Edição 259 | 26 Mai 2008

Lidia Mariana Fiuza

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Bruna Quadros

Durante o período de estudos, Lidia Mariana Fiuza, 42 anos, não tinha outra responsabilidade. A cobrança dos pais era que tivesse um bom desempenho, em sala de aula. Doutora em Ciências Agronômicas, na área de Biotecnologia Vegetal, há oito anos ela integra o corpo docente da Unisinos. Atualmente, coordena o curso de pós-graduação, em Biologia. Em entrevista à revista IHU On-Line, além de contar os principais passos de sua trajetória de vida, até então, ela comentou a relação da sua área de trabalho com um tema conhecido no meio acadêmico, mas ainda distante da sociedade: nanotecnologias. Confira, a seguir, a entrevista na qual ela também revela sua decepção com o cenário político do país:

Origens – Nasci no Salto do Jacuí, no interior do Estado, onde os meus pais têm uma fazenda. Meu pai trabalha com agropecuária, tanto no plantio de soja e pastagens quanto na criação de bovinos e ovinos. A minha mãe é dona-de-casa e mora na fazenda com ele. Na convivência em família, honestidade e responsabilidade, em relação ao trabalho e à vida pessoal, foram os valores que os meus pais me passaram.

Infância – Lembro da minha infância na fazenda. Eu gostava bastante de sair para o campo com o meu pai e de andar a cavalo. Minha relação com as minhas irmãs sempre foi muito boa. As duas são mais velhas, e eu as respeitava muito. Tive pouca convivência, quando criança, porque, até os meus cinco anos, elas já estavam no colégio, em outra cidade.

Estudos – Sempre gostei muito de estudar, de sentar na primeira fila, e tirava boas notas. Este foi o compromisso que os meus pais me atribuíram. A minha única responsabilidade era com os estudos. Durante este período, não trabalhei. Então, eu precisava ter um bom desempenho. Fiz o 1º Grau em Espumoso e o 2º Grau em Passo Fundo, onde havia os melhores colégios. Também em Passo Fundo, na Universidade de Passo Fundo (UPF), fiz a faculdade de Agronomia.

Graduação - Escolhi o curso de Agronomia pela convivência no meio rural. Sempre gostei muito desta área, mais da pecuária do que da agricultura em si. O período da faculdade foi muito bom. Tínhamos bastante experiência de campo, além da parte teórica. Eu relacionava a parte prática com o ramo de trabalho da minha própria família. Durante a graduação, me interessei pela parte de pesquisa e fiz estágio na Embrapa. Depois disso, surgiu a oportunidade de fazer uma seleção de mestrado, na UFRGS. Em 1990, me mudei para Porto Alegre e ingressei no mestrado em Fitotécnica, na área de Agronomia. Quando terminei o curso, já tinha feito uma seleção para fazer o doutorado, na França.

Pós-graduação e experiência no exterior - Ao final do mestrado, eu e meu esposo fomos para a França; eu para fazer doutorado em Agronomia, e ele, em Informática. Moramos em Montpellier durante quatro anos. Foi uma experiência bastante positiva, com muito conhecimento adquirido. Quando se viaja para outro país, é preciso aproveitar o que o lugar oferece. É preciso ir com uma mente aberta, para tirar dali o melhor proveito. Fui com este espírito. Embora os franceses sejam muito fechados, fiz bons amigos. Em 1995, terminei o doutorado em Ciências Agronômicas, na área de biotecnologia. Voltando para o Brasil, trabalhei um período, como recém-doutora, no Centro de Biotecnologia da UFRGS, onde desenvolvi alguns projetos e comecei as colaborações nacionais, conhecendo grupos de pesquisa que atuam na mesma área que eu, no Brasil. Atuei como professora substituta na microbiologia, também na UFRGS, onde aprendi a atuação acadêmica, uma coisa que eu ainda não havia experimentado.

Sala de aula e Unisinos - Minha formação sempre foi voltada à pesquisa, desde a graduação. Como surgiu a oportunidade de dar aulas, achei que fosse uma boa experiência e experimentei. Um ano antes de o curso de pós-graduação em Biologia ser criado na Unisinos, eu trouxe um currículo. Já estou na instituição há oito anos. Vim de universidade federal, onde o pessoal é mais independente e não idolatra muito a universidade. Logo que cheguei à Unisinos, percebi que os professores e os alunos idolatram um pouco a instituição. Com o trabalho, onde se ajuda a construir muitas coisas, também fui criando este apego.

Nanotecnologias – O trabalho que eu faço é aplicado, mas exige um conhecimento específico, com uma identificação de moléculas e seu modo de ação nas espécies-alvo, que são os ingredientes ativos com propriedades inseticidas e antimicrobianas. E, como as pesquisas estão associadas ao meio ambiente, na área de ecologia, o nosso objetivo é que as nanotecnologias auxiliem na redução dos impactos ambientais dos produtos, como os biopesticidas; que esses não causem prejuízos ao meio ambiente. As pesquisas em nanotecnologias não são recentes. O tema é novo na divulgação para a sociedade.

Família – Casei aos 24 anos, quando estava concluindo o mestrado. Hoje, tenho um filho de sete meses, o Gregório. Naturalmente, há uma formação dentro da família e da sociedade que nos leva a pensar em casar, constituir família. Em função da minha profissão, fui deixando isso para mais tarde, e, agora, concretizei.

Lazer – Ultimamente, o meu hobby tem sido ficar com o meu filho. Mas gosto muito de ler e de viajar. No inverno, gosto muito de ir para a Serra Gaúcha e também para a casa dos meus pais, a fazenda, um ambiente muito aconchegante.

Livro – No momento, estou lendo um muito interessante: Criando meninos, de Steve Biddulph, que ganhei de presente. Gosto de livros rápidos; não sou de ler grandes romances e histórias.

Filme – Me interesso por filmes franceses. Acho que têm uma história mais intimista. Manon des sources, de Marcel Pagnol, foi muito marcante, sendo o último que eu assisti Je vous trouve très beau, de Isabelle Mergault.

Instituto Humanitas Unisinos – IHU – Eu conheço pouco o trabalho do Instituto, mas o acho bastante avançado. Sempre são organizados eventos, e a dinâmica é muito boa, neste sentido. O Simpósio Internacional Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias é um verdadeiro desafio, porque integra a área de tecnologia de ponta a área social.

– Sou católica, casei na Igreja e já batizei o meu filho, mas não vou à missa com muita freqüência. Acredito que exista algo superior, mas não sei exatamente o que é. Talvez seja o que chamamos de Deus. Respeito a todas as religiões. Quando morei fora, convivi com religiões que, no Brasil, se convive menos, como a muçulmana.

Política brasileira – É uma decepção. Sempre senti muita vergonha da corrupção que tem, e sei que não é só aqui no Brasil. Mas é em demasia, o que atrapalha qualquer administrador. Quando ele chega ao topo, parece que já chega corrompido. Não acredito que vá mudar.

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