos consumidores, dos produtores, mas também dos viventes enquanto tais e, mais simplesmente, na ideologia e na opinião que se pode ter sobre o futuro em longo prazo do planeta azul. O diagnóstico é simples: o capitalismo (e a economia política toda, como bloco epistêmico tão solidário do capitalismo, como o Tomismo o é da sociedade medieval católica romana) descarregou sistematicamente os custos reais numa “natureza” supostamente ilimitada e sem preço, no sentido trivial do termo. Não sem preço, então, ou fora de preço, ou a um preço altíssimo, mas sem preço como aquilo de que se pode dispor sem ter vergonha, sem jamais pagar o que quer que fosse. Aparece, agora, que esses traços esboçados chegam numa perspectiva de longo prazo e que as gerações futuras correm o risco de pagar os custos; o pior é que o próprio habitat (a biosfera) está em causa. Por não ter levado em conta as externalidades negativas do capitalismo, que se apresenta todo “racional” e “weberiano”, o mesmo devastou o planeta de maneira selvagem. A irracionalidade do produtivismo socialista ou capitalista está atualmente no mesmo banco dos réus. A única diferença é que o primeiro foi ainda mais incapaz de entrever o problema do que o segundo (mas este tem mais a ver com a expressão das contradições numa democracia do que com o capitalismo enquanto tal). Dir-se-ia, mais precisamente: vede como o capitalismo pode se reformar e endogeneizar todos os seus efeitos externos. Uma bolha verde não está a ponto de se desenvolver na Califórnia? E, para obter resultados rápidos em matéria de ecologia, de indústria verde, a regra do lucro, o sistema financeiro do mercado será indispensável.

Uma economia ecologicamente responsável realmente se instalou?

A apologética do capitalismo, dócil servidor da ética, do desenvolvimento duradouro, pode deixar-nos céticos. Durante trinta anos o sistema financeiro e seu lucro desenfreado foram os reis. Uma economia ecologicamente responsável realmente se instalou? A indústria automobilística, após o primeiro choque petrolífero, foi colocada ante a perspectiva do esgotamento dos recursos de hidrocarburantes. Ao cabo de três choques petrolíferos, foi necessária uma crise financeira, a falência da General Motors e as injunções quase planificadoras da nova administração americana para que o veículo verde saia do papel. São necessários choques violentos das grandes potências sobre o controle das matérias primas para que a evidência do impasse da generalização planetária do desenvolvimento industrial ocidental (euro-americano e japonês) e para que a ecologia saia do gueto chique em que a escanteavam os sarcasmos dos realistas cínicos. Mas, o verdadeiro limite do capitalismo está alhures: é como sistema total (econômico, social e político) que ele dá prova de seus limites. Face ao problema das externalidades, a economia ortodoxa propõe ampliar um pouco mais os mecanismos de mercado (requintando-os) e a esfera da biosfera, dos seres vivos, da cultura. Mas, já se viu como o sistema do quase mercado das “permissões de poluir” era ineficaz em relação à taxa de carbono.

Num nível mais macro-econômico, o limite no qual o capitalismo puro de mercado está a ponto de tropeçar é o seguinte: para reestruturar totalmente a indústria, o consumo, os serviços, o habitat, os transportes de maneira sustentável, serão necessários enormes investimentos ao mesmo tempo cognitivos, imateriais, mas também materiais. O relatório Stern  avaliava, em dezembro de 2006, em 1% do PIB mundial os investimentos anuais necessários para frear o aquecimento climático. Quando se põe passo a passo os esforços a fazer em matéria de água, de preservação das florestas tropicais úmidas, de poluição química, de erosão dos solos, de preservação dos recursos haliêuticos,  da biodiversidade, chega-se a 2,5% do PIB atual. Todos em um contexto de abrandamento do crescimento clássico. São, pois, necessários investimentos consideráveis: o problema é que não se pode esperar que os capitais a levantar para esses investimentos em longo prazo gerem um lucro contábil importante.

A menos que se transforme totalmente a contabilidade, introduzindo um PIB negativo e um lucro negativo nos investimentos clássicos, que abaixariam brutalmente o seu rendimento, a menos que se façam praticar pelos Estados taxas de juros de base negativas, ou enfim, a menos que se modifique o sistema fiscal, taxando-o de maneira quase confiscatória e concedendo escalonamentos fiscais ecológicos, não se vê como a poupança privada iria situar-se em investimentos num desenvolvimento durável: o ganho que se pode obter atualmente é muito frágil. Eu creio que esse “para onde” o capitalismo deverá tender se ele quiser sobreviver, é uma espécie de capitalismo social de Estado e não uma economia social de mercado.

A dupla crise no plano social

No plano social, a crise é dupla. Ela se desenrola no seio dos países ricos com um cruzamento das desigualdades entre os muito, muito ricos e os pobres, em particular com ganhos astronômicos dos mais ricos e a reaparição de um fenômeno que havia desaparecido no Estado Providência, o dos ‘working poors’ [pobres que trabalham]. Nos países em via de desenvolvimento, o cruzamento das desigualdades internas se acentua (o Brasil faz exceção graças a dispositivos de tipo Bolsa Família), mas existem também as desigualdades entre os países mais ricos e os países mais pobres; O único ganho sólido que constituía o cartão de visita do capitalismo liberal (ter arrancado da pobreza 400 milhões de seres humanos no Sul) está seriamente ameaçado. Mais da metade desta cifra está a ponto de ser aniquilada pelo desemprego. Os resultados do micro-crédito, desenvolvidos pelo Grameen Bank  em Bangladesh estão fragilizados. Os “trente piteuses”  de 1975 a 2005 viram uma degradação do Estado Providência no Norte, sem que por sua vez o Sul tenha se saído completamente bem no negócio.

No plano cognitivo a crise é menos visível, mas igualmente efetiva. Certamente, após 1991, o OCDE  reconheceu que somente as economias fundadas no conhecimento tinham futuro. Mas, como ocorreu com o imperativo ecológico (já afirmado pelo Relatório do Clube de Roma em 1972), as recomendações práticas permaneceram como letra morta. A União Européia se comprovou incapaz, salvo no caso da Finlândia, da Suécia e da Dinamarca, de consagrar 3% do PIB à pesquisa. A estratégia de Lisboa, lançada em 2002, não impediu uma acumulação do atraso europeu no domínio das novas tecnologias (informática, biotecnologias, tecnologia numérica). As universidades e a pesquisa continuam aquém do esforço a ser feito. Pior ainda, as exigências de “rentabilização” da “corporate gouvernance” das universidades agravaram a situação, promovendo exigências de tipo industrial e de ciência aplicada em setores em que a inovação ascendente e a pesquisa fundamental são indispensáveis.

De fato, a terceira dimensão da crise tão estrutural quanto a dimensão de instabilidade financeira e de impasse ecológico é a da grande transformação do capitalismo: a passagem do capitalismo cognitivo, ao qual retornarei mais adiante, constitui uma metamorfose difícil, uma sacudida. Com a possibilidade de uma bifurcação. A partir de 1975 a crise acompanhou uma imaterialização crescente da economia, isto é, um deslocamento do valor econômico para a captação das externalidades, desta vez positivas. No capitalismo cognitivo emerge o trabalho mais produtivo, criador de riquezas e suscetível de um novo modo de apropriação que é a cooperação dos cérebros conectados em rede numérica e a inteligência. Esta última é tanto mais valorizada quanto a revolução numérica: codifica as funções repetitivas realizadas pelo cérebro e as desvaloriza em proveito da repetição inventiva (Tarde) .

Desta maneira, as velhas formas de apropriação de valor diminuem. Seu papel não é mais hegemônico. Para explorar o que eu chamo de cognitariado ou de cibertariado, é preciso liberar espaços comuns e promover a gratuidade. Em síntese, fazer viver espaços comunistas que são também limites internos sérios às regras clássicas de propriedade privada. A lógica livre, o gratuito, o modelo Google, são uma ilustração dessa mistura destoante de comunismo do capital e de lucrabilidade excepcional em relação ao velho capitalismo industrial que é dinossaurisado (= tornado semelhante aos dinossauros). Os bens como conhecimentos, ou cognitivos, que determinam cada vez mais a riqueza efetiva da humanidade, apresentam por sua natureza as características dos bens públicos. Sua transformação em bens mercadológicos é cada vez mais difícil. O capitalismo cognitivo não é somente o novo estandarte da modernidade (como o capitalismo industrial o foi em relação ao escravagismo da economia de plantação), ele faz a leitura de uma visão radicalmente diversa da humanidade. O comunismo do capital não é somente um problema para Bill Gates, que trata os adeptos dos softwares livres como “novos comunistas” e os que trabalham em “peer to peer”  como piratas. Google, para prosperar (100 bilhões de capitalização em bolsa para 20.000 empregados contra quase zero para os 250.000 empregados da General Motors) com Google Book, Gmail, etc., põe em crise o velho modelo de mercado, as indústrias culturais repousando sobre as três velhas forças da propriedade intelectual (patente, direitos de autor, marcas). O capitalismo cognitivo se apresenta, então, ao mesmo tempo, como o único futuro possível do capitalismo, mas também como a possibilidade de uma bifurcação maior, na qual a acumulação do capital intelectual põe em crise a pretensão do capital de submeter o desenvolvimento da riqueza.

