Edição 258 | 19 Mai 2008

Editorial

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IHU Online

A crise alimentar. Por um novo modelo de produção

“Temos 6,7 bilhões de habitantes, e produzimos mais de 2 bilhões de toneladas de grãos, o que significa que produzimos quase um quilo de grãos por pessoa e por dia no Planeta”, alerta Ladislau Dowbor, economista e professor do PPG em Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). No entanto, embora a oferta seja muito mais ampla que a atual demanda, o medo da fome volta a assustar a humanidade e milhares de excluídos não tem o que comer. Isso se justifica, segundo Dowbor, devido à especulação e ao consumo irracional. “Corremos o risco de que a busca de alternativas energética gere no Brasil um novo ciclo agroexportador que trará dólares e riqueza para poucos”, constata o professor da PUC-SP. Segundo ele, uma saída seria “associar a produção energética e a produção alimentar, baseando-se na pequena e média agricultura”, o que “pode dar um fôlego novo ao reequilíbrio social que o mundo rural brasileiro tanto precisa”.

Defensor da biocivilização, Ignacy Sachs, economista e professor emérito da École des Hautes Études en Sciences Sociales, reitera que “não é possível discutir o problema da insegurança alimentar e da segurança energética a partir da biomassa, sem recolocar no centro do debate a questão de um novo ciclo de desenvolvimento rural”. Heitor Costa, professor da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), questiona: devemos produzir alimentos para quê e para quem? Ele constata “que o mundo produz 30% mais alimentos do que necessita. Esse alimento, porém não é acessível para os que têm fome”. Um modelo agroecológico e socialmente includente, onde não haja espaço para a monocultura, o latifúndio, o livre mercado e os modelos insustentáveis de produção é a proposta do especialista.

Já para Antônio Thomaz Jr., geógrafo da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), a crise alimentar está ligada ao modo de produção regido pelo mercado. Esse modelo, assegura, “influi negativamente no que diz respeito à estrutura produtiva familiar”. Do mesmo pensamento, compartilha Celso Marcatto, coordenador do Programa de Segurança Alimentar da Action Aid Brasil. Mas, para ele, a produção de biocombustíveis pode ser positiva, desde que produzida de modo sustentável, inserida “nas cadeias produtivas existentes, nos sistemas de produção já instalados dentro da agricultura familiar”. Peter Rosset, embora contrário aos biocombustíveis, afirma que cada “país deve ser responsável pela alimentação do seu próprio povo”. E, isso, argumenta, só será possível “através da reforma agrária”. Também contribui com a discussão o físico José Goldemberg.

A demissão de Marina Silva do ministério do Meio Ambiente, discutida amplamente nas Notícias do Dia do sítio do IHU, é analisada pelo diretor-adjunto da ONG Amigos da Terra, Mario Menezes. Segundo ele, a questão ambiental nem de longe chega a ser prioridade do governo Lula.

O significativo filme Estamira, a ser exibido e debatido nesta semana no IHU, é comentado pela Profa. Dra. Maria de Fátima Bueno Fischer, militante do movimento da luta antimanicomial e técnica-militante na construção de novos modos de cuidar. “Sinto-me convocada pela provocação de Estamira”, afirma a professora.

Com satisfação, publicamos um poema inédito de Marco Lucchesi, que já várias vezes contribuiu com a revista IHU On-Line.

A todas e todos uma ótima semana e uma excelente leitura!

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