Edição 246 | 03 Dezembro 2007

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IHU On-Line

Editoria de Poesia

Nascido em 1929, em Vitória (ES), Benno Dischinger escreve poesia há quinze anos, desde que fez um curso de qualidade de vida. Como tradutor, além de contribuir com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, verteu para o português obras como Estudos de moral moderna (Petrópolis: Vozes, 1994), de Karl-Otto Apel; Analíticos e continentais: guia à Filosofia dos últimos 30 anos (São Leopoldo: Unisinos, 2003), de Franca D'Agostini; e Ética, política e desenvolvimento humano: a justiça na era da globalização (Caxias: EDUCS, 2007), de Thomas Kesselring. Seus poetas preferidos são o gaúcho Mário Quintana, pela “vigorosa simplicidade”, e o português Fernando Pessoa, pelos “vôos filosóficos”, além de Menotti Del Picchia, Adélia Prado e Cassiano Ricardo. Entre os filósofos, gosta muito de ler Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger, Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Henri Bergson e Jean-Paul Sartre. Aprecia especialmente a “vibração poética” de alguns diálogos de Platão e as “saborosas alegorias” de Nietzsche, em Assim falava Zaratustra.

No seu trabalho poético, pode-se dizer que Benno extrai de Quintana a visão sobre elementos do cotidiano e do português Fernando Pessoa uma espécie de “canto”, como aquele que encontramos em Mensagem. Nessa mescla, Benno constrói uma poesia que se constrói por analogias e pelo paralelismo, lembrando, por vezes, a sonoridade de uma cantiga, como num dos poemas que publicamos nessa revista, intitulado “V e n t o...” – que remete ao primeiro livro de Quintana, A rua dos cataventos, com seu trabalho cuidadoso com as rimas. Percebe-se, de fundo, ao mesmo tempo, fragmentos de memória pessoais e paisagens localizando um imaginário comum – marca de seus versos. Benno ainda não reuniu sua produção em livro, mas enviou esses poemas inéditos especialmente à IHU On-Line. Também enviou a tradução de um poema do poeta canadense Marcel Messier, radicado em Recife.   

“V e n t o ...”

Ar em quase imperceptível movimento . . .
Suave brisa a acariciar nossos cabelos.
Vento mais forte sacudindo o arvoredo,
Assoviando pelos prédios, parques e quintais...
Vendavais impetuosos agitando os mares,
Navios, barcos e canoas fazendo adernar...
Ventos abençoados trazendo mais chuva,
Parques, matas e lavouras ajudando a irrigar...
Ar parado anunciando calmaria, estiagem;
Ventos cortantes anunciando tempestades...
Quantas vezes nossa vida é atravessada
Por fortes vendavais, temporais, tribulações...
Mas, quantas vezes também, é tão docemente
Bafejada pela leve aragem do nosso bem-estar...
Como é bom, quando amavelmente nos dizem:
“Bons ventos te acompanhem na jornada!...
- Saibamos escutar no sussurrar do vento,
Ou em seu ardente e vigoroso assobio,
A voz da Natureza e de quem a faz vibrar!

 

É tão simples assim?

Será que é realmente tão simples assim?
Será simples cuidar globalmente de si?
Cuidar da própria saúde, corporal e mental?
Cuidar dos negócios ou da vida no lar?
Cuidar da família e das relações sociais?
Cuidar do ambiente, das plantas e animais?
Cuidar dos nossos sonhos, planos, projetos?
Cuidar da vida em seus múltiplos aspectos?
Sim, é simples, embora nem sempre pareça,
Embora muitas vezes nos dê voltas a cabeça.
É simples porque temos um corpo estruturado,
Um organismo vivo, sabiamente organizado.
Temos uma mente sagaz e bastante inteligente,
Uma vontade tenaz, forte, corajosa e valente!
Nossa natureza nos avisa do que necessita,
Se não a satisfizermos, certamente ela apita...
No fundo é simples o que de nós se requer,
É simples viver como homem ou como mulher:
Basta estar sempre atentos e ter força de vontade:
Enfrentar a vida com atenção, amor e liberdade!



Mulheres vietnamitas
Marcel Messier
Tradução de Benno Dischinger

Como os grandes pássaros que vejo voar
Gostaria de passar por sobre vossas cabeças
Passar os meus dias no vosso silêncio
Proteger vossos olhares inclinados para o chão.

Vossos pés molhados e a pele de vossas mãos
São real garantia de sol e céu azul
Na vida do povo que vos contempla
E que se nutrirá do fruto de vosso labor.

Em vossas mentes, quantos pensamentos e desejos
De uma colheita do tamanho da família
De sua fome e de suas esperas cotidianas
Vós, mulheres orientadas ao futuro.

Vossos arrozais percebem a cor dos vossos olhos
Apreciam vosso olhar e a carícia de vossas mãos
Elas brilham por toda parte com a luz de vossas vidas
Sois vós que lhes passais tão especial beleza.

Vossos gestos vêm a ser as mais lindas orações
Eles fluem como água pura fluindo sobre o rio
A cada instante deles nascem novas vidas
Mulheres silenciosas, vossos gestos falam forte!

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