Edição 246 | 03 Dezembro 2007

Ciências sem limites

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IHU Online

Defensora do uso de embriões humanos para pesquisas com células-tronco, a pesquisadora judia Laurie Zoloth afirma, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, que, se as doenças não têm nenhum limite, as curas também não devem ter. Diretora do Centro de Bioética, Ciência e Sociedade da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, Laurie Zoloth é professora de Ética Medicinal, Humanidades, e Religião. Em 2001, foi presidente da American Society for Bioethics and Humanities. Confira a entrevista:

IHU On-Line - Como a bioética e a tradição judaica vêem a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas?
Laurie Zoloth -
A bioética judaica é focalizada na grande urgência para a cura do sofrimento. Assim, pesquisar o que pode curar as doenças é de profundo interesse. A lei e a tradição judaicas não reconhecem vida nem a equivalência moral de um ser humano num embrião com menos de quatro dias. Os embriões que são feitos em laboratório, e que nunca estarão em um útero materno, podem ser usados para a pesquisa, que visa a conservar a vida humana. A pesquisa com células-tronco embrionárias humanas é um grande avanço para a humanidade, porque destrava enigmas-chave sobre como crescem as células jovens. Considerando que este crescimento e diferenciação seja a base para as doenças humanas, compreender este enigma ajudará a explicar como nós ficamos doentes, e como podemos encontrar curas. A pesquisa com células-tronco é fundamental para o avanço da medicina.

IHU On-Line - Quais são os limites morais e éticos que devem existir nos avanços científicos relacionados à pesquisa com células-tronco? Como saber até onde podemos ir e qual deve ser a hora de parar?
Laurie Zoloth -
Nós não podemos obrigar as mulheres a doar seus óvulos para a pesquisa nem criar tecnologias injustas que ficarão somente disponíveis aos ricos. Nós devemos respeitar as opiniões dos povos que não permitem a pesquisa devido a suas objeções religiosas e encontrar uma maneira de prosseguir com a ciência até quando nós mesmos, às vezes, discordamos. Os limites não estão no que queremos saber, e sim em para o que nós podemos usar nosso conhecimento.

IHU On-Line - Para a cultura e a bioética judaica, onde começa a vida humana?
Laurie Zoloth -
A vida humana se desvela lentamente, uma célula de cada vez, e o embrião cresce e se torna uma criança que nasce em nosso mundo. Assim como a chegada do inverno, ou a chegada da noite, os limites biológicos não são os legais - nós impomos nossas linhas legais sobre deles. Uma criança humana entra em nosso mundo como um ser humano quando ela pode viver fora do corpo da sua mãe, portanto no dia do seu nascimento.

IHU On-Line - Em que sentido essa concepção implica nas pesquisas utilizando embriões humanos?
Laurie Zoloth -
Isto significa que os embriões que nunca estarão dentro do corpo de uma mulher têm um status diferente daqueles em uma gestação normal. A pesquisa é permitida utilizando embriões jovens.
 
IHU On-Line - Qual é a contribuição das pesquisas sobre células-tronco para o debate em torno da questão do aborto?
Laurie Zoloth -
Nós não devemos misturar esses assuntos. O aborto é um debate sobre a interrupção de uma gravidez, sobre quem tem o dever moral para decidir isto, e em que ponto o Estado tem algo a dizer. A pesquisa em relação às células-tronco é sobre os embriões jovens, sendo que 90% deles são expelidos normalmente pelo corpo humano nesse estágio inicial, se estiverem no corpo de uma mulher. Nenhuns destes jovens embriões serão usados para uma gravidez, mas simplesmente congelados até à morte se não forem usados na pesquisa.

IHU On-Line - Qual sua opinião sobre o uso da clonagem para a reprodução humana?
Laurie Zoloth -
Isto deve nunca ser feito.

IHU On-Line - A pesquisa científica com células-tronco promove a justiça social?
Laurie Zoloth -
Sim, porque, ao contrário dos transplantes de órgãos com elevado aparato técnico, estar a ponto de criar facilmente tecidos de células-tronco e diretamente dos pacientes permitiria que as terapias de cura estivessem extensamente disponíveis.

IHU On-Line - Existe democracia na tomada de decisões durante os experimentos?
Laurie Zoloth -
Sim, porque cada país está sendo incitado pela comunidade científica internacional para criar comitês públicos, para rever e supervisionar o trabalho.

IHU On-Line - Podemos esperar que haja igualdade de direitos no acesso a futuros benefícios que essas descobertas podem trazer?
Laurie Zoloth -
Sim, porque quanto mais estivermos envolvidos nos debates, como as entrevistas mostram, mais o público sente uma parte do esforço da pesquisa. As doenças não conhecem nenhum limite, e as curas tampouco devem conhecer.

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