Edição 337 | 09 Agosto 2010

“O Apostolado Social faz parte do DNA da Companhia de Jesus”

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Graziela Wolfart


 
IHU On-Line - Que balanço o senhor faz entre o que dizem os documentos sobre a ação social na Companhia e a prática? Não há contradição entre priorizar colégios e universidades privadas em detrimento do social?

José Ivo Follmann - A Companhia de Jesus tornou-se, ao longo da história, muito complexa e responde, na prática, por diferentes obras e atividades, em uma grande diversidade de frentes. De fato, na minha avaliação, nem sempre o social conseguiu ter a visibilidade e a importância que o carisma inaciano lhe exige. A insistência dos últimos Superiores Gerais, no entanto, no sentido de animar o Apostolado Social, com recorrente insistência, ao longo das últimas décadas, é indicativo importante de que existe no governo central da Companhia forte empenho para que as diretrizes expostas nos documentos tenham incidência clara na prática apostólica. A atividade em colégios e universidades e, portanto, dirigidos para um público com condições de pagar preços que, em geral, são elevados devido ao alto custo de uma atividade destas quando feita com excelência, é certamente um grande desafio. Temos que romper com a contradição, ou seja, transformar este tipo de atividade em pública, apesar de não estatal, testemunhando a possibilidade de promover efetiva formação cidadã neste nível. Creio que um bom caminho está na interface que estamos provocando entre o Setor Social e o Setor Educacional através da rede SJ-CIAS, uma vez que grande parte dos trabalhos sociais desenvolvidos nos centros constituintes desta rede são trabalhos apoiados pelos colégios e universidades, bem como, também, são eventualmente espaço de participação formativa dos próprios alunos destas instituições educativas. 
 
IHU On-Line - Hoje os jesuítas estão atuando no âmbito social ou se acomodaram? Quais as obras sociais, quais os eixos que estão sendo priorizados?

José Ivo Follmann - Não percebo acomodação. Houve diminuição de quadros, mas existe um grande dinamismo em termos de Centros Sociais pelo mundo afora. No mundo hoje se conhecem 549 Centros e Obras Sociais da Companhia de Jesus. Na América Latina e Caribe, a Companhia de Jesus é responsável por 44 Centros Sociais, nos quais trabalham 1.933 pessoas, das quais 463 são voluntárias e 81 são jesuítas. Além dos Centros existem ainda 65 Obras Sociais, envolvendo o trabalho de aproximadamente 40.000 pessoas, a maioria das quais são voluntárias. Tendo o serviço da fé e a promoção da justiça como o eixo dinamizador básico central, a promoção do diálogo cultural e inter-religioso ocupa um lugar de referência fundamental em quase todos os contextos. Destacam-se, ainda, as diversas e bem sucedidas iniciativas de investigação e de reflexão, bem como de conferências e publicações sobre temas sociais e a promoção de redes com outros centros, grupos e organizações. Soma-se a tudo isto o apoio à construção e a implementação de políticas públicas adequadas e justas e alguns trabalhos pontuais de alcance internacional, hoje, como o trabalho com refugiados e migrantes e a grande rede de apoio às vítimas da Aids na África. Como já falei acima, o cuidado com o meio ambiente (dimensão ecológica) e a atenção às novas fronteiras, num mundo que avança vertiginosamente no meio científico e tecnológico levando às vezes de roldão a dignidade e o sentido da existência humana, hoje passou a ter atenção central na preocupação social.

IHU On-Line - Como o senhor analisa o Plano Político Institucional – PPI da Rede SJ-CIAS?

José Ivo Follmann - Entendo que o PPI da Rede Jesuíta de Cidadania e Ação Social é um importante avanço para o Apostolado Social da Província do Brasil Meridional e quem sabe para todo o Setor Social da Companhia de Jesus no Brasil. Além de, através de uma construção coletiva consistente estar proporcionando uma orientação comum nos trabalhos sociais da Província, consegue estabelecer um link simbólico com a ideia de CIAS. A ideia dos Centros de Investigación y Acción Social (CIAS) construída nos anos sessenta não só é lembrada na sigla da Rede SJ-CIAS, mas a ideia de Cidadania e Ação Social em seu desdobramento teórico retoma com novos matizes e linguajar adequado aos tempos de hoje, grande parte da proposta dos então CIAS, sendo que, agora, com uma interação mais clara com os demais Setores de Apostolado da Companhia, sobretudo o Setor Educativo. Tudo isto, evidentemente, está demandando uma permanente atenção com relação à capacitação de todas as equipes atuantes nos projetos sociais dos Centros que integram a Rede. Os resultados positivos, no entanto, já se fazem visíveis e, certamente, a proposta poderá ser pensada mais amplamente em plano nacional, no processo de constituição da Província do Brasil. E, como referi no início desta conversa, o exercício de trabalhar concretamente em rede, em casa, nos estará habilitando para trabalhos mais amplos e efetivos em nível internacional, como é a Rede dos Centros Sociais, em nível de América Latina e Caribe e outras redes. O PPI da Rede SJ-CIAS lançou as bases e a sua execução ajudar-nos-á, com certeza, no aprendizado para trabalhar em rede.
 

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