Edição 246 | 03 Dezembro 2007

Editorial

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

IHU Online

Células-tronco embrionárias: algumas ponderações éticas e científicas

Neste mês de dezembro, o STF deverá julgar a ação direta de inconstitucionalidade que barra a pesquisa com células-tronco embrionárias autorizada pela nova Lei de Biossegurança. Uma discussão científica e ética está em curso. Na busca incansável pela cura de doenças degenerativas e com o intuito de prolongar a vida humana, membros da comunidade cientifica defendem o uso de células-tronco embrionárias para pesquisas. Em contrapartida, surge o questionamento: é ético utilizar-se de embriões para tal atividade? Esse tema polêmico está em debate nas páginas da IHU On-Line, desta semana. 

Para Lluís Montoliu, pesquisador científico do Departamento de Biologia Molecular e Celular do Centro Nacional de Biotecnologia, com sede em Madrid, na Espanha, o principal desafio ético dessas pesquisas, consiste no debate “sobre o status, a condição que se atribui a um embrião em seus estágios pré-implantatórios”. No entanto, para o subprocurador geral da República Cláudio Fonteles, a resposta é irretorquível:  “a vida é inviolável”. Fundamentado na Constituição de 1988, Fonteles é contrário à utilização de embriões para pesquisa e afirma que o estado deve “garantir a dignidade da pessoa humana”. Do mesmo pensamento compartilha Francesco D’Agostino, professor de Filosofia do Direito e de Teoria Geral do Direito, na Facoltà di Giurisprudenza da Universidade de Roma. Para ele, a humanidade precisa superar suas diferenças extrínsecas e perceber que todos compartilham “dos mesmos princípios morais”. Favorável aos avanços da ciência, ele contesta a utilização de embriões nos estudos e comenta que “nem todos os métodos que os cientistas usam são eticamente aceitáveis”. Já para Volnei Garrafa, professor da UnB, o embrião não pode ser considerada como uma pessoa. Segundo ele, “a ciência tem se mostrado impotente para definir sob o prisma acadêmico quando se dá o início da vida humana, quando um embrião passa a ser pessoa. Jamais chegaremos a um consenso, seja biomédico, seja religioso, seja moral”.

Laurie Zoloth, pesquisadora judia e diretora do Centro de Bioética, Ciência e Sociedade da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, é favorável ao uso de embriões nas pesquisas, e argumenta que não deve haver limites na ciência. “A pesquisa com células-tronco embrionárias humanas é um grande avanço para a humanidade, porque destrava enigmas-chave sobre como crescem as células jovens”, considera. A idéia de Zoloth é compartilhada pelo pesquisador José Garcia Abreu Júnior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, embora a reprogramação celular avance, os estudos com embriões ainda são indispensáveis como fonte comparativa de células-tronco somáticas. Nesse sentido, salienta, “as pesquisas são desenvolvidas com o objetivo final de preservar a vida ou melhorar a qualidade dela”. Considerações parecidas são feitas por James Edgar Till, Ph.D. em Biomedicina, pela Universidade de Yale. O pesquisador defende que embriões excedentes devem ser doados e utilizados “para pesquisas que poderiam conduzir às novas terapias médicas”. Karen Lebacqz, ex-professora de Ética Teológica, da Pacific School of Religion, em Berkeley, Califórnia, afirma que é possível realizar pesquisas com células-tronco embrionárias, de tal maneira que se respeite o embrião. Ela argumenta, que o destino do embrião muda em pesquisa com células estaminais. “Ele não dará vida ao embrião como uma criança, mas ele trará a possibilidade de uma vida estendida na forma de uma linha de células estaminais.”

Tatiana Midori, física, fala da possibilidade da incorporação pelas células das nanopartículas de óxidos de ferro. “Assim, com a injeção em seres vivos de células-tronco marcadas com as nanopartículas, é possível acompanhar o seu percurso de modo não-invasivo.” 

André Dick comenta o livro Vira e mexe, nacionalismo: paradoxos do nacionalismo literário, de Leyla Perrone-Moisés, O poema desta edição é do professor Benno Dischinger. Parceiro do IHU, ele é também o destaque do IHU Repórter desta semana.

A todas e todos uma ótima leitura e uma excelente semana!

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição