Edição 277 | 14 Outubro 2008

Perfil Popular - Alzira de Oliveira

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Bruna Quadros

Nesta semana, a equipe da IHU On-Line foi conferir as novidades em artigos artesanais na tradicional exposição realizada no câmpus. Foi lá que conhecemos Alzira de Oliveira, 65 anos, o Perfil Popular desta edição. A banca de Alzira chamou a atenção pela diversidade e beleza de velas e luminárias decorativas. Esta arte ela não aprendeu em cursos, mas, sim, ao assistir o “passo-a-passo” em um programa de TV. A venda dos artigos é dividida entre os 40 membros da Associação dos Artesãos e Arte de Novo Hamburgo, município onde mora Alzira. Segundo ela, o valor auxilia na renda familiar, mas o que a incentiva a fazer as peças é o gosto pela arte. Conheça, a seguir, um pouco mais da história de Alzira:

 

Foi no município de Feliz, no interior do Rio Grande do Sul, que nasceu Alzira de Oliveira, há 65 anos. Filha dos agricultores Ernesto e Regina, já falecidos, ela teve outros oito irmãos. “Hoje são cinco filhos vivos”, conta. Ela, que é a mais nova entre as meninas, lembra que o relacionamento em família era de muito carinho, embora a educação fosse rígida. “Minha mãe era muito querida. Só com o olhar dos nossos pais, já sabíamos o que tínhamos que fazer.” Desta forma, Alzira aprendeu a ter respeito pelas pessoas, a ter vergonha e educação. “Hoje em dia, talvez pela criação diferente, mas têm muitos jovens que não tem respeito nem educação”, afirma.

Quando Alzira estava com seis anos de idade, a família se mudou para Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. “Saímos de Feliz, porque a vida lá estava difícil. Enquanto morávamos lá, da manhã à noite, mesmo ainda crianças, nós íamos junto para a roça.” Alzira conta que os momentos para brincadeiras eram aos domingos. “Não tínhamos os brinquedos que há hoje. Era uma época diferente, mas não era ruim.” Alzira conta que também gostava muito de estudar, mas teve de parar com os estudos, por causa do trabalho. “Cursei apenas a primeira série primária. Depois, fui trabalhar em casas de família, cuidando de crianças, quando eu também era criança, então com oito anos. Com 13 anos, comecei a trabalhar em uma firma, tipo moinho, em Caxias do Sul.”

Aos 23 anos de idade, Alzira casou. “O casamento era um sonho meu. A época de namoro foi muito boa. Nunca brigávamos e saíamos à noite sem nos preocuparmos com a violência. Trabalhei bastante, mas aproveitei a minha juventude”, conta. Da união com João Oliveira, que se consolidou com muita união e respeito, teve dois filhos: Tânia, 42 anos, e Ivan, 30. Ambos são motivo de muito orgulho para Alzira. “Ele mora no Ceará, no setor calçadista. Minha filha é massoterapeuta. Agradeço a Deus todos os dias, porque os meus filhos nunca incomodaram. Tenho uma neta, a Camila, que está com nove anos.” Para Alzira, a educação está cada vez pior. “É muito roubo, muita falta de respeito. Talvez isso esteja na própria família.”

Depois de casada, Alzira parou de trabalhar, porque o seu marido não deixava. “Mas nunca fiquei sem fazer nada, porque não gosto de ficar parada. Lavava roupas para fora.” Alzira e o esposo arriscaram ter uma malharia em Caxias do Sul, mas também não deu certo. Depois de passar por várias cidades – Feliz, Caxias e São Leopoldo -, Alzira foi morar em Novo Hamburgo com a família, devido à profissão do marido no ramo imobiliário. Já são 27 anos na cidade do Vale do Rio dos Sinos.

Há sete anos, ela aprendeu a trabalhar com artesanato. E, hoje, faz parte da Associação dos Artesãos e Arte de Novo Hamburgo, que conta com 40 integrantes. Alzira destaca que gosta muito de velas decorativas e nunca fez curso para aprender a fazer as peças. “Cheguei em casa e assisti no programa Mais Você, da Ana Maria Braga, a vela que ‘chora colorido’. Comprei o material e tentei fazer. Saiu uma porcaria! (risos).” Com o tempo, ela foi experimentando as técnicas e o trabalho deu certo. Além de velas, Alzira e o grupo produzem peças exclusivas como luminárias.

O trabalho é exposto e comercializado em diversas feiras e auxilia na renda familiar. “Em feiras anteriores aqui na Unisinos, a gente deixava de vender porque não tinha mais peças. Hoje, o movimento está baixo. É claro que o dinheiro ajuda, mas também faço porque gosto e ajuda a complementar a renda de um salário mínimo que recebo como pensionista do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).”

Alzira conta que nunca passou por uma crise financeira tão grande como agora. Na verdade, ela destaca que a crise existe desde que entrou o governo Lula. “As pessoas só têm dinheiro para comida, remédio: o básico.” Ela acredita que essa situação pode mudar daqui a dois anos, nas próximas eleições presidenciais. “Isso se não forem os mesmos que continuarem. Falta compromisso com o povo. É tudo muito caro, principalmente a cesta básica, que sobe todos os dias.”

O sonho de Alzira sempre foi ter uma chácara. Ela conta que já teve, mas vendeu, porque dava muito trabalho para manter. Hoje, seu maior desejo na vida não se relaciona aos bens materiais. “Quero apenas ter saúde para poder trabalhar.” Esta força, Alzira tira de sua fé. “Sou católica e nunca vou mudar. Hoje em dia, é o dinheiro que está na frente de tudo. Mas, para mim, em primeiro lugar é Deus.”

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição