Edição 296 | 08 Junho 2009

IHU Repórter - Luciana Paulo Gomes

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Graziela Wolfart

“Sou uma pessoa só: a professora, a orientadora, a amiga, a irmã. Em todos os âmbitos da minha vida procuro ser a mesma. Eu sou assim lá fora e aqui dentro. É ruim quando as pessoas não são autênticas.” É dessa forma que a professora Luciana Gomes se define. Aos 45 anos de idade e com uma carga imensa de atividades e tarefas dentro da Unisinos, ela não demonstra esmorecer diante de nenhum desafio. Com um sorriso no rosto e algumas lágrimas de emoção, ela abriu o livro de sua vida à IHU On-Line e contou sua trajetória na entrevista que segue. Descubra aspectos inusitados desta colega da comunidade acadêmica da Unisinos

Origens - Sou natural de Porto Alegre. Tenho uma irmã, a Liane, que é mais nova e sou a primeira filha, apesar de ser a sexta gravidez da minha mãe - ela perdeu todos os outros bebês antes. Então, fui uma filha muito esperada. Minha irmã é formada em Publicidade e Propaganda pela Unisinos e trabalha na Agência Matriz, de Porto Alegre. Meu pai, Sérgio Gomes, era professor aqui na Unisinos, e minha mãe, Janice, era advogada, mas não exercia a profissão. Os dois já são falecidos. Eu e minha irmã sempre fomos muito diferentes. Ela sempre foi mais de ir a festas e eu sempre fui mais tímida. Eu gostava de estudar e ela era um problema nessa questão, sempre preocupando o pai e a mãe. Cresci vendo meu pai no escritório corrigindo provas. Talvez isso tenha me influenciado na escolha da profissão. Outra lembrança que tenho da infância, e que hoje recordo com alegria, já que reflete parte de meu atual trabalho, é a de que meu pai fazia o reaproveitamento do papel, usando também o verso das folhas das provas não utilizadas. Isso há 40 anos. Eu sempre tive uma estrutura familiar sólida em minha vida, com muito respeito dentro de casa.

Relação com o pai - Quando eu fazia a graduação em Engenharia Civil, nem eu nem meu pai demonstrávamos nosso parentesco dentro da Unisinos. Ele, como meu professor, nunca facilitou a minha vida, pelo contrário. Exigia o máximo de mim, queria que eu fosse a melhor. No entanto, mais tarde, quando vim a me tornar professora aqui na universidade, ele tinha o maior orgulho de dizer que eu era filha dele, falava para todo mundo. Em 1995, o pai descobriu que estava com câncer e faleceu um ano depois. Trabalhamos juntos na Unisinos menos de um ano. Mas foi bom. 
 
Formação – Fiz todo o ensino fundamental e médio no Colégio Anchieta. Depois, cursei Engenharia Civil aqui na Unisinos, de 1981 a 1986. Esses anos todos estudando em instituições jesuítas fizeram com que eu me sentisse um pouco jesuíta também. Terminada a graduação, engatei direto no mestrado em Engenharia Civil - Hidráulica e Saneamento, na USP, em São Carlos. Fui sozinha, vivendo a experiência de sair da casa dos pais. Morei em república, depois dividi casa de aluguel com amigas, até que decidi morar sozinha. O doutorado foi uma sequência do mestrado, na mesma universidade. Fiquei nove anos em São Carlos.

Esportista e pesquisadora na França – O Colégio Anchieta sempre incentivou muito o esporte. Eu fazia ginástica olímpica, joguei basquete, mas descobri que o vôlei era meu esporte favorito. Fiz carreira no vôlei e integrei a seleção gaúcha durante vários anos, inclusive. Joguei até os 40 anos. Quando faltava uma semana para eu defender o mestrado, recebi uma proposta para integrar um time de vôlei na França, onde eu deveria ficaria por seis meses, para participar do campeonato estadual. Mesmo sem saber falar francês, decidi ir, levando apenas um dicionário de bolso. Só que eu não podia ser tão irresponsável de ir até a França só para jogar vôlei e passear. Decidi fazer algo mais profissional. Descobri um laboratório de pesquisa bem próximo da cidade onde eu fiquei, e lá continuei um estágio iniciado por uma professora brasileira, que recentemente havia voltado de lá e que eu conhecia. Ela me indicou ao professor francês que coordenava a pesquisa e deu tudo certo. Eu trabalhava de dia no laboratório, os treinos do time eram à noite e os jogos nos finais de semana. Quando eu voltei até mudei o tema do meu doutorado, inspirada na pesquisa que eu vinha fazendo na França. Eu tinha trabalhado com aterro sanitário no mestrado e iria trabalhar com compostagem no doutorado. Acabei mudando para a área da microbiologia. 

