Edição 290 | 20 Abril 2009

Facebook: um meio de socialização on-line

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Patricia Fachin | Tradução Sander Jeanne

Para o pesquisador Marco González, programas como Facebook e Twitter ganham destaque porque as pessoas estão sempre buscando novas formas de socialização

“Essas tecnologias ajudam as pessoas a gerir melhor sua vida social da mesma maneira como bancos de dados informatizados ajudam as empresas a controlar e gerir seu inventário”, diz o pesquisador estadunidense Marco González, ao comentar o sucesso de redes sociais como Twitter e Facebook. Na entrevista que segue, feita por e-mail, à IHU On-Line, González compara o comportamento real ao virtual, e diz que em ambas situações os sujeitos têm atitudes parecidas. “Constatamos que as pessoas são incrivelmente semelhantes a seus amigos e amigas no Facebook em termos de seus interesses culturais, sua origem, seu status socioeconômico e suas preferências políticas, para mencionar apenas algumas variáveis-chave”, assinala. Além disso, garante, essas tecnologias “proporcionam uma percepção inédita da vida pessoal e social das pessoas”.

González está cursando doutorado em Harvard, onde participa, há quatro anos, de um grupo de pesquisa que analisa o Facebook. Com o objetivo de responder a questão “como e por que as pessoas estabelecem relações umas com as outras?”, ele diz que os estudos revelam que a “semelhança cultural desempenha um papel significativo no processo de formação das amizades”. O desafio, entretanto, “é entender como e por que as pessoas definem a semelhança cultural de formas diferentes em contextos diferentes”, explica. 

Marco González é doutorando do Departamento de Sociologia da Universidade de Harvard. Durante os últimos quatro anos, ele foi pesquisador colaborador no desenvolvimento e na análise de um conjunto singular de dados visando a examinar as relações entre jovens na rede social do Facebook. Seu trabalho tem sido publicado em diversos periódicos, incluindo Social Networks e Canadian Journal of Sociology.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como compreender a aceitação e receptividade das pessoas por redes sociais como Facebook, Orkut e Twitter?

Marco González - A aceitação e receptividade das pessoas para com sites de interação social não é particularmente surpreendente. Essas tecnologias ajudam as pessoas a gerir melhor sua vida social da mesma maneira como bancos de dados informatizados ajudam as empresas a controlar e gerir seu inventário. Historicamente, constatamos que as pessoas sempre estão buscando formas novas e mais eficientes de se comunicar umas com as outras, de ser mais sociáveis. Ajudando-nos a acompanhar todos os nossos amigos, tanto os de longe quanto os de perto, essas tecnologias constituem uma resposta direta a essa necessidade.

IHU On-Line - A que conclusões o senhor chegou a partir da pesquisa “Tastes, ties and time” (Gostos, gravatas e tempo), sobre Facebook? Qual é a peculiaridade desse site?

Marco González - Meus colegas e eu começamos a coletar os dados há uns quatro anos. Cada integrante de nossa equipe tem interesses de pesquisa específicos e aplicou os dados de formas diferentes. Alguns examinaram a razão pela qual as pessoas tendem a estabelecer relações com pessoas da mesma raça, enquanto outros examinaram a disseminação de certas formas de comportamento, como sorrir, por exemplo. Entretanto, cada um de nós está, de alguma maneira, lidando com a mesma pergunta: como e por que as pessoas estabelecem relações umas com as outras? Nossos estudos individuais sugerem, coletivamente, que a semelhança cultural desempenha um papel significativo no processo de formação de amizades. O desafio, porém, é entender como e por que as pessoas definem a semelhança cultural de formas diferentes em contextos diferentes. Por exemplo, numa determinada situação, uma pessoa talvez se identifique com alguém com base em seu gosto musical, ao passo que em outra situação ela talvez se identifique com alguém com base em sua origem étnica. Um dos objetivos centrais de nossa pesquisa é identificar algumas dessas contingências subjacentes a esse processo.

IHU On-Line - Em que sentido o comportamento desenvolvido por pessoas na rede é parecido com o da vida real?

