Edição 371 | 29 Agosto 2011

Nacionalismo e antiamericanismo: a legalidade e a política externa norte-americana

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Graziela Wolfart



IHU On-Line – Como compreender que os brigadianos engajados na Campanha da Legalidade viam em Brizola a figura de um líder? Que características de Brizola o constituíam como um líder para esses militares?

Carla Simone Rodeghero – Como a Campanha da Legalidade teve uma dimensão de preparação armada, isso fez com que os brigadianos ficassem muito próximos do Brizola. Eles eram indispensáveis à conquista do que Brizola estava pensando. Talvez a impetuosidade e o carisma de Brizola de propor muitas vezes aquilo que estava longe do alcance tivessem conquistado esses brigadianos. O fato de que Brizola assume como deputado, e não mais num cargo do poder Executivo, é algo que cria mais facilidades para que se expressem e proponham certas coisas. Naquela época não havia nenhuma liderança com a disposição e com a visibilidade que tinha o Brizola, que pudesse ser escolhido como um líder.

IHU On-Line – Considera a legalidade como uma campanha nacionalista?

Carla Simone Rodeghero – Sim, por ser uma campanha que defende a posse de um presidente herdeiro de um projeto nacionalista que foi iniciado por Getúlio Vargas.

IHU On-Line – Em que medida a Campanha da Legalidade contribui para a constituição e consolidação da democracia no Brasil?

Carla Simone Rodeghero – Muita gente fala mal da democracia que tivemos entre 1945 e 1964, que teria sido marcada pelo populismo, pela demagogia, e essa foi uma interpretação muito forte quando aconteceu o golpe e não houve resistência nenhuma. Esses 19 anos talvez tenham sido a primeira experiência de democracia com livre funcionamento dos partidos, da imprensa, do Congresso Nacional, das assembleias legislativas. Construiu-se um mito em torno da Campanha da Legalidade, principalmente a partir de 1979, quando Brizola volta. Temo que as comemorações oficiais do cinquentenário da legalidade simplesmente retomem esse mito, acriticamente.

IHU On-Line – Podemos afirmar que o movimento da legalidade ajudou a formar uma consciência política no Brasil? O que resta disso ainda hoje?

Carla Simone Rodeghero – A legalidade ajudou a criar uma consciência política no período de 1961 a 1964 e ficou para muitas pessoas que participaram e assistiram como um marco na percepção sobre o mundo. É um exemplo de participação, de sucesso de iniciativa política, que marcou muito aqueles que atuaram entre 1961 e 1964. Deste ano em adiante, teremos quase que uma proibição de tocar no assunto e de se referir de forma positiva a essas lideranças e a esse evento que foi a Campanha da Legalidade. Para o Rio Grande do Sul, este movimento aparece como um período importante para a constituição de uma consciência política, e até para essa ideia de que o Rio Grande do Sul é um estado bastante politizado, para essa imagem que os gaúchos criaram de si.

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