Trajetória profissional – Durante o mestrado, comecei a dar aulas na Faculdade de Engenharia de Poços de Caldas, que fica a 180 quilômetros de São Carlos, e que já pertence a Minas Gerais. Eu estava terminando o doutorado, em 1995, quando recebi um telefonema de uma antiga professora que tive na Unisinos. Ela me informou que estava mudando a estrutura administrativa da universidade e que estavam precisando de alguém para preencher o novo cargo de pró-diretor acadêmico do antigo centro seis. Decidi aceitar o convite e foi bom voltar para casa.

Contribuição para a Unisinos – Desde que entrei aqui, em 1995, pude trabalhar com diversas frentes diferentes. Conheci várias pessoas e setores e isso sempre foi muito legal. Além do cargo que assumi na chegada, sempre fui professora e pesquisadora. E eu sabia que, trabalhando na área ambiental, era preciso ser “multidisciplinar”. Me aproximei do pessoal da biologia, da saúde, e trabalhei até no PPG em Geologia. Ajudei a criar o grupo Verde Câmpus, que começou o projeto de coleta seletiva de papel da universidade. Quando ele estava funcionando bem, em 2003, fiz uma proposta para o professor Célio Wolfarth, da reitoria, de um projeto de implantação da certificação 14001. Ele aceitou e, em um ano e oito meses, conseguimos obter a certificação, como a primeira universidade da América Latina a conquistá-la. E foi aí que implantamos o Sistema de Gestão Ambiental da Unisinos, o SGA, que opera e acompanha esse processo da certificação. Eu coordeno hoje o SGA, que é diretamente vinculado à reitoria da universidade. Além disso, sou coordenadora do Laboratório de Microbiologia de Resíduos, que é um laboratório de pesquisa vinculado ao PPG em Engenharia Civil, dou aulas na graduação e na pós-graduação em Engenharia Civil, na graduação em Gestão Ambiental, e sou a responsável pela licença de operação ambiental do câmpus, incluindo a gestão da estação de tratamento de esgoto e central de resíduos da Unisinos, onde instalei um anexo do Laboratório. Paralelo a tudo isso, sou a vice-presidente do Comitesinos, que é o comitê de bacia da região do Rio dos Sinos, onde represento a Unisinos. Meus dias são bem agitados.  

Rotina – Atualmente, moro aqui em São Leopoldo, com uma amiga, a Adriana. Comprei um sobrado bem legal aqui no Morro do Espelho. Tenho uma sobrinha, a Rafaela, filha da minha irmã. A Rafaela é minha afilhada e faz Administração aqui na Unisinos. Tenho também a Clara, uma cachorra labradora.

Autor – Erico Verissimo.

Livro O tempo e o vento

Filme - Sissi

Nas horas livres – Assistir aos jogos do Internacional, caminhar com a minha cachorra e tomar uma cervejinha.

Sonho – Viver de forma mais transparente. Eu gostaria de poder ser mais transparente em tudo e sentir as pessoas assim. Eu não gosto de ter que “pisar em ovos” em algumas situações; gostaria que as pessoas fossem mais abertas, mesmo que fosse para errar, sem essa de ficar em cima do muro. Gostaria de não ter muros para dividir as coisas. 

Unisinos – É a minha carreira profissional. Já tive altos e baixos aqui, e os “baixos” não precisam ser lembrados. Minha expectativa é de me aposentar aqui. Vejo o câmpus como uma grande sala de aula. A Unisinos é um exemplo de universidade, em relação a sua forma de ser e de desenvolver o ensino acadêmico. 

Instituto Humanitas Unisinos – Ele poderia ser melhor aproveitado. Vejo tantos aspectos da área ambiental que poderiam estar mais trabalhados nele. Eu mesma gostaria de me aproximar mais do Instituto. Penso que o IHU poderia incentivar a proposta de desenvolver na Unisinos a política de responsabilidade socioambiental. Quem sabe podemos buscar uma certificação nessa área e ter o IHU como um promotor? Lanço esse desafio e coloco o SGA à disposição.

Política no Brasil – Vejo a política no Brasil de forma muito envergonhada. Se gosto de falar de exemplos, acho que a política que fazemos aqui não é exemplo para nada. Ano passado, foi a primeira vez que anulei um voto. Pode mudar partido ou pessoa, mas a realidade não muda. Não vejo nenhuma luz no fim do túnel.

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