Edição 283 | 24 Novembro 2008

Perfil Popular - Manoel Moacir Lucena Pereira, o “Manoelzinho canhoto”

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Bruna Quadros

“Sou pobre, mas nunca precisei usar drogas para ser feliz.” Assim, Manoel Moacir Lucena Pereira, 57 anos, motorista da prefeitura de Canoas, começa a contar a sua trajetória de vida para a revista IHU On-Line. Ele, que é natural de Palmares do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, cresceu em meio a uma família simples, mas com muitos valores e princípios. A honestidade é o valor que Manoel guarda para toda a vida. Entre as brincadeiras de criança e a ajuda que dava ao pai tocando o gado, ele aprendeu a gostar de música. Tamanho envolvimento garantiu a Manoel a gravação do seu primeiro CD, Manoelzinho canhoto, o bom de cama. A seguir, acompanhe os relatos de vida deste homem que tem fé em Deus e se alicerça na família, para continuar a caminhada:

 

Ainda na infância, quando estava com 10 anos de idade, Manoel aprendeu a gostar de música. Nesta época, ele já havia deixado sua cidade-natal Palmares do Sul com a família para morar em Canoas. “Os casais faziam serenatas, em casas de família e dos amigos, aos finais de semana.” Como a única criança que acompanhava e ficava acordada até o final das serenatas, Manoel aprendeu a tocar violão sozinho, aos 11 anos. “Os violeiros já diziam para a minha mãe: “Este vai ser músico.”

E o que era apenas uma promessa, hoje, é realidade. Há um ano, o guri humilde de Palmares realizou um grande sonho ao gravar seu primeiro CD. Manoelzinho canhoto, o bom de cama, traz composições próprias e grandes sucessos da música regional gaúcha e sertaneja. “Sou canhoto para tocar e o título do CD é uma sátira que fiz ao ouvir uma propaganda de rádio, que fazia alusão aos maridos que gostavam muito de dormir”, revela. Ao longo da carreira, Manoel já tocou em muitos bailes e festas. Para ele, a música vai além de um trabalho de finais de semana. “Sem a música, sou uma pessoa pela metade. Só me sinto realizado, quando posso tocar e cantar. Gosto mais da música como lazer do que como trabalho.”

Como profissão, Manoel precisa encarar os desafios do trânsito, diariamente. Ele, que já foi motorista de táxi e de ônibus, há 27 anos é um dos motoristas da prefeitura de Canoas. Por causa das dificuldades da família, Manoel estudou apenas até a 6ª série, também pela dificuldade de acesso à escola, e, aos 17 anos, começou a trabalhar para ajudar em casa. Mesmo assim, seu trabalho é uma das suas maiores realizações. “Gosto de dirigir. Quando se faz o que gosta para ganhar o pão de cada dia, a gente tem prazer no que faz.” Além da profissão, a inspiração de Manoel para viver vem da família.

Do primeiro casamento, Manoel tem dois filhos: Daniel, 28 anos e Rafael, 26, do primeiro casamento. “Sempre tive vontade de ter a minha família, mas depois de 28 anos de casado, a relação se desgastou e conheci outra pessoa. Hoje, casei com a Mari Solange, que é costureira.” Para ele, a família é a base de tudo. “É preciso ter motivos para lutar e batalhar.” E,depois de tantos anos de luta para conquistar sonhos e objetivos, Manoel só tem um sonho: se aposentar e ter saúde para usufruir todos estes anos que precisou trabalhar. A música, é claro, também continua nos seus planos. 

Mesmo que tenha se mudado para a cidade grande há bastante tempo, Manoel não esquece das origens humildes. Para sustentar a família de seis filhos – Manoel é o terceiro, com 57 anos -, ele lembra que seu pai, Dlermano, já falecido, trabalhava com plantações de arroz. “Depois que ele veio para Canoas, foi trabalhar em transportadoras, carregando e descarregando caminhões. Minha mãe, Ana Francisca, que está com 85 anos, sempre foi dona-de-casa e cuidava dos filhos.” A infância deu muitas alegrias para Manoel. “Lembro que, em Palmares, meu pai tinha gado leiteiro e nós íamos tocar o gado para a ordenha, à tardinha, com uma vara na mão.” Além disso, soltar pandorga, jogar bolinhas de gude e peão eram as distrações preferidas dele.

Muito mais que os valores do trabalho, Manoel herdou da família a honestidade. “Aprendi de mais valioso que o homem pode ser pobre, porém honesto, como o meu pai sempre foi. Ele dizia que não adiantava ter riqueza e ser uma pessoa mal vista pela sociedade. Se, um dia, estivéssemos com fome e na divisa com o terreno do vizinho tivessem frutas, não era para pegarmos sem pedir para o dono do pátio.”

Criado nos princípios da Igreja Católica, Manoel já conheceu outras doutrinas como a Igreja Evangélica e a umbanda. Hoje, se identifica mais com o espiritismo. Para ele, um homem sem espiritualidade é um vazio. “Com fé, a gente se conduz melhor na vida. Os incrédulos não têm amor próprio, nem pelo seu semelhante, o que pode levar à criminalidade.” Ao tocar nesta questão, Manoel destacou a sua visão sobre o cenário político do país que, segundo ele, está se encaminhando para a melhora. “O Brasil é grande e rico, basta saber aproveitar estas riquezas e distribuir melhor a renda. Assim, toda a classe brasileira terá a oportunidade de uma vida melhor.” Manoel afirmou que o país também precisa investir mais em postos de trabalho, pois só com emprego, o povo será digno.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição