Edição 265 | 21 Julho 2008

José Roque Schneider

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Bruna Quadros e Graziela Wolfart

Um homem simples, mas que nunca cansa de aprender mais e mais com a vida. Este é José Roque Schneider, que dedica sua força laboral à Unisinos há mais de 30 anos. Nascido no interior do Rio Grande do Sul, Roque conta sua caminhada como seminarista da Companhia de Jesus e fala sobre sua trajetória de vida, sua família, preferências e visão de mundo. Conheça parte do mundo deste colega da comunidade acadêmica da Unisinos:

Origens – Nasci e fui criado no interior, na localidade de Piedade, pertencente ao distrito de São Vendelino, que hoje é município. Na época, vivíamos uma vida muito natural, os alimentos não tinham agrotóxicos. Era aquela vida da colônia. Se pescava no arroio e se voltava para casa para fritar os peixes. Já disse mil vezes que, se pudesse retornar, não trocaria minha vida atual pelo período da infância. Gosto da vida e da comida o mais simples possível. Meus pais eram agricultores, viviam do trabalho na lavoura. Tenho oito irmãos e estou entre os do meio.

Noviciado - Fiz o primário no interior, onde nasci. Com a idéia de ser jesuíta, aos 13 anos, em 1957, ingressei no ótimo Colégio Santo Inácio, em Salvador do Sul, uma espécie de universidade em miniatura. Era um lugar de muita disciplina, onde as partes esportiva e de espiritualidade foram muito importantes. Tenho saudades desse período sob vários aspectos, porque acho que me deu uma boa consistência em termos de formação pessoal. Em 1959, entrei no Colégio Cristo Rei, em São Leopoldo. Aos 18 anos, parti para o noviciado, no Colégio São José, em Pareci Novo. Foi nesse período de dois anos que trabalhei no Hospital Centenário, em São Leopoldo, cuidando de indigentes, e foi quando fiz o “retiro grande” de um mês. Aos 21 anos, voltei ao Colégio Cristo Rei, já como membro da ordem dos jesuítas, onde fiquei até os 28 anos. Depois, parti para a terceira provação. Estava diante de uma decisão: ficar ou sair da Companhia de Jesus. Saí sob a condição de ficar um ano fora, para pensar. Nessa época, eu já estava trabalhando na Unisinos.

Estudos - Comecei o curso de Engenharia de Operações várias vezes, mas precisei largá-lo porque faltava gente para trabalhar no início do novo câmpus da Unisinos. Já na época havia a incompatibilidade de horários entre trabalho e estudo. Esse problema ainda persiste hoje. Esta é uma universidade de pobres, não de ricos. Nossos professores e alunos trabalham fora, os alunos também trabalham fora e vêm estudar de noite. Esta é a realidade e não podemos controlar isso.

Engenharia na Unisinos – Quando surgiu o curso de Engenharia na Unisinos, só nós e a UFRGS oferecíamos essa opção em todo o Brasil. Estávamos ainda na Ditadura Militar. Havia muito interesse na Engenharia Civil, porque o país estava crescendo, e os cursos técnicos não podiam preencher as condições que as indústrias exigiam. Na época, nós estávamos na Segunda Revolução Industrial. Nenhum país no mundo fez tão rápido a transição da primeira para a Segunda Revolução Industrial como o Brasil. Por isso, o interesse de sair desta fase medieval. Íamos partir para a Terceira Revolução Industrial, mas não partimos, o que os asiáticos fizeram. E hoje nós temos essa desigualdade social gritante em todas as partes.

Família - Casei quando decidi sair da Companhia. Minha esposa se chama Maria Noeli Schneider. Tenho duas filhas, que estudam na Unisinos: Ingrid, 24 anos, que cursa Biologia, e a Clari, de 19 anos, que estuda Publicidade e Propaganda. Durante algum tempo, morei em Canoas, com os familiares da minha esposa. Hoje, moramos em Portão. Há problemas de toda a ordem na sociedade, e a insegurança dos filhos provém da falta da presença dos pais. Eu sempre tentei passar para as minhas filhas a importância dos pais.

Espiritualidade - Li muitas coisas sobre os índios. Acho que eles têm muito a nos ensinar. Vivemos em uma sociedade de bens materiais e não sobra tempo para uma espiritualidade. A reflexão e a meditação valem mais do que ouro. Acho ímpar escutar a si mesmo. Nós temos uma ligação com o universo, feita por meio da meditação. Somos interconectados, enquanto indivíduos, no mundo todo. O mundo está ficando paranóico. O homem está cada vez mais virando lobo do homem.

Autor – Teilhard de Chardin.

Livros - O homem à procura de si mesmo e Eros e repressão, ambos de Rollo May. 

Filme – Não gosto de filmes de guerra. O filme As profecias do povo maia, que tem seis horas de duração, é muito interessante e nos deixa pensativos.

Lazer – Não tenho grandes hobbies. Em casa, cuido do meu cachorro e da minha horta. Gosto muito de ler livros da área humanística.

Sonho – Ver as minhas filhas formadas. Outro sonho é que a Associação Cultural e Beneficente Marcos Bach, da qual faço parte, dê certo. Esta Associação tem muito a ver com o lado da psicologia e da parapsicologia, em que nós queremos evoluir. É algo cultural, mas, ao mesmo tempo, beneficente.

Unisinos – A Unisinos passou por muitas fases, inclusive, de dificuldades. De repente, vi uma universidade grande demais, difícil de ser controlada, administrativamente falando. Ela foi muito baseada no pensamento e na filosofia dos militares, com um câmpus que separa fisicamente as áreas de conhecimento. Existe a necessidade de uma integração maior entre alunos e professores de todas as áreas. A massa crítica da universidade está muito diluída. Neste momento, a Unisinos está em fase de recuperação. Tentei trabalhar em outro lugar, além da Unisinos, mas com isso se gasta energia à toa. Hoje, trabalho no laboratório de Engenharia. São 31 anos nessa função. E também cuido da parte de metalografia. A melhor experiência são os contatos com os alunos. Acho que esta troca preenche tanto eu quanto eles.

Política brasileira – É preciso aprender um outro jeito de encarar a sociedade, de forma mais ética. Quando estão no poder, os políticos se deixam levar pela corrupção.

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