Edição 264 | 30 Junho 2008

A idéia tradicional do gaúcho só sobrevive no sotaque dos atores da Globo

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Graziela Wolfart

Na opinião de Luis Fernando Verissimo, a literatura que se faz no Rio Grande do Sul hoje não reforça a imagem tradicional do gaúcho no imaginário brasileiro

O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo concedeu a entrevista que segue, por e-mail, para a IHU On-Line, na qual aborda a questão da cultura gaúcha contemporânea a partir da literatura e também da música. Ao refletir sobre a crise gaúcha atual, Verissimo afirma que “gostamos de pensar que somos mais sérios e ‘direitos’ do que o resto do país, mas, infelizmente, as últimas notícias não estão confirmando isso”. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Veríssimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e copy desk de jornal. É ainda músico, atualmente tocando saxofone no grupo Jazz 6. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Erico Verissimo.

IHU On-Line - Quais os valores que regem a identidade do gaúcho contemporâneo? A ética ainda está entre eles?

Luis Fernando Verissimo - Gostamos de pensar que somos mais sérios e “direitos” do que o resto do país, mas, infelizmente, as últimas notícias não estão confirmando isso.

IHU On-Line - Como o Analista de Bagé analisaria o gaúcho dos dias atuais?

Luis Fernando Verissimo - O Analista costuma dizer que Deus fez o resto do mundo primeiro e o Rio Grande do Sul quando pegou a prática, por isso sua opinião não seria exatamente insuspeita.

IHU On-Line - Como o senhor define o gaúcho presente no imaginário dos brasileiros, muitas vezes fruto da literatura? A população rio-grandense ainda se sente representada dessa forma?

Luis Fernando Verissimo - A literatura que se faz no Rio Grande do Sul hoje, principalmente a dos autores mais jovens, não reforça, na minha opinião, a imagem tradicional do gaúcho no imaginário brasileiro. É uma literatura urbana, muitas vezes experimental, que nada tem de regionalista. A idéia tradicional que se tem do Rio Grande lá fora só sobrevive no sotaque carregado dos atores da Globo, quando interpretam gaúchos.

IHU On-Line - O que o gaúcho que você retrata em suas crônicas tem de diferente do retratado por seu pai? Acredita que a “alma” gaúcha mudou? Em que sentido?

Luis Fernando Verissimo - Nos seus romances, com exceção de O tempo e o vento, meu pai já tratou de gaúchos urbanos, com a alma em transição. Fora o Analista de Bagé, que, claro, é uma caricatura, meus personagens não são marcadamente gaúchos, poderiam existir em qualquer lugar. Acho eu.

IHU On-Line - Se viva, como a Velhinha de Taubaté veria a atual crise do governo do estado do Rio Grande do Sul? Que explicação ela encontraria para o que vem ocorrendo, considerando os valores que sempre regeram o perfil do povo gaúcho (honestidade, retidão...)? E o senhor, qual sua opinião a respeito?

Luis Fernando Verissimo - A Velhinha virou celebridade porque era a última pessoa no Brasil que acreditava no governo, qualquer governo. Mas a Velhinha morreu e hoje somos todos céticos.

IHU On-Line - O espaço que o rádio no Rio Grande do Sul dá para o futebol é impressionante... Como entender a paixão do gaúcho pelo futebol e a rivalidade entre gremistas e colorados?

Luis Fernando Verissimo - Temos uma longa tradição de divisões apaixonadas, e o futebol reflete esse nosso pendor. Que, felizmente, não inclui mais degolar o inimigo, embora às vezes dê vontade.

IHU On-Line - O senhor considera a música sua atividade mais prazerosa. Em que sentido a música produzida aqui no sul revela a identidade do povo gaúcho?

Luis Fernando Verissimo - Outra longa tradição gaúcha, e principalmente porto-alegrense, é a de grandes músicos, muitos dos quais não precisam sair daqui para terem público e prestígio nacionais. Mas, como no caso da literatura, não fazem, necessariamente, uma música com características regionais.

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