Marco González - Eu diria que o comportamento das pessoas na internet é muito semelhante ao comportamento delas na vida real. Na maioria dos casos, as pessoas já são amigas ou já conhecem as pessoas com quem fazem amizade on-line. Isto sugere que as amizades virtuais representam com alguma exatidão as amizades do mundo real, e, em consequência disso, muitos dos mesmos processos que determinam as relações no mundo real se encontram na rede. As pessoas tendem a postar mensagens nas páginas do Facebook de seus amigos mais próximos do que nas páginas de seus amigos mais distantes. Isto é bem semelhante ao que ocorre na vida real, em que as pessoas tendem a telefonar ou visitar seus amigos mais próximos com mais frequência do que os mais distantes. Além disso, constatamos que as pessoas são incrivelmente semelhantes a seus amigos e amigas no Facebook em termos de seus interesses culturais, sua origem, seu status socioeconômico e suas preferências políticas, para mencionar apenas algumas variáveis-chave. Isto é muito semelhante à vida real. As pessoas tendem a interagir com aquelas que são mais parecidas com elas.

IHU On-Line - O senhor diz que características como popularidade e timidez se mantêm nos dois ambientes (real e virtual). Mas o que explica, por exemplo, o fato de um internauta ter muitos “amigos” e relacionamentos nas redes sociais e poucos contatos reais?

Marco González - Os dados sugerem que, na maioria dos casos, as pessoas já são amigas ou já conhecem as pessoas com quem fazem amizade on-line. Isto significa que as redes de relações virtuais das pessoas são representações bastante exatas de suas relações na vida real. Em consequência disso, parece que os indivíduos que têm muitos relacionamentos na internet e poucos contatos na vida real são mais raros do que a cultura popular nos quer fazer crer. Além disso, pesquisas anteriores mostram que as pessoas podem gerir com sucesso um número finito de relacionamentos em sua vida. Portanto, parece altamente improvável que uma pessoa conseguisse manter um relacionamento ativo e comunicativo com milhares de pessoas on-line. Tendo dito isso, há de fato pessoas que têm redes enormes de relacionamentos na internet. Acho que se nos aprofundássemos, constataríamos que essas pessoas raramente, ou nunca, se comunicam com todos os seus contatos on-line e que seus relacionamentos ativos na rede espelham muito de perto seus relacionamentos na vida real.

IHU On-Line - Qual é o impacto da realidade virtual na vida real e vice-versa? Espaços de interação social virtual podem ser vistos como uma extensão da vida real?

Marco González - Não sei se eu diria que a interação virtual é uma extensão da vida real. Eu sustentaria, antes, que a interação on-line é, frequentemente, usada para complementar a vida real. Os dados mostram que a maioria das pessoas se envolve em interações virtuais para incrementar os relacionamentos que já tem na vida real. Você poderia afirmar que a interação on-line ajuda as pessoas a manter e ampliar seus relacionamentos já existentes. Ela as aproxima mais das pessoas que já conhecem.

IHU On-Line - O senhor aponta a etnia como um fator predominante nos relacionamentos virtuais através do Facebook. Por quê? Questões raciais ganham importância no mundo virtual?

Marco González - Penso que a raça e a etnia se moldam aos relacionamentos virtuais das pessoas na medida em que o fazem na vida real. Sabemos que a raça e a etnia têm um papel proeminente para determinar com quem as pessoas interagem no mundo real. Se as relações on-line refletem os relacionamentos das pessoas no mundo real, deveríamos esperar que a raça e a etnia tenham uma importância semelhante na definição dessas relações.

IHU On-Line - Quais são as perspectivas que o Facebook e o Twitter lançam para o universo digital?

Marco González - Tecnologias como o Facebook e o Twitter proporcionam uma percepção inédita da vida pessoal e social das pessoas. Em consequência disso, elas correm o risco de serem mal usadas e violarem a privacidade das pessoas. Ao mesmo tempo, entretanto, as informações que esses sites oferecem poderiam ser usadas para incrementar significativamente a vida e as experiências sociais das pessoas. Por exemplo, essas tecnologias poderiam ser usadas para facilitar o desenvolvimento de produtos e/ou a divulgação de ideias que constituam uma resposta direta às necessidades de populações específicas. Eu sustentaria que o Facebook, o Twitter e outras tecnologias de interação social são poderosas na medida em que proporcionam a indivíduos e grupos um meio para que outros tenham acesso a essas ideias.

IHU On-Line - É possível falar em uma revolução na comunicação e até mesmo nos relacionamentos pessoais a partir de surgimento de redes sociais como Facebook? Por quê?

Marco González - Eu não caracterizaria a ampla popularidade de sites de interação social como indicativo de uma revolução na comunicação. Eles são poderosos, mas é cedo demais para dizer se há de fato uma revolução acontecendo. Mais do que qualquer outra coisa, essas tecnologias, como outras antes delas, oferecem a oportunidade de nos conectar melhor uns com os outros e ser sociáveis. No bojo desse processo, nós ganhamos não só uma melhor compreensão das pessoas que nos cercam, mas também um novo meio para expressar nossa individualidade.

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