Edição 372 | 05 Setembro 2011

Não há lógica na redução dos juros para 12% ao ano, agora

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Graziela Wolfart



IHU On-Line – O que significa, na prática, a baixa dos juros para 12% ao ano?

José Luís Oreiro – Significa que o Banco Central está apostando num quadro de forte desaceleração do nível de atividade econômica no Brasil em função do agravamento da crise financeira internacional. Eu tenho dúvidas sobre esse cenário. Não sei se vamos repetir em 2011 a crise de 2008; acho que não. Portanto, não vejo lógica na redução da taxa de juros para 12% ao ano agora.

IHU On-Line – O senhor continua defendendo a desaceleração da economia no Brasil?

José Luís Oreiro – Existem algumas indicações de que a economia brasileira já está se desacelerando. No momento que estamos passando, de elevada pressão inflacionária, de câmbio extremamente valorizado, é bom ter um crescimento um pouco mais baixo, em torno de 3,5% ao ano. Manter um crescimento acelerado, acima de 4% ao ano, implica riscos não só do ponto de vista inflacionário, mas também do ponto de vista de balanço de pagamentos, porque, com uma economia crescendo rapidamente, as importações crescem assim também e as nossas exportações acabam perdendo competitividade. Então, manter a economia crescendo a um ritmo de 5% ao ano significa deteriorar muito rapidamente a situação da ponta de transações correntes do balanço de pagamentos num cenário internacional que já é meio complicado. Levando em conta a restrição externa da economia, acho prudente certa desaceleração do crescimento, a fim de evitar que tenhamos de imediato uma crise de balanço de pagamentos.

IHU On-Line – O momento atual pede o ajuste fiscal?

José Luís Oreiro – Pede ajuste fiscal forte, para que possamos, de fato, conseguir fazer uma redução da taxa de juros sem populismo, sem uma elevação forte da taxa de inflação. O ideal seria que se mudasse a composição da política macroeconômica, ou seja, adotar uma política fiscal mais apertada para permitir uma política monetária mais frouxa. É preciso apertar a política fiscal, reduzir a expansão dos gastos de consumo do governo, aumentar o superávit primário e, com isso, sinalizar para o Banco Central que agora se pode trabalhar com uma taxa de juros mais baixa.

IHU On-Line – Como deve ser a sintonia entre política monetária e fiscal num momento de crise como o atual?

José Luís Oreiro – Deveríamos ter uma contração fiscal forte, para permitir um relaxamento rápido da política monetária. No entanto, a própria elevação do salário mínimo nessa magnitude para 2012 inviabiliza uma contração fiscal forte. Então, temos uma situação para 2012 de política fiscal e monetária expansionista, visto que a taxa de juros está se reduzindo. Esse tipo de combinação não funciona. Política fiscal expansionista + política monetária expansionista é algo que gera tendência à aceleração da taxa de inflação e apreciação da taxa de câmbio. Podemos ter para 2012 um quadro de inflação chegando talvez a 8%, junto com a forte desvalorização da taxa de câmbio, correndo o risco de termos em 2013 uma crise no balanço de pagamentos. O mix de política macroeconômica deste governo definitivamente está errado.

IHU On-Line – Com a crise financeira atual, que mudanças se fazem necessárias na política cambial brasileira?

José Luís Oreiro – Teríamos que estar preocupados com o nível atual da taxa de câmbio e, portanto, iniciar um processo de desvalorização gradual da taxa cambial. Para implementar esse processo, deveríamos mudar o mix de política macro, ou seja, contração fiscal mais expansão monetária, ao contrário do que estamos fazendo hoje, que é expansão fiscal mais expansão monetária. A política que, hoje, o Brasil está seguindo vai agravar o problema cambial e tornará o país ainda mais frágil do ponto de vista externo.

IHU On-Line – Que outros impactos o Brasil poderá sofrer com a crise global?

José Luís Oreiro – Vai depender do que vai acontecer com a crise global. Temos dois cenários possíveis. Um deles é morno, de aterrissagem suave dos países envolvidos, em que eles vão continuar crescendo, mas um crescimento baixo; ou talvez até entrar em recessão, mas nada muito grave. Nesse cenário, o Brasil não é muito prejudicado, pelo menos no curto prazo. Ou seja, os capitais continuarão a vir para o Brasil e, portanto, não teremos a repetição de 2008. Outro cenário é o de Lehman Brothers II . Se for esse o caso, a coisa complica bastante. Podemos ter uma parada súbita da entrada de capitais no Brasil e, se isso ocorrer com esse déficit de conta corrente que temos hoje, as coisas podem realmente ficar bem complicadas e o dólar em algumas semanas pode disparar.

Leia mais...

>> José Luis Oreiro já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line.

* Crise econômico-financeira. Projeções para 2009. Entrevista publicada em 19-11-2008, nas Notícias do Dia;

* A atual política cambial é absolutamente perversa quanto ao PIB. Entrevista publicada na edição 338, de 09-08-2010;

* Projeto Ômega e desindustrialização, publicada em 12-7-2010, nas Notícias do Dia;

* Mudanças silenciosas. Entrevista publicada na edição 356, de 04-04-2011.

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