Edição 365 | 13 Junho 2011

Preservação das florestas depende de política agrícola adequada

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Patricia Fachin e Rafaela Kley



IHU On-Line - Como o senhor define a posição do Brasil em relação à forma como lida com suas florestas? Por que há conflito entre produção agrícola e sustentabilidade florestal?

Ricardo Ribeiro Rodrigues – O Brasil tem uma legislação interessante que precisava ser cumprida. O conflito entre agricultura e meio ambiente ocorre porque temos florestas e muita aptidão agrícola.
Os problemas ambientais ocorrem pela ausência de uma política agrícola. Em vez de aumentar as áreas agrícolas, temos de utilizar melhor o solo disponível para a agricultura. Dois terços das terras agrícolas são utilizadas para atividade de baixa produtividade. Um proprietário que tem 30 hectares de terra, o que equivale a 42 campos de futebol, ganharia, no sistema de ocupação com pecuária, o rendimento médio de seis mil reais por ano. Quer dizer, o investimento renderia um salário mínimo por mês, o que é muito pouco.
Nós precisamos efetivamente ocupar as áreas de pastagens e transformá-las em áreas de produção de alimentos. Somente a partir desta adequação conseguimos disponibilizar em torno de 70/80 milhões de hectares para agricultura. Com essa extensão de terra, o Brasil pode produzir alimentos até 2050.

IHU On-Line - Diversas empresas de celulose mantêm projetos florestais. Pode-se chamar essas plantações de florestas? Como o senhor vê esse debate entre as florestas plantadas com espécies nativas e exóticas?

Ricardo Ribeiro Rodrigues – A produção de eucaliptos e pinos é uma atividade agrícola como a produção de café, arroz e pastagem. É uma atividade válida como atividade de produção, e não como atividade ambiental. Logicamente, os pinos e o eucalipto, principalmente, têm um impacto ambiental menor do que a cultura de soja e cana-de-açúcar, pelo uso de pesticidas, pela questão da mecanização.
Quanto mais madeira disponível for plantada, menor será a pressão sobre as formações naturais. Se nós tivéssemos carvão produzido a partir do eucalipto, teríamos uma pressão menor sobre as formações florestais naturais, que são desmatadas para serem transformadas em carvão para a produção de energia.

IHU On-Line - Quais as principais metas e desafios da comunidade internacional em relação às florestas?

Ricardo Ribeiro Rodrigues – A comunidade internacional está preocupada com a questão da biodiversidade, com as mudanças climáticas, com o dióxido de carbono. Então, hoje, todas estas questões transversais não estão restritas a um único país. Logicamente, as florestas têm uma contribuição muito grande não somente na questão da biodiversidade, mas na questão econômica – ainda não conhecemos todo o potencial econômico e medicinal das florestas. Além disso, elas desempenham um papel importante na redução dos impactos das mudanças climáticas.

IHU On-Line - Em que consiste uma conservação ambiental adequada das florestas?

Ricardo Ribeiro Rodrigues – Hoje, temos clareza de que é possível produzir com sustentabilidade ambiental. Isso significa destinar, na propriedade rural, áreas de conservação e utilizar tecnologias que permitam produção com baixo impacto ambiental. A presença de uma formação natural dentro de uma propriedade rural é importantíssima como serviço ambiental, inclusive para a própria área agrícola, e atua como polinizador. Por exemplo, a maioria das culturas depende de polinizadores para aumentar a produtividade e, logicamente, os polinizadores vão estar nos ambientais naturais. Os agricultores ainda não têm essa ideia, porque não veem uma abelha, um inseto fazendo a polinização da soja e do café. Eles não conseguem ver a importância deste polinizador na sua produtividade final.

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?

Ricardo Ribeiro Rodrigues – O Brasil está avançando muito na possibilidade de produzir alimentos com sustentabilidade ambiental, e esse é um diferencial. Entretanto, a substituição do Código Florestal vai atrapalhar o avanço ambiental que estava sendo feito, já que desvincula a questão ambiental da agricultura.

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