Edição 348 | 25 Outubro 2010

Guerra cambial: Brasil está “tateando no escuro”

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Patrícia Fachin

Programas sociais

O efeito sobre os programas sociais é incerto porque a receita do pré-sal deve entrar em 2013 ou 2014. Então, com essa receita é possível que o governo compense a perda de arrecadação com a desindustrialização. Realmente estou preocupado com os efeitos disso sobre a indústria e, particularmente, sobre a geração de emprego de boa qualidade.


IHU On-Line – Há risco de desindustrialização?

José Luis Oreiro –
Com certeza. Essa é a grande implicação negativa que a guerra cambial tem para o Brasil, sem contar o efeito sobre o saldo em conta-corrente no balanço de pagamentos. As projeções que fiz com a professora Eliane Araujo mostram que o Brasil pode chegar a um déficit em conta-corrente da ordem de 7% do PIB, em 2014. Um déficit desse tamanho não é financiável e implica em uma crise de balanço de pagamentos por volta da metade do mandato do próximo presidente da República.

IHU On-Line - Serra tem anunciado em sua campanha eleitoral que irá aumentar o salário mínimo para R$ 600,00 caso seja eleito. Na atual conjuntura, é possível fazer esse reajuste?

José Luis Oreiro –
É possível ter um aumento do salário mínimo para R$ 600,00 desde que se tenha uma elevação correspondente de impostos. Vale lembrar que, em 2008, a CPMF foi extinta e esse é um imposto que gera uma arrecadação de 40 bilhões de reais por ano. Então, vejo como possível ter o aumento do salário mínimo se tiver a reintrodução da CPMF. Não vejo como irresponsabilidade o anúncio feito pelo candidato José Serra. É obvio que também terão de ser reduzidos gastos em outras áreas como a racionalização do gasto público, redução dos ministérios.

IHU On-Line – O que diferencia a política econômica de Serra e Dilma, especialmente no que se refere à política cambial?

José Luis Oreiro –
O discurso da Dilma é a continuação do atual modelo de política macroeconômica, o qual foi herdado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou seja, o tripé superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante.

A política econômica anunciada por José Serra é uma reforma desse tripé, a qual consiste em um aumento do peso da política fiscal no sentido de que se teria um aumento da meta de superávit primário, mas, ao mesmo tempo em que se reforçaria a parte fiscal, se aumentaria o grau de intervenção do governo na flutuação da taxa de câmbio com o objetivo de ter um câmbio mais competitivo a médio e longo prazos. Além disso, flexibilizaria o regime de metas de inflação, por exemplo, alongando o prazo de convergência da meta, fazendo uma maior coordenação entre a política fiscal e a política monetária. Enfim, será um tripé com uma ênfase maior no lado fiscal, o que dá ao governo um grau de liberdade maior para mexer com os juros e o câmbio.

IHU On-Line – É interessante adotar um regime de câmbio flutuante ou seria preferível ter um câmbio fixo?

José Luis Oreiro –
O modelo do regime não é tão importante; a questão é saber se o câmbio está alinhado ou desalinhado. No momento atual, o câmbio está desalinhado, com uma forte sobrevalorização. Então, gostaria que o próximo governo alinhasse o câmbio, ou seja, valorização entre 20 a 30% da taxa cambial; isso é fundamental. Óbvio que para fazer isso é preciso um regime mais administrado da taxa cambial do que se tem hoje. Ou seja, se perde grau de liberdade em termos de flutuação. Não acredito que Serra adotará um regime de câmbio fixo, mas, certamente, será um regime com mais intervenção do governo.

IHU On-Line – Dependendo do resultado das eleições, como será conduzida a política externa brasileira?

José Luis Oreiro –
Se Dilma for eleita, a política externa continuará sendo conduzida do jeito que é hoje, com alinhamento ideológico, feito por considerações como, por exemplo, ser contra os interesses imperialistas norte-americanos. Vejo com maus olhos a aproximação do governo brasileiro com os governos de Cuba, Irã e Venezuela.
Se José Serra for eleito, a política externa brasileira voltará a ser conduzida de acordo com os interesses brasileiros, o que significa dizer que, quando for de interesse brasileiro ser contra os EUA, nós seremos; quando for de interesse brasileiro ser a favor dos norte-americanos, nós seremos. Porque política externa tem de ser conduzida com base em interesses e não em considerações ideológicas, como tem sido feito nos últimos oito anos.


BOX

Leia Mais...

>> José Luis Oreiro já concedeu entrevistas para a IHU On-Line. O material está disponível na página eletrônica do IHU (www.ihu.unisinos.br).

• A atual política cambial é absolutamente perversa quanto ao PIB. Entrevista publicada na edição 338, de 09-08-2010, intitulada Economia brasileira. Desafios e perspectivas

• Projeto Ômega e desindustrialização, publicada em 12-7-2010, nas Notícias do Dia

• Crise econômico-financeira. Projeções para 2009. Entrevista publicada em 19-11-2008, nas Notícias do Dia

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