Edição 256 | 28 Abril 2008

Mario Henrique Macagnan

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Bruna Quadros

Nesta semana, quem conta a sua trajetória de vida à revista IHU On-Line é o Prof. Dr. Mario Henrique Macagnan, coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Unisinos. O início da rotina de sala de aula, como professor, foi um tanto difícil: ele precisou vencer a timidez. Natural de Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul, ele aprendeu cedo o que era trabalho, ajudando o seu pai. O esforço também sempre foi uma marca forte nos seus estudos, que chegaram a dividir espaço com competições de voleibol. Ao relatar sua história, ele demonstrou insatisfação com o atual cenário político do país. Confira, a seguir.

Origens – Nasci em Cruz Alta, no interior do Estado. Estou com 49 anos e sou o mais velho de dois irmãos. Com três homens adolescentes em casa, havia sempre muita briga. Mas hoje nos entendemos bem. Minha família era numerosa. Meu pai tinha seis irmãos, era comerciante, dono de um supermercado, e sempre trabalhou muito. Nas férias, eu e meus irmãos o ajudávamos no trabalho.

Infância - Gostava de jogar bola e caçar passarinho, o que hoje já não se faz mais. Naquela época, se buscava gado para matar. Depois dos 10 anos, mais ou menos, eu já ajudava nisso também, e acordava às 5 horas para ir buscar porco. Pegava o porco no braço para botar na Kombi e levar para a cidade.

Estudos – Sempre tive notas boas. Isso até os 14 anos, quando comecei a me envolver com esporte, jogava vôlei, de forma muito intensa. Com isso, deixei os estudos um pouco de lado. Mas sempre fui cobrado, minha mãe era muito rígida. Cursei o 2º e o 3º ano em Santa Maria. Dividíamos um apartamento de dois quartos entre seis pessoas. Lá, jogava muito mais do que em Cruz Alta. Chegamos a disputar o primeiro campeonato gaúcho com um clube que era da Universidade de Santa Maria. Serviu como uma experiência bastante interessante, porque eu sempre gostei de competir.

Graduação e pós-graduação – Em 1978, eu e um dos meus irmãos fomos morar em Porto Alegre. Foi uma época muito ruim, devido a uma seqüência de problemas – em novembro faleceu meu tio e no primeiro dia de vestibular morreu o meu avô. Acabei fazendo o curso na Unisinos. Meu pai sempre foi de fazer muita coisa: janela, porta, armário, consertava uma máquina. Eu sempre estava ajudando ele e me chamou a atenção. Me formei em julho de 1984. Já naquela época se falava no mestrado. E um ano depois fui para a UFRGS, seguir os estudos na área de Engenharia Mecânica. Foi uma outra experiência. O nível de exigência era maior, o que criou uma autonomia. No meio do mestrado, me inscrevi e ganhei uma bolsa de estudos no Instituto de Cooperação Ibero-Americana, na Espanha, onde fiquei durante nove meses. De 1989 a 1993, morei novamente na Espanha, para fazer o doutorado. O Instituto abriu uma central na Argélia e eu participei da montagem da estrutura.

Família – Sou casado. Minha esposa, a Jaqueline, também é professora, no curso de Engenharia Mecânica da Unisinos. Ela também fez o doutorado na Espanha. Lá, conhecemos casais que tiveram filhos e alguns não conseguiram concluir a tese, por não terem a família por perto para poder ajudar. Não queríamos correr este risco. Nossa primeira filha, Ana Maria, nasceu em 1995. Três anos depois, nasceu a Gabriela, que está com 10 anos.

Sonho – Quando se pensa que a situação está estável, não se luta mais. Ter reconhecimento enquanto profissional e enquanto professor é o que constrói horizontes para querer continuar.

Política brasileira – É uma situação de descaso com a população, que me decepciona todos os dias. O país precisa de muitas coisas, mas também falta consciência aos cidadãos, que ficam o tempo todo pedindo, esperando que as coisas aconteçam. Não me entusiasmo com nada. O sistema aniquila qualquer boa intenção. A educação e a saúde não evoluíram, e a economia está quase estagnada. A violência também chama a atenção. São questões que necessitam de anos para serem consertadas.

Lazer – Uma coisa de que gosto é pescar, mas hoje não tenho muito tempo para lazer. O tempo que tenho livre, aos sábados e domingos, passo com a minha família.

Qualidade de vida - Em 2000, nos mudamos para São Leopoldo, para ficarmos mais próximos da família. Com isso, também foi maior o ganho de tempo. É possível ter uma vida mais regrada, sem precisar correr tanto.

Livro – Fora os as leituras técnicas, leio pouco. Um assunto que também me interessa bastante é a história. E, recentemente, li Brasil – Uma história, do escritor gaúcho Eduardo Bueno.

Instituto Humanitas Unisinos – Desenvolve um trabalho interessante, com projetos de cunho social, além dos eventos relacionados à física do século XXI Alguns trabalhos produzidos em aula, como carrinhos para coleta de lixo, foram utilizados pelo projeto Tecnologias Sociais para Empreendimentos Solidários, do IHU. Os carrinhos foram doados para a cooperativa Aturoi.

Trajetória profissional e Unisinos – No começo, dar aulas foi muito difícil, por causa da minha timidez. Falar em público sempre complicado para mim. Comecei a dar aulas na UFRGS, em 1994, onde permaneci até 1996. Entrei na Unisinos, como professor, em 1994, uma época em que ainda não havia pesquisas, mas muito interesse. As limitações atingem a todas as instituições, mas a situação da Unisinos é privilegiada. Ela é, em termos de gestão, bastante profissional. As condições de trabalho são muito boas. As tecnologias estão evoluindo muito rápido, e o curso não pode ficar atrás. A universidade mantém o padrão e a qualidade dos cursos, o que proporciona satisfação como professor e coordenador do curso de Engenharia Mecânica.

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