Edição 338 | 11 Agosto 2010

Economia brasileira e a síndrome do Peter Pan

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Patrícia Fachin

 

IHU On-Line – Os saldos de commodities agrícolas e minerais têm sido, e serão, capazes de compensar os déficits em manufatura?

Fernando Ferrari Filho – Se os preços internacionais das commodities continuarem elevados, será possível que a compensação ocorra. Porém, não é demais ressaltar que a questão central é a perda de dinamismo do setor manufatureiro: as estatísticas mostram que o quantum das exportações dos manufaturados tem sido recorrentemente arrefecido nos últimos anos.

IHU On-Line – A competitividade chinesa obriga, de alguma maneira, os países a remodelar seus parques industriais? Qual o desafio para o Brasil nesse sentido?

Fernando Ferrari Filho – Reformas institucionais e uma nova agenda econômica. Juros, câmbio, carga tributária, crédito etc. devem fazer parte das discussões macroeconômicas. Os novos-desenvolvimentistas, em grande parte identificados com os princípios da Associação Keynesiana Brasileira, criada em 2008, estão pensando e articulando propostas nessa direção.

IHU On-Line – Alguns economistas assinalam que há uma tendência mundial de perda da importância da indústria no PIB dos países. O senhor concorda?

Fernando Ferrari Filho – Não há dúvidas de que a participação do setor de serviços, em especial o comércio e intermediação financeira, tem crescido e determinado a dinâmica das economias nas últimas décadas. Se um setor cresce, é natural que outro, como o industrial, se arrefeça. Não quer dizer, todavia, que o setor industrial deixe de ser relevante. O volume do comércio mundial alicerçado em bens comercializáveis é um exemplo dessa relevância.

IHU On-Line – A ideia de um projeto nacional ainda está presente no Brasil? Por meio de que elementos podemos vislumbrar isso?

Fernando Ferrari Filho – Sem dúvidas. O projeto nacional, indo na linha dos keynesainos brasileiros, passa pela elaboração de uma estratégia novo-desenvolvimentista, que assegure crescimento sustentado da economia brasileira em um contexto de estabilidade de preços e melhorias progressivas na distribuição pessoal e funcional da renda.

IHU On-Line – Segundo a ONU, a economia brasileira pode chegar a 7,6%. Esse crescimento é sustentável, ou seja, ele conseguirá se manter?

Fernando Ferrari Filho – Que iremos crescer em ritmo asiático em 2010, não há dúvida. Se será 6,0% ou 7,5%, é questão menor. Crescerá por vários motivos: primeiro, porque a base de comparação é risível – em 2009 houve recessão, 0,2%; segundo, porque a partir do segundo trimestre do ano passado foram implementadas medidas fiscal e monetária contracíclicas; e terceiro porque no primeiro semestre de 2010 o mercado doméstico tornou-se mais dinâmico face à expansão do crédito, da massa salarial etc. A questão é 2011, 2012.  Mais uma vez, se nos preocuparmos tão somente com a questão do "descontrole" da inflação, voltaremos a crescer entre 3,0 e 4,0% ao ano. Estabilidade macroeconômica não é única e exclusivamente controle do processo inflacionário. Ela é estabilidade de preços, crescimento econômico sustentável com distribuição de renda e equilíbrio externo.

Leia mais...

Confira outras entrevistas concedidas por Fernando Ferrari Filho à IHU On-Line.

* “O mercado somente funciona com a ‘mão visível’ do Estado”, publicada na edição 330, de 4/5/2010, intitulada A crise da zona do euro e o retorno do Estado regulador em debate. Confira no link <http://migre.me/12P1D>;

* Uma política econômica única e exclusivamente para controlar a dinâmica inflacionária. Revista IHU On-Line nº 204, de 13-11-2006, disponível para download em <http://migre.me/GlNg>;

* Programa de aceleração do crescimento. Um ano depois. Notícias do Dia 23-01-2008, disponível para download em <http://migre.me/GlNU>;

* A “mão invisível” do mercado não funciona sem a “mão visível” do Estado. Revista IHU On-Line nº 276, de 06/10/2008, disponível para download em <http://migre.me/GlMj>.

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