IHU On-Line - Que alternativas podemos imaginar neste momento, do ponto de vista econômico?

Yann Moulier Boutang – A alternativa que está a ponto de se forjar sob nossos olhos é dominada pela urgência ecológica e a possibilidade de uma catástrofe financeira ainda maior. Como eu indicava antes, não convém jamais subestimar o poder de adaptação do modo de produção capitalista (em relação àquele dos modos históricos que o precederam). A alternativa parece simples: seja enquanto o capitalismo chega a regular o sistema financeiro privado de mercado, a canalisá-lo para um desenvolvimento sustentável e a organizar um novo compromisso histórico, seja enquanto se assiste, desde os primeiros sinais de estabilização da crise, à retomada das mesmas receitas como aquelas que prevaleceram após as crises financeiras de 1982, 1996, 1998, 2001, esta retomada do neoliberalismo matinal de intervenção do Estado se fará no sentido de um reforço ou de um re-achatamento do capitalismo neo-industrial (exacerbação da concorrência, aumentos contínuos das tensões nacionalistas, guerras locais, não excluindo o uso limitado da arma atômica) como a era Bush deu o antegosto.

Eu creio que a alternativa brutal será tanto um New Deal e o êxito de Obama, portanto uma retomada da iniciativa capitalista com um novo compromisso social (do qual a generalização da cobertura social dos Estados Unidos à européia e a constituição de um verdadeiro Estado providência na China e nos outros gigantes do Sul são a expressão mais nítida), ou antes, um Estado neo-cooperativista autoritário e petro-industrial e uma situação muito mais caótica das cidades selvagens, da estagflação, da anarquia ecológica com ilhotas, dos condomínios assegurados e privilegiados em ‘no man’s lands [terras de ninguém] metropolitanas deterioradas. O modelo russo e/ou o chinês são bastante representativos desse futuro possível.

Toda a dificuldade para uma iniciativa que favoreça uma alternativa aberta, democrática e inteligente é a de apoiar a frente New Deal institucional (incluída aqui em matéria de governo mundial) e de impulsionar a lógica comunista do capitalismo cognitivo sem perder as capacidades específicas de construir um capitalismo em que este último pereceria como poder global.

Contrariamente ao que defendem alguns da extrema esquerda (Daniel Bensäid,  por exemplo), não é verdade que a questão do New Deal seja um puro embuste, pelo qual conviria se deixar envolver. Para retomar a terminologia antiga, na frente única contra a guerra das civilizações e o complexo militar-industrial, é indispensável o Estado de segurança. Partidários da democracia radical e de uma nova política ecológica tem todos a ganhar com o êxito de Obama nos Estados Unidos. O estado real das forças alternativas é demasiado frágil no capitalismo após o desmoronamento do socialismo real como perspectiva (comunismo e social-democracia confundidos) para que os políticos do pior, desejando a vitória da ala mais reacionária do capitalismo petro-industrial, conduzam a outra coisa do que a um fracasso retumbante.

Toda a dificuldade é a de fazer crescer uma autonomia de pensamento, de iniciativa e de organização na vaga de transformação do capitalismo, pois é somente no cerne desta dinâmica que poderá se enxertar a bifurcação possível.

IHU On-Line - Da escravatura passamos ao trabalho assalariado. E agora, com a crise, qual o próximo passo?

