Edição 277 | 14 Outubro 2008

Emmanuel Lévinas - Biografia

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Emmanuel Lévinas - Kaunas, 30 de novembro de 1906 — Paris, 25 de dezembro de 1995

Emmanuel Lévinas foi um filósofo francês nascido numa família judaica na Lituânia. Bastante influenciado pela fenomenologia de Edmund Husserl,  de quem foi tradutor, assim como pelas obras de Martin Heidegger  e Franz Rosenzweig, o pensamento de Lévinas parte da idéia de que a Ética, e não a Ontologia, é a Filosofia primeira. É no face-a-face humano que irrompe todo sentido. Diante do rosto do Outro, o sujeito se descobre responsável e lhe vem à idéia o Infinito.

Nascido Emanuelis Levinas no seio de uma família judaica, sendo o pai um livreiro, Lévinas logo teve contato com os clássicos da literatura russa, como Dostoiévski  – tão citado em suas obras. Aos doze anos, na Ucrânia, assistiu à revolução de Outubro (1917). Mais tarde, estabeleceu-se na França (1923) e iniciou seus estudos de filosofia em Strasbourg. Dirigindo-se a Friburgo (1928-1929), tornou-se aluno de Edmund Husserl e Martin Heidegger, dos quais seria um dos primeiros a introduzir o pensamento na França. No ano seguinte, apresentou sua tese de doutorado sobre “La Théorie de l’Intuition dans la Phénoménologie de Husserl” (1930) e continuou escrevendo artigos sobre os dois autores, alguns recolhidos mais tarde em seu En découvrant l’existence avec Husserl et Heidegger (1949).

Retornou a Paris, até que, tendo eclodido a II Guerra Mundial (1939), é capturado e feito prisioneiro pelos alemães. Exilado por cinco anos, não poderá mais esquecer a marca do ódio do homem contra o outro homem deixada pela violência nazista. No cativeiro, foi escrita grande parte de sua obra De l’existence à l’existant (1947), publicada dois anos após o fim da guerra.

Durante dezoito anos (1946-1964), dedicou-se à direção da Escola Normal Israelita Oriental de Paris. Nesse período, publicou sua grande obra Totalité et Infini (1961), a qual representa um momento de síntese das investigações a que vinha se dedicando até então. Difficile liberté (1963) aparecerá dois anos depois, enfocando questões sobre o judaísmo. Leciona depois na universidade de Poitiers (1964-1967), na de Paris-Nanterre (1967-1973) e na de Paris-Sorbonne (1973-1984). Faleceu em Paris em dezembro de 1995.

Memória do Holocausto

Historicamente, está impressa na sua obra a memória dos seis milhões de judeus assassinados pelo nacional-socialismo durante a Shoah (Holocausto), aos quais dedica seu livro Autrement qu’etre (1974). Traz consigo, portanto, a inquietação de um século marcado pela dominação do homem sobre o outro homem. Nas palavras dele, “século que, em trinta anos, conheceu duas guerras mundiais, os totalitarismos de direita e de esquerda, hitlerismo e stalinismo, Hiroshima, o Goulag, os genocídios de Auschwitz e do Cambodja. Século que finda na obsessão do retorno de tudo o que estes nomes bárbaros significam. Sofrimento e mal impostos de maneira deliberada, mas que nenhuma razão limitava na exasperação da razão tornada política e desligada de toda a ética”.

Filosoficamente, Lévinas percebe que o pensamento ocidental, a partir da filosofia grega, desenvolveu-se como discurso de dominação. O Ser dominou a Antigüidade e a Idade Média, sendo depois substituído pelo eu desde a época moderna até os nossos dias, porém sempre sob o mesmo sinal: a unidade unificadora e totalizante que exclui o confronto e a valorização da diversidade, entendida como abertura para o Outro. A obra de Lévinas transmite o alerta de uma emergência ética de se repensar os caminhos da filosofia a partir de um novo prisma, de se partir do e já em direção ao Outro. Uma tal inspiração Lévinas buscará na sabedoria bíblico-judaica.

Confrontando a filosofia ocidental, dialoga constantemente com os pensadores da tradição, como Platão,  Descartes,  Kant,  Hegel,  Bergson,  Husserl e Heidegger. Esses dois últimos estão sempre presentes em sua obra, seja partindo deles, seja já tentando superá-los. A propósito, afirma: “Quase sempre, começo com Husserl ou em Husserl, mas o que digo já não está em Husserl” e, em outro lugar: “Apesar do horror que um dia veio associar-se ao nome de Heidegger – e que nada poderá dissipar – nada conseguiu desfazer em meu espírito a convicção de que Sein und Zeit, de 1927, é imprescritível”. De Descartes, Lévinas guarda a descoberta da idéia do infinito, tomada como orientação metafísica para a sua ética. Contudo, é com Franz Rosenzweig que comunga suas maiores intuições, autor esse “presente demais para ser citado”, segundo Lévinas.

Obras

Abaixo, a primeira edição de cada obra e sua respectiva tradução para o português, quando existente. A maioria já se encontra traduzida para o espanhol e inglês.

• Théorie de l’intuition dans la phénoménologie de Husserl (Paris: Alcan, 1930; Paris: Vrin, 1963)

• De l’évasion. Recherches philosophiques, v. V, 1935-1936; rééd. introduite et annotée par Jacques Rolland (Montpellier: Fata Morgana, 1982)

• De l’existence à l’existant (Paris: Vrin, 1947; Da existência ao existente. Trad. Paul Albert Simon & Ligia Maria de Castro Simon. Campinas: Papirus, 1999)

• Le temps et l’autre (Paris: Arthaud, 1947 (Trad. José Luis Pérez. Lisboa: Phainomenon - Revista de Fenomenologia, nº 11-Outono 2005, p.149-190)

• En découvrant l’existence avec Husserl et Heidegger (Paris: Vrin, 1949. Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger. Trad. Fernanda Oliveira. Lisboa: Instituto Piaget, 1999).

• Totalité et Infini. Essai sur l’extériorité (La Haye: Martinus Nijhoff, 1961. Totalidade e Infinito. Trad. José P. Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988)

• Dificile liberté. Essai sur le Judaïsme (Paris: Albin Michel, 1963)

• Quatre lectures talmudiques (Paris: Minuit, 1968. Quatro leituras talmúdicas. Trad. Fábio Landa. São Paulo: Perspectiva, 2003)

• Humanisme de l’autre homme (Montpellier: Fata Morgana, 1972. Humanismo do outro homem. Trad. Pergentino S. Pivatto (Coord.). Petrópolis: Vozes, 1993)

• Autrement qu’être ou au-delà de l’essence (Paris: Kluwer Academic, 1974)

• Noms propres (Montpellier: Fata Morgana, 1976)

• Sur Maurice Blanchot (Montpellier: Fata Morgana, 1976)

• Du sacré au saint. Cinq nouvelles lectures talmudiques (Paris: Minuit, 1977. Do sagrado ao santo - cinco novas interpretações talmúdicas. Trad. Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001)

• L’au-delà du verset. Lectures et discours talmudiques (Paris: Minuit, 1982)

• De Dieu qui vient à l’idée (Paris: Vrin, 1982. De Deus que vem à idéia. Trad. Pergentino Stefano Pivatto (Coord.). Petrópolis: Vozes, 2002)

• Ethique et infini. Dialogues avec Philippe Nemo (Paris: Librairie Arthème Fayard et Radio France, 1982. Ética e infinito. Diálogos com Philippe Nemo. Trad. João Gama. Lisboa: Edições 70, 1988)

• Transcendance et intelligibilité. Suivi d’un entretien (Genebra: Labor et Fides, 1984. Transcendência e inteligibilidade. Trad. José F. Colaço. Lisboa: Edições 70, 1991)

• Hors sujet (Montpellier: Fata Morgana,1987)

• A l’heure des nations (Paris: Minuit, 1988)

• De l’oblitération. Entretien avec Françoise Armengaud à propos de l’oeuvre de Sosno (Paris: La Différence, 1990)

• Entre nous. Essais sur le penser-à-l’autre (Paris: Grasset & Fasquelle, 1991. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Trad. Pergentino S. Pivatto (Coord.). Petrópolis: Vozes, 1997)

• La mort et le temps (Paris: L’herne, 1991)

• Dieu, la mort et le temps (Paris: Grasset, 1993. Dios, la muerte y el tiempo. Trad. María Luisa Rodríguez Tapia. Ediciones Cátedra, 1998)

• Liberté et commandement (Montpellier: Fata Morgana, 1994)

• Les imprévus de l’histoire (Montpellier: Fata Morgana, 1994)

• L’intrigue de l’infini (Textes réunis et présentés par Marie-Anne Lescourret) (Paris: Flammarion, 1994)

• Nouvelles lectures talmudiques (Paris: Minuit, 1995)

• Altérité et transcendance (Montpellier: Fata Morgana, 1995)

• Quelques réflexions sur la philosophie du l’hitlérisme (Paris: Éditions Payot & Rivages, 1997)

• Éthique comme philosophie première (Paris: Éditions Payot & Rivages, 1998)

Fonte: Wikipedia

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