Edição 340 | 23 Agosto 2010

O bem-viver como perspectiva ecobiótica e cosmogônica

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Moisés Sbardelotto | Tradução de Moisés Sbardelotto

 

IHU On-Line – Na América Latina, o senhor afirma que vivemos uma "colonialidade do saber e do poder a título do avanço da ciência e da técnica". Como o bem viver comprende o desenvolvimento e progresso humanos?

Simón Yampara Huarachi –
Aqui há um problema de identificação das identidades dos espaços territoriais regionais, o que vemos nos quadros a seguir:

Nomeação do espaço nacional estatal: Bolívia, Peru, Chile; Qullana-suyu, anti suyu... 

Nomeação do espaço regional ou subcontinental: Latino-americano; Tawa-intinsuyu 

Nomeação do espaço continental: Americano; Awia-Yala

Essa diferenciação na nomeação dos espaços é muito importante, porque nos indica de onde e que espaço estamos pensando, pois o primeiro não só se impôs sobre o segundo, mas também, como um gerador de valores ocidentais, encobriu o outro, o próprio, e impôs seus valores e sistemas culturais de vida que conhecemos como ocidental. Da América Latina ou Ibero-América, os conhecimentos e os saberes se encaminham a partir deste espaço, deste pensamento e deste paradigma de vida, que têm a ver com a colonialidade do saber-poder muito articulada, mas, ao mesmo tempo, encobridora daquilo que é próprio, dos sistemas de organização e cultivo de valores cosmovivenciais.

Não continuemos acreditando que aqui no Sul até a seta da bússola aponta para o Norte, quando sabemos que, pelo magnetismo do Polo Sul, aqui aponta para o Sul (mas, para nos fazer acreditar, coloca-se a seta ao inverso). Aqui está o sistema educativo, que tem a ver com os valores da colonialidade e uma parcialidade do saber da vida.

Modelo de organização:  Ayllu-Marka/Tenta Tekoa; Capitalismo/Socialismo; Ayllu-Marka diferente de capitalismo/socialismo 

Paradigma da vida: Suma Qamaña; Desenvolvimento-Progresso; Suma Qamaña diferente de Desenvolvimento-Progresso 

Forma de cultivar o cosmoconhecimento: Dos Andes: Urin (U), Taypi (T), Aran (A);  Do Ocidente: Tese (T), Antítese (A), Síntese (S); Aqui o Taypi (T) é diferente de Síntese (S)

Nesse outro esquema, mostramos a diferenciação de modelos de organização, de paradigmas de vida e da maneira de cultivar os cosmocimentos e o conhecimento, que são diferentes. Pela prática histórica de encobrimento do ocidental sobre o andino, faz-se prevalecer os valores da invasão e da colonização, aos quais se quer adicionar, incorporar e formatar alguns valores cujas lógicas não brigam com a do chip ocidental.

O problema aqui é reconhecer-nos, fazer encontros como somos, conversas no âmbito de respeito mútuo, da complementaridade e da harmonia entre as partes. Em outras palavras, quero chegar a uma equação: cosmocimentos ancestrais milenares + conhecimento ocidental centenário = um conhecimento mais profundo e renovado.

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