Edição | 16 Mai 2011

Geração Y “parece coisa de revista Veja”

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Patrícia Fachin

Embora não compartilhe da opinião de que existe uma geração Y, diferente das anteriores especialmente pela interação com as novas tecnologias, o jornalista Juremir Machado assinala que as relações via internet são frutíferas ao possibilitarem discussões e opiniões diversas.

Para ele, a rede “trouxe muitas facilidades, mas o mundo continua praticamente o mesmo” porque “a organização da vida vai muito além da tecnologia”. Entretanto, com o uso intensivo das ferramentas tecnológicas, “o novo profissional é convencido de que bom é fazer tudo, englobar todas as funções”, constata em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Escritor, jornalista e historiador, Juremir Machado é doutor em Sociologia pela Universidade de Paris V: René Descartes. Em Paris, de 1993 a 1995, foi colunista e correspondente do jornal Zero Hora. Atualmente, além de professor do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social – Famecos e coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da PUCRS, assina coluna no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre.

Confira a entrevista.



IHU On-Line - O que mudou na vida contemporânea com o surgimento de novas ferramentas como Twitter e FaceBook?

Juremir Machado -
Cada um de nós se tornou proprietário de um meio de comunicação. Agora só nos falta ter o que dizer de interessante a cada dia em nosso veículo individual.


IHU On-Line - Que avaliação faz da relação dos jovens da geração Y com as redes sociais? Como vê a adesão e a interação desenvolvida por meio da internet?

Juremir Machado -
As relações são, em geral, muito frutíferas. Fala-se de tudo, discute-se de tudo, opina-se sobre tudo. O problema é desrespeito a certas regras. Por exemplo, o direito autoral. Como tudo pode ser copiado, alguns acham que escrever livros não tem custo, ou que é lícito pegar livros sob contrato com editoras e colocar na rede para acesso gratuito. Se isso for generalidade, será o fim do direito autoral e da atividade de escritor profissional.

A adesão está relacionada à possibilidade de expressão. Todos querem comunicar e se sentem até na obrigação de ligar-se com outros pela internet.


IHU On-Line - A interação dos jovens aos meios digitais muda a relação deles com o emprego? Como o senhor vê o comportamento da geração Y, que quer flexibilizar o horário de trabalho?

Juremir Machado -
Não acredito muita nessa expressão "geração Y". Nem sinto que ela seja tão usada assim. Parece coisa de revista Veja. A internet abre novas possibilidades de trabalho. Empresas modernas são mais abertas. Trabalha-se por tarefas.


IHU On-Line - O senhor identifica uma precarização no mercado por causa disso?

Juremir Machado -
Pode haver. De resto, empresas sonham com menos encargos.


IHU On-Line - Em sua opinião, as grandes empresas aproveitam essa mudança de perfil dos funcionários para incluir cada vez mais atividades multitarefas e urgentes de serem realizadas (como é o caso de atividades virtuais, em grandes sítios da web)?

Juremir Machado -
Sem dúvida. O novo profissional é convencido de que bom é fazer tudo, englobar todas as funções, ser repórter, editor, coletor de imagens e tudo mais.


IHU On-Line - Que futuro vislumbra a partir das redes sociais na internet? A sociedade tende a mudar alguns hábitos e comportamentos?

Juremir Machado -
Há um pouco de exagero. A internet trouxe muitas facilidades, mas o mundo continua praticamente o mesmo. A organização da vida vai muito além da tecnologia.


IHU On-Line - Quais são as principais mudanças pelas quais o jornalismo já passou por conta das novas plataformas digitais como o Twitter, Facebook?

Juremir Machado -
O jornalismo, sim, está passando por muitas mudanças. O repórter sai menos às ruas e busca mais informações na rede. Tem um lado bom. É mais informação acessível. A pressa, claro, pode levar a falta de tempo para verificação, interpretação e amadurecimento.


IHU On-Line - O jornalismo tende a mudar a partir de inovações como o Twitter? Por quê e em quais aspectos?

Juremir Machado -
Tudo tende a ficar mais rápido e curto. Voltamos ao predomínio do lide. Quando se pode ter todo espaço do mundo, estamos fazendo mais curto e rápido, respondendo às seis questões do lide. Estamos cada vez mais objetivos. Está faltando subjetividade no jornalismo. A subjetividade exige imaginário próprio e tempo para sonhar.



Leia Mais...

Juremir Machado já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line e também é autor do Cadernos IHU ideias número 30, intitulado Getúlio, romance ou biografia?

• A cultura política do RS mudou. Para pior. Entrevista publicada nas Notícias do Dia em 8-10-2010

• “1968 reduz enormemente a carga de hipocrisia da sociedade”. Entrevista publicada na edição 250, de 10-03-2008

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