Edição 365 | 13 Junho 2011

Desmatamento florestal histórico gera baixo desenvolvimento

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Patricia Fachin



IHU On-Line – Quais as principais mudanças no uso da terra de florestas como Amazônia e Atlântica?

Luiz Antonio Martinelli - Somente restam aproximadamente 12% dos 1.5 milhões de km2 antes ocupados pela Mata Atlântica. Do Cerrado já se foi metade e da Amazônia já se foram cerca de 600.000 km2, que em termos de percentuais chega a aproximadamente 12% de toda a Amazônia Legal. Portanto, já houve e continua havendo mudanças profundas na cobertura do solo brasileiro.
Quanto à exploração do solo, na verdade são vários ciclos ao longo da nossa história econômica e, portanto, várias culturas se sucedem. Na Mata Atlântica começamos com a exploração do Pau-Brasil pelos Portugueses, depois veio a cana no Nordeste. No Sudeste, a primeira grande cultura foi o café, depois tivemos uma breve fase com algodão, sucedida pelas pastagens e agora voltamos à cana. Na Amazônia, grandes áreas de florestas foram substituídas por imensas pastagens e mais recentemente chegou a soja que é cultivada de norte a sul no país.

IHU On-Line - Quais as implicações do desenvolvimento da agricultura em áreas florestais?

Luiz Antonio Martinelli - A primeira implicação é que hoje o Brasil é um grande produtor de alimentos e exporta várias commodities agrícolas que ajudam a equilibrar a balança comercial brasileira. Também é fato que o país tem uma agricultura tropical altamente desenvolvida. Por outro lado, desenvolvemos essa agricultura sem os devidos cuidados ambientais. Em parte porque não conhecíamos as consequências dessas mudanças drásticas no ambiente; em parte por ganância e pela necessidade de o pequeno agricultor sobreviver em áreas como a Amazônia.
Assim, temos o lado bom e o lado ruim. No entanto, ainda há tempo para conciliar produção com preservação. O Brasil tem a chance única no mundo de ser um país produtor de alimento, fibras e energia e ser dono de uma imensa e intacta biodiversidade.

IHU On-Line – Qual é, na sua avaliação, o principal problema ambiental da Amazônia?

Luiz Antonio Martinelli - Para mim o principal problema ambiental da Amazônia é a perda de um patrimônio genético que demorou milhares de anos para ser construído em troca de um ganho econômico e social baixíssimo. Para a sociedade brasileira, simplesmente não tem valido a pena desmatar a Amazônia.

IHU On-Line - Quais os impactos do novo Código Florestal para as florestas brasileiras?

Luiz Antonio Martinelli - Se for aprovado da maneira que passou na Câmara, será o maior retrocesso ambiental da história brasileira. Em uma tacada só, nossos ecossistemas aquáticos e terrestres estarão menos protegidos a troco de nada. Será um tiro no pé do próprio agricultor. A agricultura brasileira não precisa de mais área. Isso é conversa mole. A agricultura brasileira precisa de segurança no campo, segurança fundiária, financiamento pesado para o pequeno e médio agricultor, pois os grandes proprietários de terras já têm pesados investimentos em ciência e tecnologia e infraestrutura de transporte como rodovias e portos. Os pequenos e médios agricultores vivem endividados, vendendo o almoço para pagar a janta. Em regiões remotas não têm sequer o título da terra e frequentemente são ameaçados e mortos. O grande produtor consegue meios para arrumar financiamento através do BNDES, financiamento por grandes conglomerados e etc. Mas, por outro lado, não consegue escoar sua produção por falta de infraestrutura e sofre também com a violência no campo, já que às vezes é ameaçado por alguns movimentos mais radicais. Ambos, pequenos e
grandes, sofrem com a falta de uma política agrícola consistente por parte do governo. Esses são os reais problemas e não as Áreas de Preservação Permanente - APPs e Reservas Legais.

IHU On-Line - Qual a importância de preservar as florestas?

Luiz Antonio Martinelli – Primeiramente, há uma importância ética de se preservar vários tipos de vidas para outras gerações. Se pensarmos em termos religiosos, seja qual for a religião, não deveríamos extinguir a obra do Criador. Não seria nosso direito. Do ponto de vista prático, a importância de se preservar florestas reside na estabilidade do funcionamento de todo o Planeta. As florestas exercem um fator preponderante no clima, por exemplo. São habitats naturais de várias plantas e animais de suma importância ao homem. A agricultura só existe porque ainda temos florestas. O maior enxoval do agricultor é um ecossistema equilibrado que consiga exercer seus serviços ambientais e as florestas são partes integrantes de inúmeros ecossistemas.

Leia mais...

Luiz Antonio Martinelli já concedeu outra entrevista à IHU On-Line. Acesse na página eletrônica www.ihu.unisinos.br.
•    “A poluição que a criação intensiva de gado causa na água e no ar é muito mais importante do que o aumento do efeito estufa”. Publicada em 18-02-2009.

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição