Edição 258 | 19 Mai 2008

Vera Regina dos Santos

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Graziela Wolfart e Patricia Fachin

Nascida em agosto de 1948, Vera Regina dos Santos completará 60 anos em breve. Não parece. A disposição e a vaidade a fazem aparentar no máximo 40. A IHU On-Line ouviu a história e a rotina desta mulher de fibra, que vive para ajudar os outros e para sonhar. Acompanhe, a seguir, a experiência desta moradora da Vila Brás, de São Leopoldo, que, apesar das dificuldades, mantém a esperança em dias melhores.

Vera Regina dos Santos gosta mais de falar do seu dia-a-dia do que de contar sua história. No cotidiano repleto de atividades desta animada senhora, ela cita, primeiro, o trabalho que desenvolve na pastoral com as crianças há quase dois anos. Gosta também de contar que já participou da coordenadoria da mulher, de uma assembléia em Porto Alegre, e de um seminário realizado na Unisinos. “Até ganhei certificado”, conta, com orgulho. Vera afirma levantar cedo todos os dias. Ela tem seis cachorros, seis galinhas, os filhos e ainda está disponível para ajudar quem bater na porta da sua casa. “Eu sou muito assim: se vou na tua casa e vejo que tu tá passando fome, ou precisa de um chá, eu ajudo.”

O principal sustento da família vem de uma pequena fruteira. Pela manhã, Vera vende panos de prato, lingerie e ainda ajuda uma das filhas, que é revendedora do Avon. Por volta das 11 horas, lá está Vera, fazendo o almoço, tudo no fogão à lenha. À tarde, de segunda à sexta-feira, ela participa do Grupo de Mulheres da Vila Brás, fazendo peças de artesanato que depois auxiliam no final do mês. Na casa de Vera, vivem hoje sete pessoas. E a renda para sustentar essa família é de R$ 400,00 a R$ 500,00 mensais, somando com o que os filhos trazem.

Faz cinco anos que Vera Regina ficou viúva, mas não conseguiu encaminhar a pensão do falecido marido para ela. “Perdi ele muito cedo, com 52 anos. Ele vivia pescando, levava meus filhos para passear”, lembra. “Meu marido sempre ensinou nossos filhos a nunca beber, fumar ou roubar. É uma herança que eu deixo pra vocês, ele dizia. E pedia para os filhos não repetirem os mesmos erros que o pai.” No dia 10 de maio (dia das mães), Vera realizou um sonho: conhecer o projeto da Vila dos Tocos , em São Leopoldo, que ouvia falar muito. “Eu e meus filhos fomos. A pé. Foi muito lindo. Todos os domingos eu faço minha caminhada. E adoro.”

Uma mãe de mão cheia

Vera tem o estereótipo da mãe amorosa e que não sabe dizer não. Além dos filhos biológicos, ela ajudou a criar outras crianças, que também considera como filhos. No total, ela tem um filho com 27 anos, o Sérgio, uma filha de 30, a Cristiane, que está fazendo curso de Enfermagem, a Michele, que tem 29, o Felipe, com 18, e o Lucas, com 16 anos, que ainda estuda. Há também outro rapaz, que mora em Santa Catarina – “é um guri bom e tem um negócio que ele manda e desmanda” -, uma menina, que está em São Paulo, e tem um negócio de artesanato, a Jordana, de 9 anos, e mais um outro, que está em Porto Alegre, no momento muito doente, com 29. Além deles, Vera tem ainda três netos. Ela garante que sua vida é resumida ao cuidado com os filhos. Também não é difícil de imaginar.

Ela lamenta não ter mais parentes. Os pais são do município de Dois Irmãos. “Meu pai foi padeiro por muitos anos. Ele criou eu e minhas duas irmãs dentro da padaria, trabalhando com ele. Minha mãe era costureira e morreu há nove anos.” Da infância, ela lembra das velhas amizades. Sempre morou em São Leopoldo: antigamente no bairro Feitoria, hoje na Vila Brás. “Pra mim é um lugar bom.” Ela ainda se declara amante da natureza. “Nunca vi um filho meu matar um passarinho ou judiar de um gato, nem de cachorro.” Vera gosta muito de música e é muito vaidosa. “Faço as unhas todo o final de semana.”         

Sonhos e fé

Se tem algo que Vera tem sobrando e ninguém tira dela são os sonhos. Alguns ela já realizou, como o de conhecer a Churrascaria Querência, de São Leopoldo, onde almoçou com o grupo da Unisinos, quando fez o seminário. “Tenho ainda o sonho de conhecer toda a Unisinos. Quem sabe, né?”. No entanto, o grande sonho de Vera é ganhar na loteria, para construir a sua casa e poder ajudar as pessoas ainda mais. “Não sou rica, não tenho nada dentro de casa, quase tudo é caquinho. Mas é bem organizado, bem limpinho. Na minha cama de noite eu boto um talco. Não tem luxo. Mas pretendo ter uma casa de dois andares, é meu sonho. E ter sempre para distribuir sacolas de rancho e outras sacolas de R$ 500,00.” Uma das maiores esperanças de Vera é um dia ir para Roma conhecer o Papa. “Sou católica e faço muita oração pelas pessoas doentes. Tenho muita fé. Tenho uma mesinha velha onde tenho meus santinhos todos. São uns 40 mais ou menos. De manhã eu alevanto, dou um beijo no meu rosário que está no lado da minha cama, e passo a mão nos santinhos”, descreve.

É preciso estar informada

Para não ficar por fora dos acontecimentos, Vera Regina compra a revista Viva+ e a Ana Maria. “Essas duas revistas eu não perco pra estar informada.” Assim é também com os jornais Diário Gaúcho e VS. “É sagrado. Eu alevanto de manhã, tomo meu banho, troco a roupa e já me sento pra ler o jornal e tomar meu mate doce.” Mesmo tendo estudado somente até a quinta série do ensino fundamental, Vera diz que gosta de estar no meio das pessoas, para aprender. “Saber nunca é demais e ninguém nasce sabendo.”

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