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Ovídio Baptista
“Todos os países de vanguarda no mundo, especialmente na Europa, punem os criminosos que torturam presos. Temos, próximos a nós, a Argentina que não perdoa crimes de tortura. Mas o Brasil é o país da anistia e do perdão. Adquirimos a fama de um povo ‘cordial’, que age pelos sentimentos, não pela razão e nem pela defesa dos valores fundamentais. Não somos um país sério. Ou seja, o que Elio Gaspari denomina de o Brasil do ‘andar de cima’ sempre se protege. Por exemplo, bastou algemar-se um notório criminoso do ‘andar de cima’, para a mais alta Corte do país baixar um provimento vinculante, proibindo as algemas. Enquanto elas eram usadas contra o Brasil do ‘andar de baixo’, as pessoas do país que manda, continuavam tomando, sorridentes, os seus aperitivos. Enquanto o Brasil não tomar jeito - o que significa punir os mandarins que nos governam desde sempre -, não seremos um país digno de respeito. Veja o que irá acontecer com Daniel Dantas e com os indiciados aqui no Estado, na operação Rodin . Chegará o momento do ‘deixa disso’. Pode apostar. Você acredita que eles serão punidos como são os do ‘andar de baixo’? Essa severidade, que parece odiosa a nossos costumes, é uma forma mínima de resgatar o débito que o Brasil (cordial) tem com a História.
No que se refere à Lei da Anistia, penso que há viabilidade jurídica na revisão da Lei, porque a Anistia não deve ter alcançado o crime de tortura, que não é crime político. De qualquer modo, pensar que isso ocorrerá é ingenuidade que poderia ser cometida por um estrangeiro, não iniciado nos mistérios do ‘jeitinho’ brasileiro. Nós não temos o direito de ser ingênuos a esse ponto, embora a punição dos torturadores deva ser encarada com um ato de respeito e dignidade para com os supremos valores que devem formar uma nação.”