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Patrícia Fachin
Para ele, a rede “trouxe muitas facilidades, mas o mundo continua praticamente o mesmo” porque “a organização da vida vai muito além da tecnologia”. Entretanto, com o uso intensivo das ferramentas tecnológicas, “o novo profissional é convencido de que bom é fazer tudo, englobar todas as funções”, constata em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Escritor, jornalista e historiador, Juremir Machado é doutor em Sociologia pela Universidade de Paris V: René Descartes. Em Paris, de 1993 a 1995, foi colunista e correspondente do jornal Zero Hora. Atualmente, além de professor do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social – Famecos e coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUCRS, assina coluna no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - O que mudou na vida contemporânea com o surgimento de novas ferramentas como Twitter e FaceBook?
Juremir Machado - Cada um de nós se tornou proprietário de um meio de comunicação. Agora só nos falta ter o que dizer de interessante a cada dia em nosso veículo individual.
IHU On-Line - Que avaliação faz da relação dos jovens da geração Y com as redes sociais? Como vê a adesão e a interação desenvolvida por meio da internet?
Juremir Machado - As relações são, em geral, muito frutíferas. Fala-se de tudo, discute-se de tudo, opina-se sobre tudo. O problema é desrespeito a certas regras. Por exemplo, o direito autoral. Como tudo pode ser copiado, alguns acham que escrever livros não tem custo, ou que é lícito pegar livros sob contrato com editoras e colocar na rede para acesso gratuito. Se isso for generalidade, será o fim do direito autoral e da atividade de escritor profissional.
A adesão está relacionada à possibilidade de expressão. Todos querem comunicar e se sentem até na obrigação de ligar-se com outros pela internet.
IHU On-Line - A interação dos jovens aos meios digitais muda a relação deles com o emprego? Como o senhor vê o comportamento da geração Y, que quer flexibilizar o horário de trabalho?
Juremir Machado - Não acredito muita nessa expressão "geração Y". Nem sinto que ela seja tão usada assim. Parece coisa de revista Veja. A internet abre novas possibilidades de trabalho. Empresas modernas são mais abertas. Trabalha-se por tarefas.
IHU On-Line - O senhor identifica uma precarização no mercado por causa disso?
Juremir Machado - Pode haver. De resto, empresas sonham com menos encargos.
IHU On-Line - Em sua opinião, as grandes empresas aproveitam essa mudança de perfil dos funcionários para incluir cada vez mais atividades multitarefas e urgentes de serem realizadas (como é o caso de atividades virtuais, em grandes sítios da web)?
Juremir Machado - Sem dúvida. O novo profissional é convencido de que bom é fazer tudo, englobar todas as funções, ser repórter, editor, coletor de imagens e tudo mais.
IHU On-Line - Que futuro vislumbra a partir das redes sociais na internet? A sociedade tende a mudar alguns hábitos e comportamentos?
Juremir Machado - Há um pouco de exagero. A internet trouxe muitas facilidades, mas o mundo continua praticamente o mesmo. A organização da vida vai muito além da tecnologia.
IHU On-Line - Quais são as principais mudanças pelas quais o jornalismo já passou por conta das novas plataformas digitais como o Twitter, Facebook?
Juremir Machado - O jornalismo, sim, está passando por muitas mudanças. O repórter sai menos às ruas e busca mais informações na rede. Tem um lado bom. É mais informação acessível. A pressa, claro, pode levar a falta de tempo para verificação, interpretação e amadurecimento.
IHU On-Line - O jornalismo tende a mudar a partir de inovações como o Twitter? Por quê e em quais aspectos?
Juremir Machado - Tudo tende a ficar mais rápido e curto. Voltamos ao predomínio do lide. Quando se pode ter todo espaço do mundo, estamos fazendo mais curto e rápido, respondendo às seis questões do lide. Estamos cada vez mais objetivos. Está faltando subjetividade no jornalismo. A subjetividade exige imaginário próprio e tempo para sonhar.
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Juremir Machado já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line e também é autor do Cadernos IHU ideias número 30, intitulado Getúlio, romance ou biografia?
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