Edição 252 | 31 Março 2008

Diagnóstico detecta principais causas da violência em Novo Hamburgo

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Alessandra Barros

Para a professora Cássia Rebelo Hofstätter, a população tem receio de falar sobre a violência no seu bairro por medo de represálias

“Na opinião dos entrevistados, ficou evidente que o desemprego, o tráfico, o uso de drogas e a desestruturação familiar foram destacados como as principais causas da violência”, enfatiza a professora Cássia Rebelo Hofstätter, coordenadora do Centro de Pesquisa e Planejamento (CPP) da Feevale, também responsável pela pesquisa que formatou o Diagnóstico da Criminalidade do Município de Novo Hamburgo, em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line. Segundo ela, analisando o perfil das vítimas de homicídio do município, percebeu-se que a arma de fogo é o instrumento utilizado na maioria dos casos, ocorridos durante a noite, e que a maior parte das vítimas é composta por jovens entre 21 a 30 anos, sendo que em 30,6% dos casos foi encontrado álcool no sangue delas. Cássia também é graduada em Administração de Empresas pela Feevale, Especialista em Marketing e Vendas pela mesma Instituição, e atualmente faz Mestrado em Administração na Unisinos. Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é a sua avaliação do diagnóstico sobre a criminalidade em Novo Hamburgo (RS)? 
Cássia Rebelo Hofstätter
- O objetivo principal da realização do diagnóstico era trazer informações da violência de alguns delitos específicos da cidade de Novo Hamburgo (RS) para que a prefeitura realizasse, a partir delas, o plano de segurança municipal e promovesse ações que amenizassem os índices de violência no município. O diagnóstico da criminalidade realizado no município foi um grande desafio para o Centro de Pesquisa e Planejamento (CPP) da Feevale. Exigiu, além de planejamento, discussões com a equipe envolvida e um amadurecimento dos conceitos que envolvem a criminalidade. Tivemos algumas dificuldades ao longo da construção do diagnóstico, principalmente a de conseguir alguns dados, por serem sigilosos e em razão de a população também ter receio de falar sobre a violência no seu bairro, por medo de represálias. As informações obtidas no diagnóstico são muito importantes para a realização de ações em benefício da comunidade.

IHU On-Line - O que a motivou a realização da pesquisa?  Qual foi o ponto de partida no recolhimento dos dados?
Cássia Rebelo Hofstätter
- No final de 2006, o CPP foi contrato pela Secretaria de Segurança da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo para realizar o diagnóstico com o objetivo de servir como fonte de informações para a realização do Planejamento de Segurança do município. Após a contratação do CPP pela prefeitura, a primeira ação foi formar uma equipe para planejar o diagnóstico, composta por profissionais do CPP (fiquei responsável pelas etapas das pesquisas e organização do diagnóstico), especialistas em pesquisa de Marketing (profissionais de MKT, metodologia de pesquisa, estatísticos e entrevistadores, para a realização das entrevistas e coleta de dados). Além da equipe do CPP, participaram uma socióloga (pesquisadora do tema violência), uma economista, a equipe da Secretaria de Segurança da Prefeitura de Novo Hamburgo e representantes da Guarda Municipal, da Brigada Militar e da Polícia Civil. Tivemos, também, a participação do Capitão da Guarda Municipal, Ilson Krigger, também pesquisador do tema violência e que nos auxiliou em todo o diagnóstico.

O estudo foi dividido em cinco etapas: 1) contextualização da violência (estudo dos principais conceitos); 2) pesquisa realizada com a população de Novo Hamburgo; 3) análise das ocorrências registradas no município de 2002 a 2006; 4) entrevistas com formadores de opinião sobre o assunto; e 5) consulta de informações obtidas em alguns projetos realizados pela Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assistência Social da Prefeitura de Novo Hamburgo.

A pesquisa envolveu um universo de 71.085 domicílios, com amostra de 1054 entrevistas segmentadas por quotas de idade, sexo, renda e bairro (conforme dados do IBGE). A coleta de dados partiu de entrevistas domiciliares feitas por uma equipe de entrevistadores do CPP, realizadas entre os meses de janeiro e abril de 2007. 

Na análise dos registros de ocorrências de todos os bairros da cidade de 2002 a 2006, foi utilizada, como fonte, a Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul. Foram analisados 33.867 registros de fatos consumados dos crimes contra o patrimônio (furto e roubo) e crimes contra a pessoa (lesão corporal e homicídio). O homicídio foi o único delito especificado e sobre o qual se fez uma análise mais aprofundada. Já na fase de entrevistas em profundidade com formadores de opinião sobre o assunto, foram entrevistados dois formadores de opinião na cidade, o jornalista Aurélio Decker e o Corregedor da Guarda Municipal Ilson Krigger. Por meio das entrevistas, foi possível entender algumas causas da violência.

Na consulta de informações obtidas em alguns projetos realizados pela Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assistência Social da Prefeitura de Novo Hamburgo, foram analisados projetos sociais realizados pela prefeitura e outros dados registrados pela Secretaria de Segurança. O diagnóstico foi realizado por uma equipe qualificada, que se reunia semanalmente para discutir a construção do mesmo e os dados que eram obtidos. A formação dessa equipe foi bastante importante e o trabalho, realizado de novembro de 2006 a agosto de 2007.

IHU On-Line - Quais são os principais tipos de criminalidade que acontecem nos bairros do município?
Cássia Rebelo Hofstätter
- Na pesquisa descritiva realizada com a população, foi possível detectar que a maioria caracteriza a violência como sendo o roubo (74,6%). Grande parte dos entrevistados sofreu alguma violência ou conhece alguém que tenha sofrido. 40,9% afirmaram que eles próprios já sofreram alguma violência, sendo que 65,8% dos mesmos já foram roubados e 65% registraram a ocorrência. O bairro que se destacou foi o de Canudos . Analisando o registro de ocorrências, percebeu-se que, nesse bairro, o furto teve um número de registros mais acentuado no ano de 2003. Já o roubo teve um aumento em 2006, se compararmos em relação aos outros anos. A lesão corporal, por sua vez, teve um número maior de registros em 2003 e os homicídios, em 2006.

Analisando o perfil das vítimas de homicídio do município, percebeu-se que o instrumento utilizado na maioria dos casos foi a arma de fogo, que a maioria das vítimas são jovens, concentrando-se na faixa etária de 21 a 30 anos, sendo que o homicídio ocorreu à noite e em 30,6% dos casos foi encontrado álcool no sangue delas.

Na análise por bairro, notou-se que Canudos tem um destaque maior nos registros, tanto nos crimes contra o patrimônio, como nos crimes contra a pessoa. Em segundo lugar, destaca-se Santo Afonso, em relação aos crimes contra a pessoa. Em terceiro, o Centro nos crimes contra o patrimônio.

O diagnóstico também analisou os crimes per capita (análise do número da população do bairro em comparação com o número de registros de ocorrências do bairro). Fica evidente que os maiores bairros de Novo Hamburgo, Canudos (64.627) e Santo Afonso (25.492), têm muitos registros. Mas o que chama a atenção é o bairro Hamburgo Velho. Mesmo com uma população de somente 2194 habitantes, possui um alto índice de registros de ocorrências, principalmente quanto aos delitos de lesão corporal, de furto de veículo, de estabelecimento comercial, de residência e roubo de pedestres.
Estas são algumas possíveis justificativas para este cenário: Hamburgo Velho tem uma grande circulação de transeuntes, devido aos vários estabelecimentos comerciais que compõem o bairro e há uma concentração de pessoas de alto poder aquisitivo, que residem em Hamburgo Velho. Também é importante considerar que, na opinião dos entrevistados, ficou evidente que o desemprego, o tráfico e o uso de drogas e a desestruturação familiar foram destacados como as principais causas da violência.

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