Edição 297 | 15 Junho 2009

Darwin revolucionou nossa visão cósmica

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Márcia Junges

Poucas pessoas na história da humanidade revolucionaram nossa visão cósmica. “Darwin foi uma delas”, assegura o pesquisador Francisco Mauro Salzano. A partir do pensamento do cientista britânico, nos demos conta de que não somos espécie única.

"Ao invés de sermos uma espécie única, somos apenas uma entre milhões de outras.” A afirmação é de Francisco Mauro Salzano, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na entrevista exclusiva que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line. De acordo com ele, “a visão do mundo na Idade Média não podia ser mais monótona. O mundo teria sido criado por uma entidade divina em uma versão fixa, e as condições atuais seriam exatamente as mesmas do início. Com Darwin, ficou claro que a natureza não foi criada para nos servir, e que somos apenas um elo na grande irmandade do mundo biológico”. E completa: “Na história da humanidade, são poucas as pessoas cujo pensamento revolucionou nossa visão cósmica. Darwin foi uma delas”.

Salzano é palestrante em 16-06-2009, no Pré-Evento ao Simpósio Internacional Ecos de Darwin, com o tema A evolução como uma visão revolucionária do mundo. A atividade inicia às 17h30min, na Sala 1G119 do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. O Simpósio Internacional Ecos de Darwin está marcado de 9 a 12 de setembro de 2009. A programação completa pode ser conferida no sítio do IHU: 

Graduado em História Natural pela UFRGS, é especialista em Genética pela Universidade de São Paulo (USP) e em Genética e Biologia Molecular, pela UFRGS. Doutorou-se em Biologia Genética, pela USP, com a tese O problema das espécies crípticas – Estudos no subgrupo Bocainensis (Drosophila). É pós-doutor pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos e livre-docente pela UFRGS. Autor de mais de 200 artigos científicos, escreveu as obras Biologia, cultura e evolução (2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1993), Evolução do mundo e do homem: liberdade ou organização? (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1995) e DNA, e eu com isso? (São Paulo: Oficina de Textos, 2005).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual foi a principal novidade trazida por Darwin em A origem das espécies?

Francisco Mauro Salzano – Foi o livro de Darwin que colocou em firmes bases científicas o estudo da evolução, dando ênfase à seleção natural como seu principal fator determinante. As obras anteriores sobre evolução não eram satisfatórias porque se limitavam a análises gerais, sem embasamento experimental.

IHU On-Line - Sob quais aspectos essa obra lança um novo paradigma de ciência?

Francisco Mauro Salzano – Tem-se dito que o mundo nunca mais seria o mesmo após a publicação de A origem das espécies. O livro possibilitou completar o trabalho de Nicolau Copérnico (1473-1543) de deslocamento de nossa espécie tanto do centro do universo (Copérnico) quanto do centro dos organismos vivos (Darwin). Ao invés de sermos uma espécie única, somos apenas uma entre milhões de outras.

IHU On-Line - Por que a evolução pode ser compreendida como uma visão revolucionária de mundo?

Francisco Mauro Salzano – A visão do mundo na Idade Média não podia ser mais monótona. O mundo teria sido criado por uma entidade divina em uma versão fixa, e as condições atuais seriam exatamente as mesmas do início. Com Darwin, ficou claro que a natureza não foi criada para nos servir, e que somos apenas um elo na grande irmandade do mundo biológico.

IHU On-Line - Que aspectos de A origem continuam atuais e quais já foram superados?

Francisco Mauro Salzano – O fator principal que orquestra todo o processo de evolução orgânica continua reconhecido como sendo a seleção natural. Outros aspectos, como o alvo principal de sua ação [se é o organismo, como postulou Darwin, se é a unidade da herança (o gene), ou toda uma população], é um problema ainda em discussão. Darwin também supunha que as mudanças evolucionárias eram geralmente pequenas e graduais, enquanto alguns pesquisadores atualmente questionam esta visão, sugerindo mudanças drásticas em alguns casos de alterações fundamentais de estrutura.

IHU On-Line - O neodarwinismo capta a originariedade do darwinismo? Por quê?

Francisco Mauro Salzano – A essência do darwinismo, a evolução através principalmente da seleção natural, continua onipresente.

IHU On-Line - Qual é a relação entre Darwin e a revolução molecular?

Francisco Mauro Salzano – A revolução molecular possibilitou o estudo da evolução em níveis até bem pouco tempo inimagináveis. Sugestões da década de 1970 do século passado, desenvolvidas principalmente pelo geneticista japonês Motoo Kimura, de que em nível molecular o processo seria governado basicamente pelo acaso, não foram confirmadas por estudos desenvolvidos desde aquela época.

IHU On-Line - E qual é a importância do legado darwiniano dentro da sua pesquisa acadêmica, como pesquisador?

Francisco Mauro Salzano – Toda a minha pesquisa acadêmica tem se desenvolvido sob a égide do darwinismo.

IHU On-Line - Qual é o significado de se comemorar o bicentenário do nascimento de Darwin?

Francisco Mauro Salzano – Tendo em vista o que já foi mencionado, tornava-se indispensável comemorar de maneira apropriada o seu nascimento. Na história da humanidade, são poucas as pessoas cujo pensamento revolucionou nossa visão cósmica. Darwin foi uma delas.

Saiba mais...

>> Confira a programação completa do IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin no link http://www.unisinos.br/eventos/ecos_darwin/, no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.


Baú da IHU On-Line

* “Somos melhores depois de Darwin
Entrevista especial com Anna Carolina Regner, Notícias do Dia, de 17-03-2009

* A ciência antes e depois de Darwin
Entrevista especial com Lilian Al-Chueyr Pereira Martins e Roberto de Andrade Martins, Notícias do Dia, de 15-12-2008.

* A questão das espécies antes de Darwin
Notícias do Dia, de 03-06-2009

* Darwin matou Deus?
Notícias do Dia, de 17-05-2009.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição