Edição 249 | 03 Março 2008

Marcelo Souza Guimarães

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Bruna Quadros

Antes de ser alfabetizado, Marcelo Souza Guimarães, 23 anos, já demonstrava interesse e intimidade com lápis e papéis. O desenho estava entre suas preferências, e a inspiração vinha de filmes. O mais interessante é que Marcelo desenhava o inusitado. Ao contrário de seus colegas de classe, que esboçavam imagens de super-heróis, ele traçava cenas bíblicas. Uma de suas artes, Jesus sendo crucificado, chegou à final em um concurso de desenhos promovido pela escola. Estudante de Educação Física, na Unisinos, ele começou a trabalhar na universidade há seis meses, no Posto de Atendimento do Centro das Ciências Econômicas. Em entrevista à revista IHU On-Line, Marcelo relatou as marcas de sua trajetória até agora. Confira, a seguir, a entrevista:

 

Origens e família – Eu nasci em Porto Alegre, em 5 de fevereiro de 1984. Quando eu nasci, meus pais eram bem novos. Minha mãe, era estudante, tinha 18 anos e meu pai, militar, 22 anos. Eles mantêm o casamento até hoje, apesar de enfrentar muitas dificuldades, por terem a responsabilidade de assumir um filho, ainda muito jovens. Sou filho único, mas sempre tive muitos primos. Esta foi uma maneira que encontrei para compensar a falta de irmãos. Honestidade, simplicidade e sempre procurar ajudar as pessoas foram os valores que os meus pais me passaram, além de ter a perseverança de crescer e ser alguém na vida.

Infância – Eu morava no bairro Sarandi, em Porto Alegre, em frente à Escola Ciem. E eu acabava brincando com as crianças do colégio, também. Nunca gostei de jogar futebol, mas gostava de brincar de pega-pega, de pular corda, de esconde-esconde. Comecei a gostar muito de lutas, porque, na época, Jaspion e Jiraya eram os super-heróis do momento e me inspirei no filme Karatê kid, e também nos filmes do Bruce Lee e Van Damme. Eu também gostava muito de brincar com iô-iô. Quando eu estava com 10 anos, teve a febre de jogar peão. Uma das coisas que mais me marcou foi aprender a andar de bicicleta. Desde os quatro anos, eu já andava em bicicleta com adultos. Para mim, aprender a andar sozinho era uma questão de honra. E eu aprendi. Com cinco anos, ganhei minha primeira bicicleta.

Estudos – Antes de ser alfabetizado, eu já me interessava por desenhos e letras. Sempre quis aprender a escrever o meu nome. E desenhava igrejas, padres e Jesus, que, para mim, era tudo. Este fascínio veio dos filmes que eu assistia. Certa vez, aconteceu um campeonato de desenho na escola, e o meu desenho chegou a ir para as finais, porque eu desenhei Jesus Cristo sendo crucificado. Isso foi um diferencial muito grande, porque as outras crianças só desenhavam super-heróis. Eu me saía bem nos estudos, só não gostava de matemática. Da pré-escola à 1ª série, eu estudei no Colégio Luterano, no bairro Sarandi. Da 2ª à 4ª série, eu estudei no Colégio Major Miguel Pereira, no Sarandi também. E da 5ª até o término do 2º Grau técnico em Administração, estudei no Colégio Luterano Concórdia, em Canoas.

Mudança - Em 1995, ocorreu uma grande mudança na minha vida. Saímos de Porto Alegre e fomos morar em Canoas, porque como o meu pai era militar, tivemos a oportunidade de ir morar na Vila Militar do município, onde havia mais segurança. 

Adolescência - Com 12 anos, dei um pulo da infância para a adolescência. Eu gostava de ir à Igreja com a minha mãe. Um dia, me interessei em participar do grupo de jovens, porque eu gostava muito de vê-los cantando e tocando violão. Quando cheguei ao grupo, tive uma recepção muito boa e fiz muitas amizades. Ia à Igreja, tocava, fazia retiros e excursões com o grupo de jovens. Dos 13 aos 15 anos, eu fiquei no grupo de base da Igreja Caravagio. E, dos 16 aos 18 anos, eu participei do CLJ (Curso de Liderança Juvenil), na Igreja Nossa Senhora das Graças. Lá, eu conheci pessoas que eram do mundo da moda, que me convidaram para assistir a um desfile, e o fotógrafo me chamou para fazer um book. Depois, me convidaram para participar do concurso de moda Garoto Estudantil de Canoas 2000, aos 16 anos. Infelizmente, não tive empolgação de seguir a carreira nas passarelas por não ter a altura requisitada, que é de no mínimo 1,83 cm. Desde então, comecei a fazer cursos de teatro. Mas descobri que neste meio artístico, para subir na carreira, algumas vezes as pessoas têm que se sujeitar a propostas indecentes, o que me causou decepção. Mas não desisti totalmente dos desfiles; em 2007, concorri ao Mister Canoas e fui convidado para o Mister RS.

Trabalho – Comecei a trabalhar cedo, porque eu sempre quis ter a minha independência. Aos 14 anos, eu comecei a trabalhar como office boy na empresa de cosméticos em que a minha mãe trabalhava. Como eu fazia um curso Técnico em Administração de Empresas, com 16 anos, fui trabalhar em uma empresa de cobranças, onde permaneci por um semestre. Depois disso, a empresa fechou. Um colega no curso técnico estava fazendo estágio na Infraero, e me convidou para concorrer à vaga de estágio na área de auxiliar administrativo. Aos 17 anos, eu fui selecionado e fiquei durante um ano na Infraero. Logo acabou o meu contrato, porque me formei no curso Técnico. E comecei a fazer outro curso Técnico em Processamento de Dados. Como eu tinha interesse em cursar Análise de Sistemas, na universidade, fiz este curso para ver se era o que eu queria. Após três semestres, vi que não era. Durante este tempo, fiz um estágio na Prefeitura de Porto Alegre, na Secretaria da Saúde. Nela, eu trabalhava na área administrativa e de atendimento ao público. Saí da Secretaria em março de 2003, quando entrei para o quartel.

Serviço militar - Servi na Base Aérea de Canoas e foi uma experiência muito boa, porque eu tive a oportunidade de conviver com pessoas de diferentes classes sociais e culturas. No início, foi um choque, porque eu era acostumado a ser filho único e encarei um lugar onde eu dividia alojamento com 200 pessoas. Depois, fui gostando e fiquei quase cinco anos no quartel. Trabalhando na Aeronáutica, eu fiquei um ano na Base Aérea e depois fui transferido para o Destacamento de controle do espaço aéreo de Porto Alegre, no Aeroporto Internacional Salgado Filho

Graduação - Ingressei na Unisinos em 2004, no curso de Relações Públicas. Fiz esta opção porque eu sempre fui muito comunicativo e gostava de lidar com pessoas. Cursei três semestres e percebi que o mercado de trabalho era muito restrito, e mulheres tinham mais espaço que os homens. Em 2006, comecei a estudar Educação Física. A minha intenção é atuar na Ginástica Laboral e também no Marketing Esportivo, para trabalhar a imagem de lutadores, porque tenho forte envolvimento com artes marciais.

Unisinos - Comecei a trabalhar na Unisinos em agosto deste ano, no Posto de Atendimento do Centro das Ciências Econômicas. Moro em Canoas e decidi estudar na Unisinos por ter uma grande afinidade com o ambiente e com os colegas. A Unisinos é uma universidade muito acolhedora e tem uma excelente qualidade no ensino. Foram estes os fatores me fizeram vir estudar aqui e despertaram o meu interesse em trabalhar na universidade. 

Lazer – Pratico artes marciais, musculação e remo. Também gosto de sair com os meus amigos e visitar a minha família. Aos sábados, de manhã, dou aulas de musculação e natação na academia Medley, em Niterói/Canoas. E, domingo, de manhã, remo no Rio Guaíba.

Livros – Gosto de literatura japonesa e medieval. Um dos livros de que gostei foi O código do Samurai (Daidoji Yuzan. Editora Madras: 2004, 125p.), que fala das leis e mandamentos usados pelos samurais na época medieval, como filosofia de vida, que era como se fossem os 10 Mandamentos da Bíblia para os ocidentais. 

Filme – Diários de motocicleta, de Walter Salles, foi um filme do qual gostei muito, porque retrata a história de Che Guevara antes de se tornar um revolucionário. Mostra que ele buscava os seus objetivos de uma maneira ética e que foi mal interpretado por um governo que era contra as suas idéias. Outro filme de que gostei muito foi O último samurai.

Sonhos – Quero ser bem-sucedido, trabalhar na área que eu gosto e poder deixar alguma coisa boa no mundo. Além disso, quero poder ajudar as pessoas através de projetos sociais. Já trabalhei como animador de festas infantis, voluntariamente, e conheci a realidade de crianças carentes. Todas as vezes que eu ia a hospitais fazer animação para as crianças, eu percebi que não é difícil fazer alguém feliz por alguns momentos. Basta ter um pouco de boa vontade. Até hoje, no mínimo três vezes por ano, eu me organizo para ir a hospitais e asilos ajudar as pessoas que necessitam de um pequeno gesto que seja de solidariedade.

Instituto Humanitas Unisinos – Comecei a acompanhar as atividades do IHU há pouco tempo. Vejo que uma de suas publicações, a revista IHU On-Line, é muito respeitada, devido à abordagem de temas que despertam a reflexão no ambiente acadêmico. As demais atividades promovidas pelo Instituto fomentam o debate entre os novos profissionais que a Unisinos está formando.

Política brasileira – Tem muito a evoluir. Dizem que a culpa é do povo brasileiro, e realmente é, porque ele é muito mal informado. E, além disso, deveria ter um senso mais crítico. As pessoas falam em anular votos, mas este é um grande erro. Todos devem ter um ponto de vista, buscar conhecimentos para poder julgar uma linha política justa no Brasil.

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