Edição 339 | 16 Agosto 2010

Cultura religiosa digital

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Eduardo Gabriel

 

Catequese online

Esta ideia é genial e urgente: catequese online! Não é preciso ser mágico para adivinhar que ao encerrar a sua apresentação, este mesmo consultor já tinha em sua frente mais de cinco padres com os braços levantados e trêmulos querendo fazer questionamentos. E não se tratava de qualquer manifestação de apoio a esta ideia de catequese online, evidentemente. A espantosa reação dos octogenários padres ecoou assustadoramente no ambiente daquele seminário. Com o cabível respeito a estes homens que já se dedicaram por longos anos ao catecismo face a face, acho que daquela vez eles não entenderam muito bem a discussão em pauta. Alguém se levantou e questionou veementemente que este tipo de coisa colocaria em xeque a essência do cristianismo, que é o convívio em comunidade entre os irmãos.
Como eu estava presente e não consegui me segurar, em seguida deste questionamento eu levantei a mão e disse publicamente: “no Brasil, uma das grandes comunidades da Igreja Católica, a Canção Nova , por exemplo, faz uso ilimitado da internet em suas atividades e ao mesmo leva 60 mil pessoas para um evento de final de semana em sua sede”. Todos ficaram embasbacados! O meu contra-argumento foi o de demonstrar que o uso de internet para fins religiosos não inibe a convivência real que apregoa o cristianismo.

Em suma, este evento em Portugal foi algo muito curioso e com o debate mais pitoresco que vi até agora sobre os usos da internet para o conteúdo religioso. Depois deste episódio, no afã de demonstrar a aplicabilidade da internet para divulgação religiosa, o bispo do Porto transmitiu sua mensagem de Natal de 2008 pelo YouTube. Isto foi amplamente noticiado nos jornais locais. Esta atitude do bispo do Porto em 2008 anteviu o pedido do Papa em 2010, que recentemente solicitou aos padres o uso das novas ferramentas tecnológicas, sobretudo das redes virtuais – Orkut, Facebook, Twitter , YouTube, entre tantos outros, para a evangelização. O que teria motivado o Papa fazer este pedido?

Ponta do iceberg

Termino com o meu mais novo espanto da relação entre internet e religião. Já estão totalmente disponíveis nos sites da Santa Sé as imagens tridimensionais dos principais pontos religiosos do Vaticano. O acesso deste conteúdo foi encantador. De minha parte eu pude rever os principais pontos por onde passei em janeiro de 2007. Para minha mãe, tia e avó, a felicidade de terem visto detalhadamente a Capela Sistina, algo que jamais puderam desconfiar que um dia fosse ver tão de perto estando tão longe. Por fim, acredito que a cultura religiosa digital nascente é a ponta do iceberg que se mostra no horizonte para as religiões, e de modo especial para o catolicismo. Se não houver um comandante bem preparado e que não saiba entender a profundidade de um iceberg (internet) invisível, o naufrágio é certo. Mas se um comandante entender que a ponta do iceberg é apenas sinalizadora de algo submerso, a navegação será exitosa. Acredito que a internet provocou mudanças inquestionáveis na concepção da vida social das pessoas, e a religião está na esfera tangível desta mudança, com a graça de Deus.

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Confira outra entrevista concedida por Eduardo Gabriel à IHU On-Line.
* RCC, Canção Nova e o envio de missionários brasileiros ao mundo, publicada na edição 307, de 08-09-2009, intitulada Novas comunidades católicas: a busca de espaço.

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