Edição 280 | 03 Novembro 2008

IHU Repórter - Alexandre Ayub Dargél

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Bruna Quadros

Na última semana, quem visitou a redação da revista IHU On-Line foi o advogado e professor Alexandre Ayub Dargél. Natural de Itaqui, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, ele conheceu ainda na infância os valores do tradicionalismo gaúcho. Daí surgiu o seu gosto por esportes eqüestres, como o hipismo. Hoje, devido à falta de tempo – Alexandre se divide entre as aulas no curso de Direito na Unisinos, o atendimento à comunidade no Núcleo de Prática Jurídica da Instituição e a atuação em seu escritório de advocacia –, ele deu lugar a esportes como o surf e a natação. Durante a entrevista que você confere a seguir, o professor falou muito mais sobre sua trajetória de vida. Ele destacou questões de extrema importância para a sociedade como, por exemplo, a impunidade. Confira:

 

Origens – Nasci em Itaqui, na fronteira com a Argentina. Morei lá até os 14 anos, quando fui estudar em Porto Alegre, para cursar o segundo grau. Minha mãe foi professora, mas, com o nascimento dos filhos, passou a dedicar-se unicamente à família. E o meu pai era comerciante. Tenho dois irmãos, um é médico e o outro está fazendo vestibular para medicina. Hoje, estou com 31 anos e sou o segundo filho.

Infância – Foi marcada pelo convívio com o tradicionalismo gaúcho. Além da escola, dividia o meu tempo com esportes eqüestres, como o hipismo, tendo participado de várias competições em todo o Estado.

Valores – Tudo o que tenho de valores devo aos meus pais. Minha mãe é de uma família de libaneses. Então, tem conceitos muito rígidos sobre tradição e respeito. Mas, realmente, minha formação pessoal foi guiada pelo meu pai. Devo tudo a ele, que me orientou e ainda me orienta na vida. Ele me ensinou, principalmente, um valor que prezo muito: a lealdade.

Estudos – Sempre fui um aluno médio. Nunca fui brilhante. Mas, quando saí de Itaqui e fui morar na capital, tive de me dedicar mais aos estudos. Meu Segundo Grau não foi de muito estudo, porque foi um período de adaptação e fiz muitos amigos. Naquela época, prezava o lado social da vida, mais que os estudos.

Formação – Fui aprovado no primeiro vestibular que fiz, para o curso de Direito, na PUCRS. Não tenho influências de advogados na minha família, que é basicamente de médicos. Ia fazer vestibular para Ciências da Computação, mas, no dia da inscrição, resolvi mudar para Direito. Não sei o que me levou a esta escolha, mas foi a melhor coisa que fiz na vida. Não me imagino em outra profissão. Minha formatura foi em janeiro de 2000. Em agosto do mesmo ano, fui aprovado na seleção e comecei a fazer o mestrado, em Ciências Criminais, também na PUCRS.

Trabalho - Quando comecei a graduação, procurei estágios. Queria ter uma experiência na área para saber se era realmente o que eu queria. Esta experiência veio no 4º semestre do curso, quando comecei a trabalhar no escritório de um professor de Direito Penal, com quem trabalho até hoje. Descobri que era desta área mesmo que eu gostava e já são mais de onze anos neste escritório.

Unisinos – A oportunidade de trabalhar na universidade veio com a aprovação no concurso realizado em 2007. Além de professor do Centro das Ciências Jurídicas, atuo no Núcleo de Prática Jurídica da instituição, que funciona na antiga sede. Minha atividade, em ambos os setores, é muito gratificante. No Núcleo, leciono a disciplina de Estágio IV, na qual alunos têm a possibilidade de vivenciar a realidade da profissão de advogado, pois atendemos à comunidade carente.

Carreira – Como todo o jovem profissional, a maior parte do meu tempo é dedicada ao trabalho. Contudo, trabalhar na Unisinos é como um lazer, como se eu estivesse tirando férias do escritório, em Porto Alegre, porque é outra atividade, muito prazerosa, que alivia a tensão do dia-a-dia. Sempre quis ser professor, mesmo quando não sabia qual profissão iria escolher.

Família – Moro em Porto Alegre e sou solteiro. Tenho namorada e um cachorro. Hoje em dia, meus irmãos moram sozinhos. Meus pais ficam um pouco em Itaqui e um pouco em Porto Alegre. Procuramos estar sempre em contato. A minha casa é o ponto de encontro. Os churrascos que fazíamos em Itaqui aos finais de semana agora são feitos lá. Penso em ter filhos e constituir a minha família, mas ainda não é o momento.

Lazer – Esportes com cavalos não pratico mais, porque envolve muito tempo. Hoje, surfo de longboard, pratico natação e musculação. Estou iniciando em uma nova modalidade, que é o kitesurf.

Filme – Destaco a trilogia de O poderoso chefão, que me impressiona até hoje. Não pela questão da violência ou da máfia, mas, sim, pela lealdade das pessoas. Trago isso para a minha vida pessoal. Procuro ser leal em tudo o que faço e com todas as pessoas que estão sempre comigo.

Livro – Recentemente, li O código da vida, do ex-ministro da Justiça Saulo Ramos. A narrativa é a partir de um caso criminal no qual o autor trabalhou como advogado e, a partir daí, conta a sua trajetória de vida. Indico muito aos meus alunos. Quem atua na área do Direito precisa ler esta obra por uma questão de humanização profissional.

Impunidade – Sempre faço debates com os meus alunos e pergunto até que ponto vai esta impunidade e para que setores da sociedade ela existe. No escritório, trabalho com uma parcela privilegiada da população. Para a parcela mais pobre, temos um Presídio Central superlotado, assim como os demais existentes no país. Não vejo impunidade neste ponto. Esta sensação vem muito mais da falta de punição em crimes praticados pelos poderosos, e aqui me refiro principalmente pelos políticos. A impunidade relacionada a crimes violentos é muito menor do que se fala hoje em dia e esse discurso só serve para justificar cada vez mais prisões ilegais, amparadas na necessidade de se diminuir a sensação de impunidade, a ponto de hoje mais da metade dos presos no presídio central estar encarcerada sem sequer ter sido condenada, em um país onde esse tipo de prisão, a preventiva, deve ser a exceção. As pessoas se perguntam por que os “ricos”, sonegadores, não vão para a cadeia. Acontece que, por exemplo, as penas previstas, para o crime de sonegação fiscal, não geram a prisão, pois no Brasil, se a condenação por um crime praticado sem violência ou grave ameaça não for superior a quatro anos, o condenado não será preso, mas receberá penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade. O sistema brasileiro é assim, e é muito bom, porque reintegra essas pessoas, ao invés de isolá-las em uma prisão, onde elas se corromperiam muito mais.

Política – Sou muito otimista com as questões do país. Estamos alcançando um bom nível de desenvolvimento e o nosso país tem muitas condições de dar certo. Se os governantes se preocupassem mais com o crescimento do país, com a população, e menos com melhorar as suas condições pessoais e de seus grupos, conseguiríamos dar um salto muito grande, para chegar a ser uma potência.

Instituto Humanitas Unisinos – É um trabalho muito importante, para quem é professor, ou até mesmo quem é de fora da comunidade acadêmica. A revista IHU On-Line traz muitas informações com posicionamento crítico sobre assuntos atuais. Quem não tem tempo de acompanhar outros periódicos, lê a revista e tem um panorama geral do que está acontecendo.

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