Yann Moulier Boutang – O compromisso social a reconstruir com o capitalismo cognitivo (o único que poderá suportar o choque desta conquista) é um enfraquecimento decisivo do salariado livre como rendimento de existência, permitindo o desdobramento da atividade polinizadora humana coletiva. A reivindicação de um rendimento de subsistência progride em todos os compartimentos da sociedade e em todos os países. A grande transformação em curso (e mais ainda enquanto atravessamos a crise atual) não pode ser gerada enquanto o trabalho e o emprego não forem inteiramente reconfigurados em sua codificação institucional. Há muitas atividades humanas produtoras de riquezas e pouco trabalho e emprego, porque estes últimos estão ligados prioritariamente à produção de bens de mercado ou comerciáveis. Enquanto não revisarmos de maneira radical o peso do setor da economia que produz externalidades  positivas, teremos um déficit estrutural do emprego e um falso subemprego. As soluções de tipo: trabalhar mais, aumentar a duração do trabalho reduzindo direitos à aposentadoria não são simplesmente ultrajantes para a importante parte da população confinada a tarefas idiotas, inúteis, humilhantes, que há muito tempo deveriam ter sido confiadas a robôs, pois elas são incongruentes no melhor, estúpidas no pior do pior que compreende as novas tarefas e mini-atividades realmente produtivas. Numa economia de tipo cognitivo, dominada pela polinização e não pela produção subalterna de mel (inútil até o limite), a convenção de emprego, de cobertura social, os novos direitos dos novos trabalhadores devem estar ligados à garantia da possibilidade e à continuidade da atividade polinizadora. Abaixo as formigas dos economistas que trabalham, pois elas são idiotas sob este ponto de vista (pois, para revirar os solos não há nada melhor), bem como as cigarras consumidoras. Sobrevivam as abelhas que, vivendo muito simplesmente, constituem a malha indispensável de reprodução do ser vivo.

IHU On-Line - Quais as principais controvérsias e inovações em torno da emergência do capitalismo cognitivo? Quais são as grandes transformações trazidas por ele?

Yann Moulier Boutang – A hipótese da emergência de um capitalismo de terceiro tipo se choca com diversos tipos de objeções. O primeiro tipo de crítica, o menos interessante, consiste, a meu ver, em negar que haja uma transformação de natureza do capitalismo. Sob pretexto de se permanecer no interior do capitalismo, as mudanças não ocorreriam realmente. Não há nada de novo sob o sol. O incômodo desse tipo de objeção é que historicamente o capitalismo já se transformou profundamente. É verdade que, se muitos se obstinam em considerar que o capitalismo só começa por 1780, se é condenado a não compreender grande coisa da história mundial. A segunda razão pela qual esta objeção não vem ao caso, é que o próprio capitalismo não é realmente cego ao seu próprio movimento. Se meus críticos não crêem no capitalismo cognitivo, que eles observem atentamente o que pensam disso os próprios chefes!

O segundo tipo de crítica consiste em reconhecer que há realmente uma tentativa de transformação radical no seio do capitalismo, mas que se trata de uma pura utopia, de uma ideologia de cobertura; o capitalismo, como o guepardo de José Tomaz de Lampedusa, estaria prestes a tudo mudar para que nada mude. Mas, o capitalismo não é a história da consciência de classe das elites patronais ou das classes dominantes. Ele é um processo social antagônico. Sem dúvida, os nobres sicilianos acreditavam preservar o essencial, mas sua época (o fim do século dezenove) foi o de uma gigantesca transformação com o nascimento da grande empresa capitalista de dimensão multinacional e monopolista, uma coisa muito mais característica do capitalismo do que o mercado ou o comércio mundial que se encontra em períodos históricos muito diversificados.

Sim, o capitalismo se reforma e sabe se reformar para se salvar. Sim, é um processo “revolucionário” e ao mesmo tempo vergonhosamente reacionário. Tanto pior para aqueles que não compreendem esta evidência que Marx teve muita dificuldade em impor aos ingênuos líderes do movimento obreiro proudhoniano ou bakuniniano, bem como aos oportunistas da socialdemocracia nascente.

A superioridade metodológica do movimento operário italiano é de nos ter feito compreender de uma boa vez por todas que por trás do reformismo do capital, mesmo do mais descabelado, ou do mais elitista, havia sempre um avanço das relações de classe.

Eu me dei mal, muito mal mesmo entre amigos muito próximos e teóricos de grande valor por admitir que, após trinta anos de contra-revolução neoliberal, nós entramos numa fase de New Deal e que esta era uma virada histórica em função da qual era preciso rever estratégias, caso se deseje uma transformação radical da sociedade. Quando, desde 1998, eu falei do caráter inelutável de um novo New Deal, tomaram-me por um iluminado. Dez anos mais tarde só se fala disso, não nos salões, entre as elites confidenciais, mas entre os chefes de Estado do planeta e no coração do santuário do poder do capitalismo mundial.

Eu verdadeiramente não creio que se trate apenas de um exercício de retórica.

A terceira objeção ao capitalismo cognitivo nasceu na crise financeira. Muitos economistas radicais ou marxistas vêem nele a falência total do capitalismo, a perspectiva de seu desmoronamento e com ele o do capitalismo cognitivo, que não representaria mais do que uma forma de renda ligada ao capitalismo financeiro especulativo.

Trata-se de uma crise de medida, de medida da riqueza e de sua apropriação.

Esta crise não anuncia a derrocada do capitalismo, mas é uma crise de controle. O sistema financeiro privado de mercado não vai desaparecer. O que ele descobriu, ou seja, o poder multiplicador quase infinito do crédito não vai desaparecer, mas será, no melhor dos casos, uma reciclagem controlada pelos Estados. No denominador do endividamento dos agentes econômicos, isto é, em garantia do caráter reembolsável do empréstimo, já existe faz horas outra crise do que a base miserável do capitalismo industrial produtor de gás carbônico ou de petróleo; há a polinização das biotecnologias, das nanotecnologias, o poder produtivo das multidões e não mais aquela das massas seriais do período moderno fordista. 

IHU On-Line - O que caracteriza a terceira idade do capitalismo?

Yann Moulier Boutang – A liberação do poder produtivo da inteligência coletiva, agora transversal ou ortogonal no plano de seu confinamento nacional e popular. O capitalismo industrial havia descoberto o poder do povo, como a armada revolucionária se comprovara mil vezes mais eficaz do que a armada do antigo regime. Pois bem, o poder das multidões trabalhando em rede numérica marca novamente o salto para outra ordem (como diria Pascal).

O decálogo prodigioso entre a nova base produtiva da força produtiva intelectual e a base miserável da organização política herdada da era das nações (o século XIX) e da construção internacional tão dificultosa do século vinte nutre agora uma exigência de democracia radical, que por primeira vez pode ir ao fundo das coisas. Contrariamente ao que quer fazer crer o discurso insuportável e triste do “desencantamento do mundo”, bem como as lições cínicas sobre a queda do ideal comunista e socialista, jamais a utopia, a utopia no sentido do desejo de uma sociedade de justiça capaz de habitar a terra, tem realmente feito sentir sua necessidade. Esta necessidade de democracia à altura da inteligência é o antídoto ao catastrofismo e ao culto da impotência ante o espetáculo da loucura do mundo.

IHU On-Line - Quais os desafios da Multitudes frente a esse cenário de crise? Qual tem sido o foco que orienta o trabalho editorial da revista e como ela pretende contribuir para a reflexão e a compreensão desta fase na economia mundial?

Yann Moulier Boutang – Como eu expliquei mais acima, a derrocada do comunismo e depois o da socialdemocracia após aquela das veleidades revolucionárias que partem do ciclo de 1968 no mundo, face à retomada de uma iniciativa reformista capitalista em pleno centro da crise (Obama na Wall Street!), abre imensas campos de ação. O da reconstrução de uma subjetividade teórica, política, diversa do que nas respeitáveis invocações de uma lembrança já arqueológica da chama revolucionária comunista (ver a última obra de Alain Badiou ) é realmente necessária.

Há atualmente três fontes do pensamento radical a combinar:

a) a tradição revolucionária, muito mais do que a tradição comunista (pois a tradição revolucionária é mais rica, mais variegada, mais estriada, pois ela brota de todas as famílias históricas das diferentes heresias, das diferentes cores de pele;

b) a tradição de libertação (a que provém da luta contra o capitalismo escravagista mercantilista, da luta das mulheres, da luta dos povos mestiços e aborígenes que se exprime na poderosa corrente pós-colonial latino-americana;

c) a tradição ecologista, que tem a vocação de reconstruir a armadura da relação com uma nova racionalidade.

Estas três correntes já se fundem, mas na economia política, na ciência política o caminho ainda é longo. No entanto, Multitudes, como Revista, mantém esta direção com alguns resultados no plano de uma nova definição da ecologia política.

Leia mais...

>> Yann Moulier Boutang já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line.

Entrevistas:

* A bioprodução. “O capitalismo cognitivo produz conhecimentos por meio de conhecimento e vida por meio de vida”. Publicada na IHU On-Line número 216, de 23-04-2007.

* Refundar a noção de emprego e de salário. Publicada na IHU On-Line número 177, de 24-04-2006. 

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